Comentários do post “Wikileaks divulga carta sobre corrupção no governo Lula”, matéria do Estadão
Por Andre Borges Lopes, no Blog do Nassif:
Nassif, usando a velha terminologia tipográfica, o texto da embaixada tem 8057 toques. O Estadão garimpou até achar o que lhe interessava. Ignorou quase todo o resto e fez o resumo do conteúdo com base nessa frase, de 77 toques:
Persistent and widespread corruption affects all three branches of government. Ao pé da letra: Corrupção persistente e generalizada afeta (ou atinge) todos os três poderes do governo.
Na sua “tradução”, o Estadão arranjou um jeitinho de colocar a expressão “governo Lula” na boca da diplomacia americana, para que o resultado ficasse assim:
A diplomacia americana considera que a corrupção durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva era “generalizada e persistente” e atingia todos os Três Poderes.
Na manchete, adiciona-se um pouco mais de veneno: há uma sutil substituição de “corrupção durante o governo” por “corrupção no governo Lula” e uma troca do neutro “considera” para uma ilação negativa de “mostra preocupação”. O resultado fica assim:
Carta de embaixador dos EUA mostra preocupação com corrupção no governo Lula
Curiosamente, na própria carta diplomática, o nome de Lula só aparece uma única vez, e dentro da seguinte frase:
While continuing to pursue stability among Brazil’s ten South American neighbors, President Luiz Inacio Lula da Silva and Foreign Minister Celso Amorim have spent seven years aggressively reaching out to Africa, the Middle East, and Asia, as well as taking a prominent role in global trade, climate change, nuclear non-proliferation, and economic discussions.
Em tradução livre: “Ao mesmo tempo em que continuam a incentivar a estabilidade entre os dez vizinhos sul americanos do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler Celso Amorim passaram os últimos sete anos atuando de forma agressiva em direção a África, Oriente Médio e Ásia, bem como tendo um papel de destaque no comércio mundial, nas alterações climáticas, na não-proliferação nuclear, e nas discussões econômicas.”
Por motivos mais que óbvios, tal frase foi solenemente ignorada pelo jornal.
Essa matéria do Estadão merece ser emoldurada e pendurada ao lado do telegrama original na galeria dos “Anais do PIG”. É uma verdadeira aula de como funcionam os jornalões tupiniquins.
Deixe um comentário