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Tratamento medieval a Cabral só enfraquece a Lava Jato

Tratamento medieval a Cabral só enfraquece a Lava Jato
PR - LAVA JATO/CABRAL/PRISÃO/REGALIAS/TRANSFERÊNCIA - POLÍTICA - O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral chegou à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, por volta das 22h25, na quinta feira (18). Ele foi transferido da Cadeia Pública José Frederico Marques, no bairro de Benfica, no Rio de Janeiro. Cabral realiza exame de corpo de delito no IML (Instituto Médico Legal) de Curitiba (PR), nesta sexta-feira (18) e depois será levado para o Complexo Médico-Penal em Pinhais, na região metropolitana da capital paranaense. O complexo é uma penitenciária de regime fechado e com finalidades médicas e abriga vários presos da Operação Lava Jato como o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, o ex-vice-presidente da Câmara, André Vargas, e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Foto: Giuliano Gomes/PR PRESS

Mario Cesar Carvalho

O tratamento medieval que a Polícia Federal dispensou ao ex-governador Sergio Cabral nesta sexta-feira (19), com algemas nos punhos e correntes nos pés, só fragiliza a Operação Lava Jato. Porque investigação de qualidade e polícia de primeira linha não desviam um milímetro da legalidade nem afrontam a dignidade do preso, prevista na legislação.

O melhor exemplo desse padrão é a Scotland Yard, a polícia londrina, considerada uma das mais eficientes do mundo e respeitadora da lei.

Qual é o sentido de colocar correntes nos tornozelos de Cabral? Só pode ser para humilhá-lo, para mostrar que em Curitiba (PR), na terra da Lava Jato,ele não terá as regalias que recebia no Rio de Janeiro, como o home theaterque o ex-governador conseguiu contrabandear para dentro do presídio e as comidas que recebia de restaurantes estrelados.

Correntes nos pés é humilhação porque remete ao passado escravocrata do Brasil, ao tempo em que capitães do mato desfilavam com negros arrastando correntes nas ruas do Rio, Salvador e Recife para que eles não ousassem mais fugir. Era uma lição muito clara: “Veja só o que acontece com quem desafia os senhores de escravos”.

Cabral pode ser um dos mais corruptos entre os políticos brasileiros. Estão lá as suas condenações e processos para comprovar essa hipótese: ela ja foi condenado a 87 anos de prisão em quatro ações penais e responde a outros 16 processos.

Ao final dos processos, suas penas devem ultrapassar os 300 anos de prisão, apesar de a lei brasileira limitar o tempo máximo de detenção a 30 anos.

Nada disso justifica as correntes nos pés. Cabral abusou de regalias na prisão no Rio, mas não se tem notícia de que tenha tentado fugir alguma vez da prisão.

O uso de algema tem outra função segundo as regras da polícia brasileira: serve para proteger o policial de um preso violento, o que não é o caso de Cabral, e também para evitar que o preso tente se ferir ou se matar.

A humilhação das correntes nos pés tem um parentesco óbvio com a condução coercitiva, mecanismo que a Lava Jato usou e abusou até ele ser vetado em caráter provisório pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal.

A condução coercitiva tinha como função espezinhar o investigado, apesar de os procuradores, a Polícia Federal e até juízes alegarem que era para evitar que os investigados combinassem versões sobre os fatos investigados. O problema é que a lei não prevê o uso da condução coercitiva para esse caso. Ela só é autorizada quando o investigado se recusa a depor, o que não era o caso na Lava Jato.

O caso das correntes é pior porque não há justificativa alguma para essa medida medieval.

O uso é tão escandaloso que um grupo de advogados que não atua na defesa de Cabral se ofereceu aos advogados dele para entrar como uma ação contra as correntes nos tornozelos.

O grupo é encabeçado por José Roberto Batochio, ex-presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), e Nelio Machado, um dos criminalistas mais respeitados do Rio de Janeiro.