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“Não adianta se estapear pelo apoio de Ratinho Junior”, diz Edson Lau

Depois de 12 anos, PSDB pretende voltar ao comando da prefeitura de Curitiba e vai apresentar 45 propostas durante a pré-campanha da eleição de novembro

O pré-candidato do PSDB a prefeitura de Curitiba, Edson Lau, disse que não adianta pré-candidatos ficarem se estapeando pelo apoio do governador Ratinho Junior (PSD) e do presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) enquanto não apresentarem as propostas para uma cidade pós-pandemia.

 

“As pessoas estão sofridas por conta da pandemia e suas consequências, eu prefiro nesse meio tempo estudar um diagnóstico preciso e apresentar ideias que reflitam a esperança que todos precisam”, diz Edson Lau nesta entrevista exclusiva.

“Devo admitir que alguns (outros pré-candidatos) são mais conhecidos que eu, têm máquinas e milhões ao seu dispor, mas não me preocupo, pois como disse antes, sei que o eleitor curitibano vai procurar o melhor candidato e, sem falsa modéstia, sei que posso representar esse papel. Eles estão por aí se estapeando pelo apoio do governador Ratinho Júnior, passando pano para o presidente Bolsonaro, e/ou batendo gratuitamente na atual gestão”, completa.

 

Por que decidiu se colocar à disposição do PSDB para ser o candidato a prefeito? Quais seriam suas principais bandeiras e propostas?

Ninguém toma uma decisão dessa sozinho, o PSDB teve duras respostas das urnas na eleição de 2018, por várias razões. Precisamos reconectar o partido com a população. Com esta avaliação fui “provocado” por lideranças importantes e pela militância do partido, cito em especial o líder do PSDB na Assembleia, deputado Michele Caputo, avaliamos que no momento de polarização política que vivemos é importante para marcar uma posição firme e sóbria. O PSDB nasceu em 88, num momento ímpar da nossa história, como o partido da esperança, vamos resgatar esse sentimento.

Sobre as bandeiras é importante falar que Curitiba, apesar de ter tido relativo êxito no século XX, entrou na segunda década do século XXI com o pensamento do passado e corremos o risco de ficar para trás. Somos uma cidade muito desigual. Até a convenção, o PSDB de Curitiba vai apresentar 45 ideias para a Curitiba do futuro, estão divididas em 5 eixos: modernização administrativa, atendimento humanizado ao cidadão, ações pós-covid, educação e iniciativas de impacto, algumas delas já estão em nossas redes sociais e site. Todos os dias lançamos algo relacionado às discussões que fazemos internamente no partido.

Será sua primeira experiência como candidato e já vai direto para o executivo, não teme o fato de não ter sido “testado” pelas urnas antes de uma candidatura do porte de prefeito de Curitiba?

De forma alguma. O governador de São Paulo, João Dória, em sua primeira experiência com as urnas também foi numa candidatura majoritária, no caso a prefeitura de São Paulo. Ele se saiu tão bem que logo foi alçado ao governo do maior estado do Brasil. Cássio Tanigushi também não tinha sido “testado” antes e venceu a eleição aqui em Curitiba. Conheço a máquina pública por dentro, sei seus entraves, desafios e virtudes, além disso, como pré-candidato não devo nada aos outros, estou pronto para o debate com qualquer um e, depois disso, gerir a cidade com responsabilidade e senso de dever histórico.

Muito provavelmente, essa será a eleição com o maior número de candidatos da história de Curitiba, tanto para prefeitura quanto para a câmara municipal. Como o senhor avalia os seus concorrentes e o quadro sucessório da cidade?

Devo admitir que alguns são mais conhecidos que eu, têm máquinas e milhões ao seu dispor, mas não me preocupo, pois como disse antes, sei que o eleitor curitibano vai procurar o melhor candidato e, sem falsa modéstia, sei que posso representar esse papel. Eles estão por aí se estapeando pelo apoio do governador Ratinho Júnior, passando pano para o presidente Bolsonaro, e/ou batendo gratuitamente na atual gestão.

Eu prefiro conversar com as pessoas, sentir suas necessidades, falar sobre ideias e propor algo para o futuro. O povo está cansado dos mesmos com o mesmo papinho, as pessoas estão sofridas por conta da pandemia e suas consequências, eu prefiro nesse meio tempo estudar um diagnóstico preciso e apresentar ideias que reflitam a esperança que todos precisam.

O senhor já foi presidente da juventude do partido, do conselho estadual da juventude, atuou em diversas de esferas de política públicas voltadas para o jovem. Qual o diferencial que uma candidatura jovem traz para o cenário político da capital? Como a sua experiência vai ajudar no diálogo com a juventude, a periferia e se concretizar em políticas públicas?

Estatisticamente o jovem é quem mais sofre com a violência e o desemprego, algo muito distante da realidade dos meus maiores adversários. A história do jovem Matheus no Rio de Janeiro é simbólica: se mata todos os dias no trabalho como entregador de aplicativo, aí, consegue parcelar em oito vezes um relógio para presentear seu pai, ao entrar no shopping é perseguido e sofre violência, que só não foi pior por conta de alguns funcionários e clientes. Existem milhões “Matheuses” nas grandes cidades, o jovem brasileiro sobrevive no “level hard”.

Esses anos todos trabalhando e convivendo com jovens de todo o Brasil pude entender e vivenciar essa tônica, o desafio posto é fazer com que os impostos pagos se tornem políticas públicas efetivas, costumo dizer que se o Estado não chega na periferia com educação e saúde, vai chegar em forma de viatura, precisamos enfrentar essas desigualdades e dar oportunidades iguais para todos.

O PSDB já foi o partido com o maior número de cadeiras no legislativo municipal, e agora já não tem mais essa força, como a sua candidatura pode ajudar na reconstrução do partido?

Como disse anteriormente, precisamos promover o reencontro do PSDB com o eleitor, fincar nossas bandeiras, ter propostas ousadas, dinâmicas e exequíveis, falar abertamente sobre tudo e ter humildade. Temos uma chapa quase toda composta por gente que nunca concorreu antes, mas todos estão alinhados com o discurso e os princípios do partido, qualquer reconstrução não é fácil, mas vamos fazer bonito e colher bons frutos no futuro.

Ainda nesse assunto, já fazem 12 anos que PSDB não disputa a prefeitura de Curitiba encabeçando a chapa, por que agora será diferente?

Estamos num momento político polarizado, não só aqui no Brasil, mas no mundo todo. Nunca a democracia foi tão maltratada e contestada, acho que nossa participação nessa eleição é também uma ode ao processo democrático. Quero que o PSDB de Curitiba seja um instrumento para que possamos arraigar no Brasil um pouco mais do que o ex-presidente FHC chama de “alma democrática”. Além disso, sei que nossas propostas podem contribuir para a promoção de um debate mais elevado em nossa cidade.

Na última eleição, o partido tinha conseguido emplacar a vice na chapa ganhadora de Rafael Greca, porém Eduardo Pimentel trocou o seu partido pelo PSD do governador Ratinho Júnior. Como essa perda influenciou os rumos do PSDB nestas eleições?

A política brasileira é muito marcada pelo personalismo, o PSDB também não está imune à este processo, tanto nacional quanto localmente. Por isso, a saída ou problemas com quaisquer lideranças costumam impactar as legendas. O Eduardo é um grande amigo pessoal, que tem nosso respeito, mas fez uma escolha política que não convergiu com o pensamento do PSDB. A escolha do Eduardo se deu por conta da intransigência do atual prefeito com relação ao PSDB, claro que essas posturas nos colocaram em campos antagônicos nas eleições.

O ex-prefeito e ex-governador Beto Richa, de quem você compôs os governos, foi a principal liderança do partido e quase unanimidade na política paranaense, porém depois de diversas operações de combate a corrupção, ele não conseguiu se eleger senador e muito dos seus ex-aliados buscam se desvincular dele. Como o senhor enxerga esse processo? O legado de Beto Richa deve ser restaurado ou superado?

Acho até engraçado outros políticos tentando se descolar dele, com exceção ao PT e suas adjacências, todos os meus adversários cortejaram ou bajularam o ex-governador Beto Richa, se ficam confortáveis ou não com sua biografia, sorte ou azar deles.

O excesso de personalismo da política brasileira faz com que se discutam mais nomes e menos ideias, eu sou o mais tranquilo com relação a isso, compus seu governo e sou do partido dele sim, isso me dá liberdade para avaliar com honestidade seu legado no campo das ideias: ele deixou de ser prefeito há 10 anos, naturalmente existem ações e ideias que podem ser reproduzidas ou requalificadas, outras não. Por exemplo, acho que temos que voltar com os Contratos de Gestão, uma forma de ter metas claras, objetivas e factíveis, no acompanhamento da execução e resultados das ações da Prefeitura.

A biografia do Edson Lau é minha e estou bem tranquilo com relação a isso. Quem tem problemas com a falta de coerência e o oportunismo do passado que se vire para explicar, é engraçado.

Curitiba muito se orgulha de sua “origem européia”, porém rejeita de certa forma seus traços negros e africanos. Isso está refletido na falta de liderança negras ocupando cargos de destaque como prefeito ou governador do estado. Como a sua candidatura pretende superar essas barreiras?

Será dificílimo! Sou pré-candidato por um partido grande da política brasileira, ainda assim, não tenho o mesmo espaço que alguns dos meus adversários, é difícil não entender esta situação como uma silenciosa forma de racismo estrutural.

Acho que nossa pré-candidatura pode significar muito para mostrar que Curitiba é uma cidade plural e que foi construída por muitos povos. Outro ponto positivo é o que costumo chamar de “espelho”, crianças e jovens negros não se enxergam representados pela política. Como vamos falar em democracia, se estamos no estado mais negro do Brasil e temos apenas 3 vereadores negros em Curitiba, nenhum secretário municipal na capital, apenas um secretário de estado, 3 deputados estaduais e 5% dos magistrados no TJ?

Se eu não falar sobre isso, quem vai falar? Não dá mais para esperar a benevolência da nossa elite, precisamos de ação e estou pronto para agir.

Quais as suas propostas de combate ao racismo, valorização da população negra e periférica de Curitiba, e mudar essa visão de que Curitiba seria uma cidade branca?

A visão que temos que propagar é que Curitiba é uma cidade plural e que dá a todos os seus filhos oportunidades iguais.
Sobre propostas, um dos primeiros passos é garantir a plena execução da lei 10.639/2013 em todos os equipamentos escolares. Educação é fundamental para vencer o racismo estrutural, por isso vamos promover a da requalificação dos servidores da educação e aquisição de material didático. Temos símbolos curitibanos de valorização da nossa cultura e de combate ao racismo, é importante “atravessarmos nossa Selma”.

Outro ponto importante é estrutura nas periferias, pouco antes falei sobre desigualdades e oportunidades iguais para todos, o poder público tem que ajudar retirar as barreiras invisíveis que nossa população tem que enfrentar. Infelizmente, o que acontece é que o estado brasileiro só reforça desigualdades.

Outras duas ideias que sempre falo é ter a qualificação e inserção profissional inteligente, aumentar a renda da população negra pode impulsionar a economia local. Fortalecer a permanência estudantil com atenção para os pontos críticos da evasão é outra ideia, para isso temos que ter uma forte parceria com o Governo do Estado no ensino básico, e com o governo federal e as casas de estudantes no ensino superior.