Criada em 2008, Unasul (União de Nações Sul-Americanas) está em estado agonizante
Organismos supranacionais servem ao propósito de buscar soluções para problemas enfrentados por seus membros, sem se deixar influir por ideologias de governos de turno. A Unasul (União de Nações Sul-Americanas) trilhou caminho oposto desde o nascedouro, o que em larga medida explica seu atual estado agonizante.
Criado em 2008, o bloco não adveio de uma articulação estruturada entre todos os países da região, mas sim de um projeto, encabeçado pelo venezuelano Hugo Chávez, de se contrapor à OEA (Organização dos Estados Americanos) e, mais diretamente, aos Estados Unidos.
Recorde-se que estava em curso o auge dos regimes ditos bolivarianos, apoiados à época por Brasil e Argentina, nas figuras dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Cristina Kirchner.
O enviesamento inato da Unasul se faria notar em vários momentos de crise do subcontinente, em especial na omissão quanto a investidas dos líderes amigos contra a oposição ou a imprensa —isso quando não se endossavam as medidas autoritárias.
Não surpreende, pois, que o órgão tenha fracassado em seu papel de mediador de contendas regionais, dada sua parcialidade. Com a mudança dos ventos políticos e o decorrente declínio do arco bolivariano, era previsível que rumasse para a irrelevância.
Em abril, metade dos países-membros, entre eles o Brasil, já havia suspendido sua participação devido a um impasse de mais de um ano com a Venezuela sobre a escolha de um novo secretário-geral.
Na última terça (31), o chefe de gabinete, que presidia o bloco em caráter interino, renunciou, acusado por colegas de assédio sexual e moral e de mau uso de recursos.
Reportagem desta Folha expôs com crueza o abandono da instituição. Sem comando, só com 2 de 5 diretores, funciona com menos de um quarto do orçamento previsto para cobrir seus custos. O número de empregados caiu de 48 para 27 —estes, invariavelmente ociosos, passam o tempo na internet.
Há risco até de se perder a sede, em Quito, doada pelo então presidente Rafael Corrêa. O novo mandatário equatoriano, Lenín Moreno, antes afilhado e hoje desafeto de Corrêa, quer o prédio de volta.
É saudável que a América do Sul disponha de um organismo para lidar com questões transnacionais mais específicas, sem prejuízo de instâncias como a OEA.
Urge, portanto, reformar a Unasul ou mesmo extingui-la para que surja um ente de fato representativo da região. O clube chavista de outrora não tem mais razão de existir.
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