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Uma ‘viagem’, na lotação lotada

Uma ‘viagem’, na lotação lotada

Ainda é madrugada, são seis e meia da manhã, segunda-feira, a semana só esta começando. O sereno ainda escorre pelas folhas verdes enquanto o sol timidamente começa a desabrochar no horizonte. É hora de pegar a lotação para mais uma semana de trabalho. Acordar cedo não é fácil, mas a luta do dia-dia tem que ser travada, querendo ou não, a luta pela sobrevivência.

Centenas de pessoas passam todos os dias pela mesma situação, aguardar no ponto de ônibus o veículo para nos levar ao trabalho e conseguirmos nosso pão. Os carros passam, alguns param e tentam “piranhar” alguns passageiros, algumas pessoas entram, outras ficam receosas e esperam o ônibus mesmo. As ofertas clandestinas são muitas, mas insisto em aguardar o veiculo regulamentado. Enfim, ele chega. Forma-se uma fila para subir na lotação, crianças e jovens indo para as escolas, outros indo trabalhar ou a procura dele.

Idosos que buscam um espaço para sentar, e ele já está lotado, mesmo assim, como coração de mãe sempre cabe mais um as pessoas se espremem. Com muito esforço subo e tento ir na direção da roleta, com um pouco de sacrifício consigo, dou o dinheiro ao cobrador, me debato em outros passageiros a procura de espaço, e bruscamente o veiculo para após alguns minutos, está em outro ponto, mais pessoas como eu se esforçam para conseguir um espaço, é um empurra, empurra, e eu ainda esperando meu troco na roleta.

Depois de minutos desisto do troco, procuro algum espaço no fundo do ônibus, é difícil chegar lá, muita gente na frente, mas me esforço e novamente outra parada bruta, jogando uns em cima dos outros, dezenas de passageiros com olhos arregalados adentram a lotação.

Novamente o ônibus segue seu trajeto, a frente mais uma parada, dezenas de pessoas a espera de um espaço dentro dele, dão sinal suplicando sua parada, mas ele não pára, passa direto por estar lotado. Essas pessoas que estavam aguardando o seu transporte para o trabalho, ou escola, irão chegar atrasadas, algumas crianças receberão falta no colégio, os que iam pro trabalho com certeza terão o dia descontado, ou até poderão perder seus empregos, e a lotação lotada segue em frente. As pessoas apertadas e assustadas, algumas até cochilam em ombro alheio ou encostados no vidro a espera da parada final.

Uma hora já se passou, enfim a parada final, começa tudo novamente, outro empurra, empurra, a pressa é maior que a bondade e na descida uma senhora caída, poucos páram para acudi-la, com muito custo termina a agitação, a lotação está deserta com as portas abertas. É quatro quadras até meu trabalho, sigo caminhando. Chego a empresa bato meu ponto e estou pronto para mais um dia de labuta.

Com muito custo o dia passa é chegada a hora de ir para casa, volto à parada do ônibus, já está lotada, uma fila enorme a espera da condução. Vejo os mesmos rostos cheios de desgostos, abatidos e cansados num ônibus lotado que só querem chegar em suas casas, já pensando no dia seguinte onde irão se acotovelar novamente na mesma lotação, lotada.

Só de pensar já aperta o coração.