Quando soube que a prefeitura decidiu lançar um edital de concorrência para a concessão da responsabilidade de gestão dos espaços culturais da Pedreira Paulo Leminski, da Ópera de Arame e do Parque Náutico do Iguaçu, procurei me informar. Deparei com uma realidade: precisamos de milhões de reais para adequar os espaços, não só às exigências do acordo judicial como também oferecer condições técnicas para os grandes shows.
Não temos muitas saídas, pois o município precisa investir algo em torno de R$ 20 milhões para recuperação do sucateado parque. Sinto em perceber que as bandeiras políticas e a falta de informação podem inviabilizar e postergar a reabertura da saudosa Pedreira. É importante que todos reflitam e se informem sobre o conteúdo do que está proposto pelos gestores do município. Precisamos estar acima das discussões político-partidárias.
Trecho do artigo Uma grande “Pedreira” de Helinho Pimentel, publicado neste domingo na Gazeta do Povo. Leia a seguir a sua íntegra.
Uma grande “Pedreira” Helinho Pimentel Era década de 90 quando recebo um telefonema do então prefeito de Curitiba, Jaime Lerner, convocando-me para uma reunião. O local, uma antiga pedreira abandonada e que era alvo de mais um dos visionários projetos do nosso mais famoso urbanista. Ao nos encontrarmos, passeamos naquele local que parecia cenário de filme, rochas, mato, plantas e um ar de abandono.
Quando subimos em um patamar mais alto, ao visualizar a cratera criada pelo homem na natureza, Jaime me disse: “O que você acha de transformarmos isso aqui numa arena de shows, você acha possível??” Sem pestanejar disse: – “É lógico, eu topo!” Após uma reunião com todo o secretariado da época, fui extraoficialmente eleito o “prefeito da Pedreira” e tinha uma árdua missão: transformar aquele local no melhor e mais bonito cenário de shows do mundo.
Arregacei as mangas e “toquei o barco”. Conseguimos em 90 dias terminar a empreitada. No meio do percurso, acabamos colocando ao palco um improvisado show do Perhappiness, uma homenagem ao poeta Paulo Leminski, que, com cerca de 2 mil pessoas e nenhuma infraestrutura, ficou marcado na memória da cultura curitibana como a pré-inauguração da Pedreira.
O formato do projeto inicial tomou forma, mas ainda era preciso cumprir o compromisso de fazer um show inaugural com grandes nomes da música. Foi quando sensibilizamos o Gilberto Gil a nos ajudar nessa empreitada. E aí surgiu o Paralamas do Sucesso no auge da sua carreira e a força do The Wailers, a banda que revelou a história do reggae para o mundo.
Os anos se passaram e o que era um embrião passou a ser o propulsor cultural da cidade. Com o passar dos anos, a construção do palco definitivo e um pouco mais de infraestrutura, conseguimos o feito: colocar Curitiba no roteiro dos grandes shows. Os anos se passaram e o resto da história a maioria dos curitibanos conhece.
Após ser palco de consagrados shows, como do ex Beatle Paul McCartney, dos tenores José Carreras, Plácido Domingos e Luciano Pavarotti, de estrelas do rock como AC/DC, Iron Maiden, o palco da Pedreira fechou suas cortinas e uma demanda judicial, que se arrastou durante anos, marcou o início da derrocada de nossa cidade no cenário cultural nacional. Após muita discussão, a prefeitura de Curitiba conseguiu um acordo judicial marcante para a reabertura da Pedreira Paulo Leminski.
Isso representa a possibilidade de a cidade voltar a brilhar no cenário cultural nacional, porém ainda existem obstáculos a serem superados. As exigências no acordo implicam investimentos significativos e extremamente elevados em comparação ao que nosso município tem disponível para esse setor. Quando soube que a prefeitura decidiu lançar um edital de concorrência para a concessão da responsabilidade de gestão dos espaços culturais da Pedreira Paulo Leminski, da Ópera de Arame e do Parque Náutico do Iguaçu, procurei me informar.
Deparei com uma realidade: precisamos de milhões de reais para adequar os espaços, não só às exigências do acordo judicial como também oferecer condições técnicas para os grandes shows. Não temos muitas saídas, pois o município precisa investir algo em torno de R$ 20 milhões para recuperação do sucateado parque.
Sinto em perceber que as bandeiras políticas e a falta de informação podem inviabilizar e postergar a reabertura da saudosa Pedreira. É importante que todos reflitam e se informem sobre o conteúdo do que está proposto pelos gestores do município. Precisamos estar acima das discussões político-partidárias.
Helinho Pimentel, diretor artístico e de operações do Lupaluna, é coordenador Artístico e de projetos especiais da Rádio Mundo Livre.
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