Novas revelações bombásticas da excelente entrevista que Evandro Fadel fez com José Eduardo Andrade Vieira, ex-dono do Bamerindus, publicada hoje no Estadão. “A intervenção foi mais política. Mostra quem eram Fernando Henrique e Pedro Malan”, disse Andrade Vieira que apontou FCH como “traidor”.
“O interventor nomeado pelo BC vendeu aquele patrimônio enorme por US$ 8 milhões, sendo que empresa tinha em caixa mais de US$ 100 milhões. Foi uma dilapidação de meu patrimônio. Na vontade de mostrar a falência do grupo, jogaram fora os imóveis do Bamerindus, as agências foram vendidas para o HSBC pelo valor patrimonial. Eram 1,5 mil agências, vendidas a preço de banana. E ainda assim sobra dinheiro”.
Leia a seguir a íntegra da entrevista.
‘Venderam o Bamerindus a preço de banana’
Evandro Fadel
Estadão
Passados 15 anos da intervenção no Banco Bamerindus, ocorrida em 27 de março de 1997, o ex-controlador José Eduardo de Andrade Vieira, 73 anos, ainda não superou as mágoas, sobretudo contra o ex-presidente FHC e o ex-ministro Pedro Malan. Nos dias que se seguiram à intervenção, a artilharia do ex-banqueiro já tinha se voltado contra eles. As armas continuam fumegando até agora. Vieira considera-se traído por aqueles que tinham sido seus companheiros – ele foi ministro da Agricultura no governo FHC.
Na quarta-feira, o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) assinou acordo com o Ministério Público do Paraná (MP-PR) comprometendo-se a pagar todos os credores da massa falida. Com isso, o MP-PR deve pedir a extinção de ação de responsabilidade que mantinha indisponíveis os bens dos ex-administradores do Bamerindus, incluindo os de Vieira. Ao mesmo tempo, o FGC acentuou que prepara o banco para a venda no mercado. Para o antigo dono, esse é o aspecto mais positivo. “É a comprovação de que o Bamerindus não estava falido, porque, se tivesse, ninguém iria comprar”, afirmou.
Ex-senador, Vieira interrompeu a carreira política após a intervenção no banco e passou a administrar o jornal Folha de Londrina, do qual era sócio. Atualmente, duas filhas estão no dia a dia do jornal. Ele disse que raramente vai à sede em Londrina. Prefere ficar na Fazenda da Capela, em Joaquim Távora, distante 160 quilômetros, para supervisionar a criação de gado leiteiro e de corte, e a produção de milho. Da fazenda, ele conversou por telefone com o Estado:
O que significa para o sr. o fim da ação que tornava indisponíveis os bens dos ex-administradores e ex-controladores do Bamerindus, a garantia de pagamento dos últimos credores e a preparação do banco para venda, após 15 anos de intervenção?
Para mim, o principal aspecto é a comprovação de que o Bamerindus não estava falido, porque, se tivesse, ninguém iria comprar. É uma comprovação pública de que o banco sempre tinha saldo positivo. Ninguém iria comprar para ter prejuízo.
Então, por que a intervenção?
A intervenção foi mais política. Mostra quem eram Fernando Henrique e Pedro Malan. Não preciso falar nada.
O sr. continua com mágoa?
O interventor nomeado pelo BC vendeu aquele patrimônio enorme por US$ 8 milhões, sendo que empresa tinha em caixa mais de US$ 100 milhões. Foi uma dilapidação de meu patrimônio. Na vontade de mostrar a falência do grupo, jogaram fora os imóveis do Bamerindus, as agências foram vendidas para o HSBC pelo valor patrimonial. Eram 1,5 mil agências, vendidas a preço de banana. E ainda assim sobra dinheiro.
O que representaram os 15 anos de intervenção?
Não deixou de ser frustrante a gente ser traído por companheiros. Porque na realidade é isso, foi uma traição que eu sofri.
Quem foi o traidor?
O Fernando Henrique.
O senhor esperava mais dele?
Esperava. O banco estava em boas condições e tinha muito dinheiro para receber do Estado de Mato Grosso. O Pedro Malan segurou isso na gaveta por meses até decretar a intervenção no banco e, no dia seguinte, pagaram o Mato Grosso, que pagou o banco. Já nas mãos do HSBC. Por que comigo não andou para frente e, com outro, em 24 horas resolveram?
O sr. teria vontade de se encontrar hoje com o Fernando Henrique Cardoso e o Pedro Malan para conversar sobre o assunto e esclarecer as questões?
Não. Não tenho vontade nenhuma, não. Eles podem cuidar da vida deles.
O sr. pensa em entrar com alguma ação para reparação de danos?
Morreu, morreu, né?
Que sensação o sr. teve no dia 27 de março de 1997?
De frustração enorme. Como demorou muito e o Fernando Henrique não fazia nada, eu honestamente já estava desconfiado bastante de que o pior podia acontecer. Quando houve a intervenção foi uma confirmação do que eu já imaginava.
Qual o sentimento que lhe vem quando vê que os clientes, acionistas minoritários e agora os administradores fizeram seus acordos?
De alívio. Porque muita gente inocente foi sacrificada por uma questão política. O Paraná perdeu muito, perdeu os dois bancos que tinha, o Banco do Estado (Banestado) e o Bamerindus. Infelizmente a classe política do Paraná não reagiu como deveria ter reagido. Realmente foi uma perda não para mim, foi para o Estado, foi para o Brasil. Porque venderam para um banco lá fora que só fez besteira até hoje.
Que besteira?
Besteira no sentido de que o banco encolheu, o banco não cresceu. Já mandaram milhões lá para fora, mas a empresa diminuiu de tamanho. (O Bamerindus) era o segundo banco do Brasil. Em câmbio era maior que o Banco do Brasil. E hoje está lá, sei lá em que lugar no ranking. Perdeu muito, né?
O sr. chegou a ser cogitado para disputar o governo do Paraná. De que forma a intervenção influenciou na carreira política?
Até para presidente da República eu cheguei a ser cogitado. É por isso que o Fernando Henrique fez a intervenção. Por medo de eu concorrer com ele. Com a intervenção no banco, obviamente afetou minha credibilidade e eu fiquei sem recursos para qualquer coisa.
Estava tudo indisponível?
Se eu não tivesse a aposentadoria, eu ia passar fome. Eu tinha uma previdência privada.
Se o sr. tivesse condições, iria adquirir o Bamerindus na venda que será feita pelo Fundo Garantidor de Crédito?
Não. Não tenho nem idade para isso. Capacidade eu tenho. Já fiz mais de uma vez e poderia repetir. Mas não tenho vontade.
Da forma que o Bamerindus está hoje…
As notícias que foram publicadas é que o Bamerindus teria R$ 3 bilhões de créditos fiscais. Ele tem mais de R$ 6 bilhões. Sei lá por que falaram em R$ 3 bilhões.
A estimativa é de que o banco possa ser vendido por um valor entre R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões. É um preço justo?
Hoje seria, porque o crédito fiscal não pode ser usado inteiramente num exercício. Vai precisar de vários exercícios. Mas aí depende do mercado, se há um interessado ou muitos.
Foi o banco da minha vida, como funcionário protegir o maximo que podia, pois ele sabia previlegiar funcionários antigos, nós eramos prata da casa, no HSBC fui demitido, depois de quase 25 anos prestado sem justa causa, sem dar prejuizo, sem maltratar funcionários, metas batidas, nota de avaliação boa(3) auditoria boa , é isso faz parte do negócios. SÓ QUE ACREDITEI DEMAIS.