Um problema chamado Lagoa da Prata
Fazenda do senador Osmar Dias entra na cena eleitoral do Paraná e atinge a sua candidatura
Alan Rodrigues – Formoso do Araguaia (TO) – revista IstoÉ
Um problema do tamanho de 8,3 mil hectares recaiu sobre a campanha do senador Osmar Dias (PDT) a governador do Paraná. Esta é a dimensão da fazenda Lagoa da Prata, de propriedade dele, no Estado de Tocantins. Voltado para a criação de gado e plantação de arroz, o pedação de terra, em frente á ilha do Bananal, com 19 mil metros de frente para a margem direita do límpido rio Javaéz, tornou-se assunto no horário político pela televisão, gerou bate-boca no debate entre os candidatos e ocupa blogs na internet. No Paraná, a fazenda ganhou fama por ter sido comprada por um valor subfaturado, parcialmente desmatada de forma irregular, uma vez que faz parte da Amazônia Legal, e, ainda, de ter abrigado trabalho escravo. Ex-parceiro do senador num projeto de reflorestamento dentro da fazenda, Leonardo Bonifácio Cardoso está processando Osmar Dias por quebra de contrato e má-fé. O pedido de indenização é de R$ 3 milhões. “O senador quebrou a nossa empresa, até sofri ordem de despejo”, conta Valéria Bonifácio, irmão e sócia de Leonardo.
Na raiz dessa árvore de incômodos está o processo de aquisição da terra. No cartório do município de Formoso de Araguaia, em cuja área está a propriedade, consta que a Lagoa da Prata foi comprada em setembro de 2003 pelo agropecuarista e hoteleiro José Antônio Cardoso. Trata-se de um daqueles empresários que seguidamente vão a Brasília. A negócios. Consta que pagou R$ 1 milhão pela terra. Uma semana depois, no entanto, o imóvel saiu do nome dele e foi transferido para o de Osmar Dias pelo valor de R$ 2,5 milhões. Hoje, a fazenda é avaliada na região por pelo menos cinco vezes o valor de compra. “O senador me disse que topa vender, mas por R$ 12 milhões”, conta o vizinho de cerca da fazenda, um agricultor chamado Sinésio. “Fui eu que cerquei essa terra toda. É a melhor da região”, completou ele. O grande atrativo de Lagoa da Prata é a sua frente de 19 mil metros para o rio Javaéz. Depois das cheias, as margens encharcadas ficam propícias para a plantação de arroz. Sua topografia faz com que, no período de cheia do rio, formem-se ilhas secas, nas quais o gado pode se instalar.
O processo aberto contra Dias, por seu antigo parceiro Bonifácio está registrado na 2ª Vara Cível do município. Uma briga que começou em agosto do ano passado, em seguida à não obtenção, pelo senador, de uma autorização do Ibama para promover desmatamentos em suas terras. “Ele agiu de má-fé. Sem essa autorização, tive que parar meu trabalho de extração de carvão, não consegui pagar os funcionários nem fazer as máquinas trabalharem”, diz o ex-parceiro Bonifácio. Nessa ocasião, 62 empregados alojados na fazenda chegaram a uma situação de penúria e precisaram seqüestrar uma caminhonete para sair do local. “O senador ficou deprimido quando essa denúncia veio a público”, disse à reportagem da ISTOÉ o atual gerente da fazenda, Osnei Pinto. “Como assinamos um contrato de parceria, o senador é co-autor daquela situação. Ele não é nenhum santo”, assegura Bonifácio.
Osmar Dias ofereceu dez dias atrás uma entrevista coletiva à imprensa para falar sobre a fazenda. Num debate pela televisão com o atual governador e candidato à reeleição Roberto Requião, Dias foi confrontado pelo adversário com sua declaração de bens. Requião mostrou que a fazenda estava declarada por R$ 2,5 milhões e ofereceu pagar o dobro pela propriedade, deixando no ar a suspeita de subfaturamento e, em conseqüência, sonegação fiscal. De quebra, criticou o senador por, sendo do Paraná, investir noutro Estado.
“Não me interessa o preço que o vendedor me pediu ou o preço que paguei pela terra, o certo é que paguei corretamente”, afirmou o senador Dias a ISTOÉ. “Se for por R$ 6 milhões, eu vendo”. O candidato também procurou explicar o litígio com seu ex-parceiro Bonifácio. “Tentei obter a autorização do Ibama, mas simplesmente não consegui”, registrou. Ele não aceita a imputação de responsabilidade por trabalho escravo. “Quando soube da situação dos empregados, mandei alimentos e dinheiro para quitar os salários”, assegura. Justifica, finalmente, que um investimento a quase dois mil quilômetros de seu Estado de origem tem a ver com o fato de dois de seus irmãos terem fazendas em Tocantins também.
Fama incômoda
A fazenda Lagoa da Prata, do senador Osmar Dias, é assunto no horário eleitoral pela televisão no Paraná, provoca bate-boca entre candidatos a governador e virou tema de blogs na Internet. Saiba por que:
A localização
Fica em Tocantins. Os adversários dizem que, para quem quer ser governador do Paraná, não fica bem ter investimentos agropecuários a mais de dois quilômetros de distância.
O preço
Com 8,3 mil hectares, foi comprada por R$ 1 milhão em 2003, vendida uma semana depois por R$ 2,5 milhões ao senador Dias e, hoje, tem avaliação de até R$ 12 milhões.
O litígio
Ex-parceiro de Dias na exploração de carvão dentro da fazenda, o empresário Leonardo Bonifácio o acusa de má-fé e move processo em que pede R$ 3 milhões de indenização.
Os trabalhadores
No ano passado, as 62 pessoas que trabalhavam na derrubada de árvores na fazenda ficaram sem salários e sem comida por um bom tempo.
Deixe um comentário