de Ricardo Noblat
Tem cabimento tamanha desfaçatez?
Vejam o que disse Lula, na última quarta-feira, em Brasília, ao falar para uma plateia de militantes do seu partido:
– Cadê os intelectuais do PT? Eram tantos. Eles estavam no PT porque acreditavam nos discursos que fazíamos.
Se estiveram no PT e agora não estão mais…
Por que Lula não vai fundo na autocrítica apenas esboçada de leve, quase de passagem?
Ninguém mais do que ele poderá fazê-lo. Tem autoridade para tal. E conhecimento de sobra.
De pouco, contudo, adiantará se não for capaz de bater no peito três vezes e confessar seus próprios pecados.
O mais original deles foi quando chamou José Dirceu à sua presença, e cansado de ter perdido a terceira eleição presidencial consecutiva, avisou:
– Só disputarei novamente se deixaremos a vergonha de lado e usarmos as mesmas armas dos nossos adversários.
Se a frase não foi exatamente essa, o sentido foi o mesmo.
Valendo-se das armas dos adversários, Lula se elegeu em 2012. Para governar, socorreu-se do mensalão inventado por seus comparsas da mais sofisticada organização criminosa que já tentou se apoderar do aparelho de Estado.
Para realizar o projeto do PT de permanecer no poder o maior tempo possível, azeitou as engrenagens da máquina de corrupção que corroía a Petrobras pelo menos desde meados do governo Sarney. E foi assim que chegamos até aqui.
Cadê os intelectuais do PT?
Ora, eles não recepcionaram Dilma em um teatro do Rio de Janeiro para alimentar o programa de propaganda eleitoral dela?
Tudo bem: os nomes ali reunidos não eram todos do primeiro time. Mas fazer o quê? Vai longe o tempo em que artistas e intelectuais cantavam “Lula-lá”…
Lula poderia ter perguntado também pelos jovens do PT, pelos militantes que vendiam lembranças do partido para arrecadar dinheiro, e pelos líderes autênticos dos movimentos sociais que suavam a camisa à caça de votos sem esperar empregos em troca.
O PT, hoje, é um quadro velho pendurado na parede, uma estrelinha guardada no fundo de uma gaveta, uma camiseta descolorida pela ação do tempo, uma bandeira vermelha coberta de vergonha.
Foi Lula que o afundou. Não será Lula que irá refunda-lo.
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