por Fernando Vives, na Carta Capital
Diz-se muito que o brasileiro tem uma tendência a interpretar os fatos da vida como se interpreta o futebol, o que ocorre tanto por conta da paixão futebolística quanto pela falta de desenvolvimento cultural do País, problema que nos assola desde os tempos de colônia. Falar de política no Brasil, por exemplo, acaba ganhando uma dimensão de Palmeiras contra Corinthians, ou de Vasco versus Flamengo (escolha aqui seu clássico regional), pois muitas vezes vale mais a torcida que os argumentos.
O fato é que os próprios políticos não ajudam.
Um exemplo emblemático vem das eleições municipais de Curitiba deste ano. O candidato do PDT é o ex-deputado federal Gustavo Fruet, que ganhou projeção nacional nos tempos do chamado “Mensalão” em Brasília. À época, Fruet era parlamentar do PSDB e quase todo dia destilava frases de impacto sobre a suposta iniquidade do PT, a corrupção de Lula, a vergonha pela qual o governo petista havia colocado o País.
Acontece que Gustavo Fruet agora será candidato a prefeito com grandes chances de ser apoiado pelo mesmo PT – o diretório curitibano do partido votou neste fim de semana sobre o apoio, e a maioria preferiu apoiar o ex-tucano a ter um candidato próprio.
Os petistas Paulo Bernardo, Ministro das Telecomunicações e três vezes eleito deputado federal peloParaná, e sua mulher Gleisi Hoffmann, senadora licenciada e atual chefe da Casa Civil, são os fiadores do casamento Fruet-PT. Disse Paulo Bernardo, segundo o Estadão desta segunda 16: “É compreensível a situação, porque o PSDB não o quis candidato. Nossa questão com Fruet sempre foi política, também batíamos nele”, animou-se.
Em outras palavras, Paulo Bernardo fala no mesmo teor de um dirigente do Atlético Paranaense que conseguiu assinar contrato com um ex-jogador renegado do Coritiba. Gleisi Hoffmann vai na mesma linha: “Em Curitiba, nossa avaliação é a de que a melhor forma de reforçar o PT é ter uma aliança que seja capaz de ganhar as eleições”. Troque “PT” pelo nome de um clube, “aliança” por “reforço” e “eleições” por “campeonato” e fica tudo igual.
O pragmatismo que assola PT, PSDB e a vasta maioria dos partidos teve seu maior baluarte no prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que chegou a se referir a Lula como “chefe da quadrilha” do Mensalão. Paes deixou o PSDB rumo ao PMDB, o partido cujo única expertise é justamente não ser do contra, nem a favor, muito pelo contrário. Paes foi eleito sob a benção de Lula.
A política hoje é assim mesmo, alguém pode argumentar. É mesmo, e é justamente esse o problema. O que deveria polarizar PT e PSDB é a ideologia de cada um. Na prática, têm tanta ideologia quanto clubes de futebol.
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