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Virando o jogo contra o coronavírus

Michele Caputo

O pedido de uso emergencial das vacinas que serão produzidas pelo Instituto Butantan (SP) e pela Fiocruz (RJ) é, sem dúvida, a melhor notícia desde a ocorrência dos primeiros casos de COVID-19 no Brasil, em 26 de fevereiro de 2020. A previsão é que as doses da CoronaVac e da vacina de Oxford/Astrazeneca já estejam disponíveis nos próximos dias, a partir do final de janeiro/início de fevereiro.

Isso simboliza que, finalmente, estamos começando a virar o jogo nesta luta contra o coronavírus. Pela primeira vez a esperança é o sentimento que se impõe e isso se deve à ciência.

Sim, até agora estávamos perdendo esta batalha. Recentemente, o país bateu a marca de 200 mil mortes pela doença. Vítimas de um vírus novo, mas também consequência da omissão de autoridades que pautaram sua conduta baseada no negacionismo e numa falsa dicotomia entre a saúde e a economia.

Inegavelmente usar máscaras preservou vidas, o isolamento social massivo (adotado no início da pandemia) permitiu que os governos ampliassem suas estruturas de atendimento, mas mesmo toda essa mudança drástica em nossa rotina não foi suficiente para vencermos o coronavírus. A solução sempre foi a vacina.

Embora a estimativa inicial da Secretaria da Saúde do Paraná fosse de que teríamos, em um cenário pessimista, apenas 30 mil casos no Estado durante toda a pandemia, o que vimos foi algo arrasador. Até o dia 6 de janeiro, o Paraná contabiliza mais de 8 mil mortes e 427 mil casos, 13 vezes mais que o projetado.

A estrutura de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), que já era uma das melhores e mais preparadas do país, foi praticamente dobrada. Não faltou atendimento. Mérito do governo estadual, dos hospitais públicos e filantrópicos e dos profissionais de saúde que chegaram à exaustão para garantir assistência adequada aos pacientes.

Contudo, para vencer este vírus, não basta apenas remediar. Temos que prevenir! Os recursos são finitos e escassos, sobretudo numa pandemia. Não há como criar novos leitos sem profissionais de saúde e isso realmente fez com que a capacidade de atendimento no Paraná chegasse ao seu limite no final de 2020. E este cenário pode se repetir no início deste ano.

Por isso, evitar que as pessoas se contaminem sempre foi a melhor saída, a principal recomendação. E só existem duas maneiras de fazer isso: vacina e distanciamento social.

E a Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) foi atrás das vacinas. Nossa primeira audiência pública sobre o coronavírus na Alep foi em fevereiro do ano passado e a pauta vacina já estava em discussão. Na época, ainda não havia casos no Paraná e no Brasil e algumas pesquisas já estavam sendo iniciadas.

A partir de junho, intensificamos o trabalho, criamos a Frente Parlamentar do Coronavírus e entramos em contato com indústrias farmacêuticas e institutos públicos de saúde para contribuir com o Governo do Paraná numa futura estratégia de vacinação.

Buscamos, inclusive, a orientação da vice-diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mariângela Simão, que participou de uma das nossas 13 reuniões. Nós, deputados, visitamos o Butantan, a Pfizer, o Tecpar, fizemos contato com a Fiocruz e a Janssen, além de uma série de atores neste processo de pesquisa de vacinas.

O resultado de todo este trabalho está materializado em um completo relatório, que foi encaminhado ao governador Ratinho Júnior em dezembro de 2020. Entre as recomendações estava a organização de um plano estadual de vacinação, a aquisição de seringas e agulhas para operacionalização da campanha, a capacitação dos profissionais de saúde vacinadores e a formalização de acordos de intenção de compra de vacinas, caso o plano nacional de vacinação atrasasse – o que de fato ocorreu.

Em todo o mundo, 49 países já iniciaram suas campanhas nacionais de imunização contra a COVID-19, incluindo nossa vizinha Argentina.

De acordo com o Ministério da Saúde, nos próximos dias será a nossa vez e tudo isso graças a duas instituições públicas dedicadas à pesquisa e produção de imunobiológicos vinculados ao SUS: o Instituto Butantan e a Fiocruz.

SUS que tive a honra de ver nascer e ajudar a construir durante meus 35 anos como servidor público da Secretaria de Estado da Saúde. SUS que nos dá orgulho e se consolidou como maior sistema público de saúde do mundo. SUS que merece respeito e tem como espinha dorsal os profissionais de saúde, que hoje compõem a linha de frente contra o coronavírus.

Que venha a vacina e que consigamos sair dessa.

VemVacina

Michele Caputo
Deputado estadual, coordenador da Frente Parlamentar do Coronavírus, farmacêutico, ex-secretário de Saúde do Paraná e de Curitiba.