Jamais o Congresso teve um presidente da República para chamar de seu como tem desde que Michel Temer assumiu o cargo no lugar de Dilma Rousseff. A recíproca parece verdadeira.
Justamente por isso é improvável, embora não impossível, que senadores e deputados faltem com seus votos na hora de aprovar as reformas que são o único motivo pelo qual este governo existe.
É fato que a presidente deposta abusou de errar e escolheu seu destino. Mentiu sem pudor para se reeleger. Centralizou o poder em excesso. Empurrou o país para o buraco. E cometeu crime de responsabilidade.
Ao gastar mais do que estava autorizada, ofereceu o pretexto para sua queda. Não caiu por isso. Caiu pelo conjunto da obra. Celebre o casuísmo que não lhe subtraiu os direitos políticos como mandava a Constituição.
Temer chegou lá empurrado pelos políticos carentes de mimo e de mais obséquios, por aqueles em pânico com os desdobramentos da Lava Jato, e pela elite empresarial e financeira preocupada com o estado da economia.
Tem feito tudo o que toda essa gente esperava dele – e pelo menos a economia começou a dar sinais de que se recupera. Espera, portanto, que façam por onde ele possa governar até a eleição do seu sucessor.
O Congresso deu a Temer tudo o que ele pediu. Se não lhe der, porém, a reforma da Previdência, Temer estará condenado à condição de um presidente morto-vivo. Como foi Sarney na metade final dos anos 80.
Sarney vestiu a faixa presidencial porque Tancredo Neves, doente, não pode vesti-la, morrendo logo em seguida. Com ralo apoio no Congresso, ainda assim arrancou-lhe o mandato de cinco anos – mas para quê?
Depois disso, viu o tempo passar à espera de ir para casa. Quando foi, o país amargava uma inflação mensal de 80%, suas reservas cambiais eram uma titica e o desencanto geral elegera um aventureiro – Collor.
Conspira a favor da aprovação da reforma da Previdência o desejo oculto dos que sonham em suceder Temer de que ele faça por eles todo o trabalho sujo. Conspira contra o pouco tempo que resta até as próximas eleições.
Uma classe política desqualificada como a nossa, acossada por revelações que comprometem seu futuro, é capaz de fazer qualquer coisa para tentar sobreviver. Trair quem elegeu seria o mínimo, como já demonstrado.
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