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Wilson Picler quer ser “terceira via” para Prefeitura de Curitiba

Wilson Picler quer ser “terceira via” para Prefeitura de Curitiba
Pré-candidato a prefeito de Curitiba, empresário traz para a gestão pública a experiência de comandar um dos maiores conglomerados educacionais do País

Bem Paraná

Natural de Guaíra (Oeste do Paraná), mudou-se com a família para Maringá com dois anos de idade e aos 16 chegou a Curitiba para estudar no Cefet, onde se formou técnico em eletrônica. Em 1996, depois de se graduar em Física pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e interromper uma pós-graduação na Unicamp, ousou lançar-se no mundo dos negócios, fundando o Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão (IBPEX), que provocou uma revolução no ensino superior brasileiro, ao lançar um inédito e bem-sucedido programa de qualificação de professores para a educação básica.

Hoje, comanda um conglomerado educacional liderado pelo Centro Universitário Uninter – que reúne 8 empresas com mais de 150 mil alunos, está presente em mais de 440 cidades de todos os estados, além de uma editora cujo acervo já chega a 500 títulos impressos e 90 mil obras digitais.

Com a inquietação de quem, desde os bancos escolares, sentia a necessidade de participar pessoalmente na luta por um projeto de desenvolvimento para o País, disputou pela primeira vez um cargo eletivo em 2006, obtendo 36,8 mil votos para deputado federal, assumindo o mandato como titular em 2009, na vaga de Barbosa Neto (PDT), eleito prefeito de Londrina. Em 2012, foi um dos principais articuladores da candidatura vitoriosa de Gustavo Fruet à prefeitura de Curitiba.

Hoje, filiado ao Partido Ecológico Nacional (PEN), Picler encara um novo desafio — colocar a sua vasta experiência administrativa a serviço do cidadão de Curitiba. Como pré-candidato a prefeito da Capital, ele enxerga na crescente rejeição do eleitorado à polarização PSDB-PT, que paralisa o País, uma oportunidade para colocar-se como uma “terceira via” capaz de resgatar ideais e aglutinar novas lideranças em torno de um projeto consistente de gestão.

Bem Paraná – O senhor foi filiado ao PDT por mais de vinte anos. Por que deixou o partido para se filiar ao PEN?
Wilson Picler – Eu era presidente do Diretório Municipal do PDT de Curitiba e, desde 2008, havia a perspectiva de me lançar candidato a prefeito. Mas, em 2011, achamos melhor articular a candidatura do Gustavo Fruet, convidá-lo ao partido, passar a presidência para ele e dar a garantia da candidatura. Isso tudo aconteceu e o Gustavo ganhou a eleição, então eu entreguei os cargos todos no partido e entendi que a minha missão estava cumprida. O Gustavo assumiu a presidência (municipal) e eu tinha a aspiração de assumir a presidência (do diretório) estadual. Mas isso acabou não se concretizando, por problemas internos e divergências. Eles optaram pelo Haroldo Ferreira. Eu me retirei desse contexto e fui cuidar — em 2013, 2014 — exclusivamente das minhas empresas.

Bem Paraná – Nesse período de retiro, o que o senhor fez?
Picler – Cheguei a ir a Brasília, mudei meu domicílio eleitoral para lá, onde trabalhei e aprendi um pouco mais com o senador Cristóvam Buarque (PDT/DF). Até cheguei a esboçar uma carreira em Brasília. Mas vi que a viabilidade maior era lançar o Cristóvam para Presidente da República. Então resolvi voltar a Curitiba, com o convite de assumir e estruturar o PEN (Partido Ecológico Nacional) aqui no Estado. Era um sonho que eu tinha há muito tempo, ser presidente de um partido, ter um nível de decisão maior nos destinos políticos do grupo, ser um líder partidário. E este sonho se aliou a outro, que é trabalhar pela causa ecológica.

Bem Paraná – Hoje a classe política é muito mal vista pela opinião pública. Por que um empresário respeitado se dispõe a arriscar sua reputação para entrar nessa atividade?
Wilson Picler – Quando eu era estudante do segundo grau, concorri às eleições para o diretório duas vezes. A política já vem de menino, antes mesmo de ser empresário. Com o sucesso administrativo, as empresas começam um ciclo em que o idealizador precisa abrir espaço para uma administração profissional. O próprio Bill Gates fez isso. Ele sentiu o momento em que tinha que passar a bola e ser só acionista. Então. nós chegamos a este momento no grupo Uninter, de estabelecer a chamada ‘governança corporativa’, uma forma impessoal de se administrar por meio de um colegiado composto por conselheiros indicados pelos acionistas. Estamos nos preparando para abrir o capital na Bolsa de Valores. Como terei mais tempo livre penso em me dedicar ao social por meio da política. Eu considero que tenho condições de ser aquilo que o povo está procurando que é o político honesto, competente e, sobretudo, independente.

Bem Paraná – O senhor acha que a crise que atinge os políticos e partidos tradicionais abre espaço para novas lideranças?
Picler – Com certeza. Hoje o nível de rejeição aos políticos tradicionais está altíssimo. O PEN aqui no Paraná e no Brasil se posiciona como terceira via. Não estamos atrelados aos ‘azuis’ e nem aos ‘vermelhos’. Nós temos que repensar o Brasil.

Bem Paraná – Como viabilizar uma candidatura competitiva em um partido novo e ainda pequeno?
Picler – Nós já estamos montando uma chapa de vereadores, oferecendo excelentes oportunidades para os novos candidatos, que disputam em condições de igualdade com os seus colegas. Não temos ninguém no partido com mandato, porque nesse sistema proporcional utilizam os novatos para eleger as ‘raposas’. Nosso partido não tem ‘raposas’.

Bem Paraná – O senhor foi um dos artífices da candidatura do Fruet à prefeitura. Como o senhor avalia a gestão dele?
Wilson Picler – Veja bem, não sou eu que avalio. É o povo. As pesquisas apontam um nível de insatisfação alto. Mas, uma vez que eu sou pré-candidato, é mais ético não criticar o adversário. Deixo para o povo fazer essa avaliação.

Bem Paraná – As críticas mais recorrentes à gestão Fruet apontam que a administração do prefeito tem dificuldade ou demora para tomar decisões e “terceiriza” responsabilidades. O senhor concorda?
Picler – Eu concordo. Me parece que isso faz parte da personalidade do prefeito. Desde a época em que fizemos o convite para ele vir para o partido, essa característica estava evidente.

Bem Paraná – Porque o senhor acha que poderia ser um bom prefeito para Curitiba?
Picler – Eu não herdei carreira nem fortuna de meus pais. Tive que me fazer com minha própria capacidade. Fui forjado ao fogo da competitividade. Meu diferencial foi a inovação. Eu tenho mais de vinte anos de experiência empresarial. E acho que devo investir esse conhecimento acumulado em benefício da cidade que me acolheu.

Bem Paraná – No que essa experiência como empresário pode ser útil na administração pública?
Picler – Ninguém nasce empresário e, sim, se torna empresário. A nossa empresa hoje está em todo o Brasil. Saiu do nada, de um canto de mesa. Em 93, me emprestaram metade de uma mesa para eu começar. Hoje estamos em 440 cidades. O grupo está auditado desde 2010 pela Price Whiterhouse e nossos balanços aprovados sem restrições. E isso prova a qualidade de nossa administração. Acho que a Administração Pública em linhas gerais segue os mesmos princípios que são observância legal, gestão participativa, priorização de investimentos, austeridade nos gastos e inovação.

Bem Paraná – O que o senhor diria para quem está descrente com a política. Por que o senhor pode oferecer algo diferente do que está aí?
Picler – A grande crise que vem da política é a da corrupção. O povo tem que escolher um político probo, que tenha formação de caráter para impor austeridade. Porque o que estamos vendo é que o discurso é um e a prática é outra. A isenção na política deve começar na forma de financiamento. Quando um prefeito pega recursos do transporte coletivo ou coleta de lixo em caixa dois, perde a autoridade sobre esses serviços. Não consegue evitar uma situação de refém. O cara que pega dinheiro compromete toda a sua gestão.

Bem Paraná – Os governos e políticos sempre colocam a educação como prioridade, mas hoje há uma crise no setor, com greves em vários estados e corte de verbas. Como empresário da área, qual sua receita para superar esse cenário?
Wilson Picler – A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 96 introduziu um artigo que permite a empresas e investidores com interesse comercial atuar na educação superior. Antes não podiam, somente associações e fundações sem fins lucrativos. Antes dessa lei, tínhamos só 4,5% de jovens de 18 a 24 anos no ensino superior. Na Argentina e Chile superavam os 30%. Nos países desenvolvidos, quase 50%. Com a possibilidade de empresários investirem, atraiu-se capital privado para a educação. Houve uma explosão de oferta de faculdades no Brasil todo. Com isso, o Brasil atingiu 9% de jovens na educação superior ao término do mandato do Fernando Henrique Cardoso (2002). Quando o Lula assumiu (2003), já tinha oferta ociosa. Estavam sobrando vagas. Já pensou se o governo tivesse que fazer isso tudo com dinheiro próprio? Não tinha dinheiro para isso. Ficaríamos no atraso. Houve, então, a criação do ProUni – Programa Universidade para Todos, que concede Bolsas de Estudo para alunos de baixa renda, do qual eu participei ativamente da discussão – hoje o programa já formou mais de um milhão de pessoas e tem mais um milhão estudando com bolsas de estudos. Com o PROUNI e com a continuidade na política de expansão da oferta pública e privada, o Brasil atingiu aproximadamente 12% dos jovens com educação superior. Aí criou-se o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) que elevou este percentual para 18% dos jovens na educação superior. Atualmente o Governo Federal está promovendo um ajuste na quantidade de FIES para adaptá-lo a nova realidade

Bem Paraná – Como superar isso para continuar avançando?
Picler – O problema é a falência da educação básica. O Senador Cristóvam Buarque tem uma proposta de federalização da educação básica, com um padrão de qualidade para todo o Brasil. Diferente de nossa realidade em que cada prefeito e cada governador tem uma cabeça, trata a educação da sua própria maneira. Com o Ideb (Índice da Educação Básica) estamos aferindo progressivamente uma melhoria, mas ainda estamos muito atrasados em relação aos países desenvolvidos.

Bem Paraná – E como entra a progressão continuada nessa questão?
Picler – É um problema da educação básica. Inventaram essa história de não reprovarem as crianças. Com isso, ninguém se preocupa com nada. Quando a gente era aluno tinha um medo danado da reprovação. Tinha toda uma cobrança da família. Hoje não reprovam mais ninguém. E as professoras reclamam de encontrar alunos na 5ª série que não estão adequadamente alfabetizados. Enquanto a Ásia puxa de forma quase que psicótica o nível de desempenho das crianças, o Brasil acha que é a Disneylândia. Está muito frouxa. Nós temos que cobrar um empenho maior das crianças para elas se acostumarem com raciocínios complexos quando estão se desenvolvendo, com o cérebro e a personalidade em formação. Para criar uma base capaz de formar cientistas. Isso explica porque não temos nenhum prêmio Nobel no Brasil. Nossa educação de base é muito fraca. Se nós investirmos mais em educação básica, vamos criar as condições para um Brasil desenvolvido. Nesse nível em que estamos só vamos empurrar com a barriga e continuar na mediocridade.

Bem Paraná – Na sua avaliação, até que ponto a corrupção tem a ver com esse atraso no desenvolvimento do País?
Picler – Estamos perdendo espaço no mercado internacional, por falta de competitividade em decorrência do custo Brasil, agravado por políticas equivocadas e pela corrupção. Nossas obras de infraestrutura são frágeis, mal construídas, mal dimensionadas, para acomodar a rapinagem, nada comparável com as estradas e portos dos países desenvolvidos.

Bem Paraná – Curitiba vive hoje uma crise no transporte coletivo. Como resolver isso?
Wilson Picler – Um dia, Curitiba vai ter que ter metrô. Precisamos ver o grau de endividamento da prefeitura, do Estado, para ver se comporta esse investimento agora. Não sei se o Brasil sustentará nos próximos anos grandes investimentos. Tendo condições de fazer, eu farei o metrô.

Bem Paraná – O senhor acha que Curitiba ainda pode ser chamada de capital ecológica, ou a cidade perdeu esse status?
Picler – Eu acho que ainda não perdeu esse status. Nós temos muitos parques. Mas tem muito serviço para se fazer na recuperação de rios, nascentes. Temos que seguir o exemplo de Nova York com as nascentes, cuidando da fonte de nossa água. Eu gostaria de aprofundar um projeto nesses moldes. Nova York comprou, cercou, tratou as áreas de nascentes e matas ciliares.

Bem Paraná – Como o senhor vê a greve dos professores do Paraná e a forma como o governo Beto Richa tem tratado isso?
Picler – Eu quero em primeiro lugar manifestar a minha solidariedade aos professores. No Japão, o único profissional para o qual que o imperador se curva e reverencia é o professor. Aqui nós tratamos a cacetete e bomba. Nunca poderiam ter chegado ao ponto de querer votar uma lei com a bancada em um camburão, na marra, com a polícia cercando lá fora. Falhou o diálogo, falhou a gestão.

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