Lúcio Flávio Moura
Folha de Londrina
A Itaipu Binacional, empresa que administra a maior hidrelétrica do mundo em produção de energia, tem um grande desafio para 2013: atender um pedido da presidente Dilma Rousseff e desenvolver o primeiro Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) elétrico com tecnologia brasileira.
A encomenda, sem prazo para ser entregue, foi motivada pela provável demanda por novos formatos de mobilidade urbana ainda para esta década. A presidente teria alertado para o fato que em caso de uma concorrência pública para implantar este tipo de veículo em alguma cidade brasileira, nenhuma empresa brasileira poderia concorrer.
O coordenador de pesquisa e desenvolvimento do Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Montagem de Veículos Movidos a Eletricidade (CPDM-VE), o engenheiro Márcio Massakiti Kubo, afirma que o veículo elétrico será capaz de transportar usuários em área urbana ou ligar duas cidades. “A presidente já declarou várias vezes que quer um modelo com diferentes soluções de mobilidade. Nosso desafio é oferecer uma alternativa econômica e eficiente”, afirmou.
O projeto está em fase de discussão. Itaipu busca parceiros internacionais para a empreitada. Entretanto, a primeira empresa a assinar um termo de cooperação foi uma brasileira, a cearense Bom Sinal, fornecedora do único serviço do gênero em funcionamento do País, o Metrô do Cariri, sistema que une as cidades de Juazeiro do Norte e Crato, no Ceará.
A Bom Sinal produz modelos a diesel. A tarefa da CPDM-VE é transformar os modelos da empresa cearense em veículos movidos a eletricidade, mais barato e de melhor performance. Para permitir o início da primeira fase do experimento, um mock-up (protótipo em tamanho natural) foi transportado de Barbalha (CE) a Foz do Iguaçu (Oeste), numa viagem de mais de 3 mil quilômetros, que durou duas semanas. Uma carreta rebaixada transportou o veículo de 10 toneladas (o mock-up é uma versão compacta, que inclui apenas a parte do veículo que contém o sistema de tração).
A primeira fase do projeto consiste em desenvolver um sistema com um motor elétrico em cada uma das rodas, cujos movimentos serão sincronizados por computador. O engenheiro Celso Novais, coordenador do Projeto Veículo Elétrico (que já produziu cerca de 70 protótipos elétricos nas formas de carro de passeio, caminhão ou ônibus), declarou que a fase deve ser encerrada apenas em meados do ano que vem. Novais calcula que todo o projeto seja concluído no início de 2016.
A segunda fase do projeto é adaptar o VLT a um sistema sem catenárias, cabeamento semelhante ao usado em trólebus. A grande vantagem do VLT sem cabos é o custo de implantação, que cairia para um terço do valor gasto com os trilhos cabeados. A conquista perseguida por Itaipu é fazer o veículo circular usando baterias de sódio, mais adaptado ao clima tropical do que as similares de lítio. Nesta configuração, as composições seriam reabastecidas de energia a cada estação.
A busca por parcerias com outras grandes empresas é quase um pressuposto para que o projeto decole de fato, advertem os envolvidos na iniciativa. “É uma cooperação com regras claras, onde Itaipu e o parceiro dividem todos os riscos e compartilham todos os benefícios”, explica Kubo. Enquanto as negociações com as multinacionais se desenrolam, no Galpão 5, onde o mock-up está abrigado, a preparação prossegue.
Por enquanto, o corpo técnico da CPDM-VE se empenha nos estudos de implantação de um trecho de trilhos dentro de Itaipu, um campo de provas para o primeiro VLT elétrico brasileiro.
“Queremos que esta estrutura seja usada por turistas após o fim dos testes e estamos levando em consideração isso para escolher o trajeto”.
Os testes dirão se as estimativas de Itaipu são factíveis. Os envolvidos no projeto da conversão garantem que a velocidade máxima de um VLT com baterias de sódio e no modelo menor, com 100 assentos, pode saltar para 170 quilômetros por hora, 40% a mais que o modelo a diesel.
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