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Vamos com calma

por Fabio Campana

Há momentos, nestes dias turvos de denúncias e escândalos de corrupção, em que palavras de políticos e manchetes de jornais movem a um sentimento de pungente perplexidade. Hoje, Dona Fernanda Richa, mulher do governador Beto Richa, foi a vítima. Que fez Dona Fernanda de errado ou condenável? Nada. Diz a notícia que ela foi sócia da mulher de Luis Abi, na época Eloiza Fernandes Pinheiro, e várias outras pessoas, de um centro universitário em Londrina, inaugurado em 1999 e vendido em 2002. É verdade. Essa é toda a verdade.

O que uma coisa tem a ver com a outra? Nada. Absolutamente nada. Não há qualquer irregularidade no que diz respeito ao Centro Universitário. O único objetivo da notícia é estabelecer vínculo entre o governador Beto Richa e Luiz Abi, o que não é mais necessário, pois o governador já admitiu essa relação.

Por que, então, vincular Dona Fernanda Richa nesse imbróglio? Só há uma explicação, dar ao noticiário tintas novas e envolver diretamente a família do governador. Talvez para desestabilizá-lo. Talvez apenas para alimentar o noticiário em dia de pouca informação. Não é justo. Não é ético. Dona Fernanda Richa nada tem a ver com os fatos revelados pelo Ministério Público e é lamentável vê-la tratada dessa forma.

Os esperançosos da democracia tremem diante da radicalização e da indigência do debate político, que migrou de vez para as páginas policiais. Mas essa é a circunstância do país e de nosso Estado patrimonialista. A imprensa cumpre bom papel na divulgação dos fatos. Dos fatos. Mas expandir o noticiário, envolver pessoas inocentes, é condenável. Creio que o que fizeram hoje com Dona Fernanda Richa foi exatamente isso. Vamos deixar claro de uma vez por todas: ela aparece no noticiário porque é mulher do governador, não porque cometeu qualquer ato ilícito.

A denúncia, apuração dos fatos e punição dos culpados é salutar e necessária. E causa orgulho quando resulta de reportagens investigativas. Neste caso a ordem e os papéis se invertem. O Ministério Público investiga e a denúncia é feita pela imprensa que ele privilegia. Tudo isso pode levar a equívocos. Parte da imprensa esmera-se por conferir ao noticiário o tom de penúltimo ato de tragédia, e na falta de fatos força a criação de evidências. Ao fazer isso envolve pessoas que nada tem a ver com as denúncias de atos condenáveis. Nesta situação, toda a calma é recomendável e toda a notícia deve ser dada sem ânimos movidos por sentimentos menores, sempre deletérios.