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Tática do palanque duplo contra governador tucano do Paraná

PT da ex-ministra Gleisi Hoffmann e Planalto incentivam candidatura de Roberto Requião (PMDB) para evitar reeleição de Beto Richa (PSDB)

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por José Maria Tomazela ]

Acompanhada com bastante interesse pelo Palácio do Planalto, a disputa pelo governo do Paraná tem o PMDB como fiel da balança. Embora o ex-governador Roberto Requião já atue como pré-candidato, o partido está dividido e uma ala defende que a convenção de 20 de junho defina pelo alinhamento ao governador Beto Richa (PSDB), que disputará a reeleição.

A presença de Requião na cédula eleitoral deixaria a eleição menos polarizada entre o tucano e a ex-ministra da Casa Civil, senadora Gleisi Hoffmann, pré-candidata petista. Com o peemedebista no páreo, abre-se uma possibilidade maior de um segundo turno, avaliam políticos locais.

Sem Requião, a expectativa é que a eleição para o Palácio Iguaçu fique dividida entre o PT de Gleisi e o PSDB de Richa, com chance do atual governador se reeleger no primeiro turno, garantindo importante votação para o presidenciável de seu partido, senador Aécio Neves (MG). Por isso, no sexto maior colégio eleitoral do País, com 7,7 milhões de eleitores, a presidente Dilma Rousseff espera e trabalha para contar com dois palanques. Parte da bancada do PMDB na Assembleia Legislativa, porém, vai propor na convenção do partido uma aliança local com o PSDB. O PMDB indicaria o candidato a vice.

Na quinta-feira passada, um dia depois de se reunir com Dilma, o vice-presidente da República, Michel Temer, viajou para Curitiba na companhia de Requião para encontro com peemedebistas. Não há pesquisa recente sobre intenções de voto no Paraná. A última, feita pelo Instituto Paraná Pesquisas e publicada em dezembro de 2013 pelo jornal Gazeta do Povo, apontava Beto Richa na liderança com 42%, seguido por Gleisi com 23% e Requião com 19%.

Na dúvida, os petistas articulam com outros partidos para garantir a presença de mais candidatos na disputa do primeiro turno. Caso o nome de Requião não seja homologado, o PPS deve sair com candidato próprio no Estado – o nome cotado é o do deputado federal Rubens Bueno. O cenário de incertezas levou o PT a manter o posto de vice em aberto para uma possível composição. Há diálogo com o PDT, PC do B, PP e PR.

Efeito Vargas. Uma preocupação imediata do partido é evitar que os desdobramentos da Operação Lava Jato virem munição para adversários na futura campanha. As ligações do deputado André Vargas com o doleiro Alberto Youssef, preso na operação que apura esquema bilionário de lavagem de dinheiro, trouxe desconforto à pré-candidatura da ex-ministra. Vargas, pressionado pela direção da legenda, se desfiliou do PT, mas era cotado para coordenar a campanha de Gleisi no Estado.

Mas o discurso do governador Beto Richa vai por outro caminho. Ao Estado, o tucano acusa o governo federal de “estrangular” o Paraná, com a retenção de verbas. “Somos o 5.º maior contribuinte em receitas para o governo federal, mas no recebimento de repasses somos o 23.º”, afirmou. Questionado sobre os autores do boicote, ele afirma apenas “aquele casal” – numa referência a Gleisi e seu marido, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.

O PT, por sua vez, pretende atacar a administração de Richa afirmando que ele se elegeu prometendo um choque de gestão no Paraná e nada fez, segundo o presidente estadual do partido, Ênio Verri. “Enquanto falta combustível para viaturas da polícia e obras estão atrasadas por falta de pagamento, o governador aumentou em 600% o gasto com publicidade e elevou em 417%, em três anos, a folha de pagamento dos cargos políticos.”

Em pré-campanha desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou publicamente seu nome, Gleisi não perde a oportunidade para fustigar o rival. Quando Richa pôs em leilão uma área de floresta com 12 mil hectares, no início do mês, a petista emitiu nota alegando que “leiloar o patrimônio ambiental do paranaense é um erro”. Ela ainda atacou a gestão do governador. “O descompasso entre despesas e receitas nas contas públicas sob a gestão da atual administração – a verdadeira causa da grande crise do governo – não pode continuar comprometendo o futuro dos paranaenses.”

Richa diz que a indústria no Paraná cresceu a uma taxa de 5% nos últimos anos, mais que o dobro da média brasileira. “Enquanto o governo federal prefere investir em Cuba, nós conseguimos atrair investimentos de R$ 30 bilhões no Estado.” Segundo ele, o Paraná é o Estado com a maior capacidade de endividamento, podendo assumir compromissos de até R$ 20 bilhões. Governador por três mandatos, Requião, por enquanto, está empenhado em enfrentar a divisão do próprio partido no Estado.

Ele disse ter certeza de que sairá da convenção como candidato da legenda. Mas também não deixa de fazer críticas à atual gestão. “Os peemedebistas de verdade estão comigo. Como é que eles poderiam aderir a um governo que não existe? Interesses pessoais estão se sobressaindo ao interesse público”, afirmou. Em suas gestões, Requião colecionou polêmicas, como a nomeação do irmão Eduardo para dirigir o Porto de Paranaguá, um dos principais do País.

Ele ainda proibiu a exportação de soja e milho transgênicos pelo porto, provocando a ira de ruralistas. Assessores dizem que isso é passado e que ele decidiu ser candidato atendendo a apelos dos eleitores. Richa também é acusado de nepotismo por ter transformado a própria mulher, Fernanda Richa, numa espécie de supersecretária da área social. Ela dirige a Secretaria da Família e Desenvolvimento Social, que agregou as antigas pastas do Trabalho, da Criança e da Promoção Social.

O irmão dele, Pepe Richa, assumiu a Secretaria de Gestão e Logística, que abarcou as áreas de Infraestrutura, Transportes e a gestão do Porto de Paranaguá. O governador não admite o nepotismo e diz que as duas áreas estão entre as de melhor gestão e que o gargalo no porto acabou. Filho do ex-governador José Richa, que administrou o Estado entre 1982 e 1986 e foi um dos fundadores do PSDB, o tucano é lembrado pelo estilo jovem e esportivo, semelhante ao do candidato do PSDB à presidência, o mineiro Aécio Neves.