por Rhodrigo Deda, em O Coro da Multidão, na Gazeta do Povo
A frase já virou bordão até em peças do Festival de Teatro de Curitiba. Nas redes sociais, em protestos semanais no Congresso Nacional por todo o lugar se ouve o “Feliciano não me representa”. Poderia ser engraçado, é preocupante, mas pode vir a ser promissor.
O aspecto lúdico é também curioso. O deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) conseguiu uma mobilização contra a permanência dele na Comissão de Direitos Humanos tão intensa que ofuscou outros colegas de parlamento em situações igualmente constrangedora. Há semanas ninguém mais lembra de protestar contra Renan Calheiros (PMDB-AL), que foi eleito presidente do Senado, apesar de estar respondendo uma série de denúncias perante à Justiça. Ninguém mais dá bola para João Paulo Cunha (PT-SP) e José Genoino (PT-SP), deputados condenados no julgamento do mensalão que foram eleitos membros da comissão da Câmara responsável por analisar se os projetos de lei que tramitam na Casa são constitucionais.
O aspecto preocupante é que o bordão pode gerar ideias confusas – isso porque “se Feliciano não me representa, logo, não poderia estar no Congresso”. O fato é que Feliciano representa muita gente. A representatividade é de pelo menos 211.855 eleitores que votaram nele para defender seus interesses em 2010. E mais, há uma campanha no Facebook, compartilhada 71 mil vezes, de gente que quer o pastor como candidato à Presidência.
O problema com Feliciano não é de representatividade. O problema é que ele tem um passado de ofensas a grupos minoritários e, recentemente, proferiu declarações desarrazoadas. Chegou a dizer que, antes de passar a integrar a Comissão de Direitos Humanos, ela “era dominada pelo Santanás”. Esse estilo causa apreensão. Feliciano transmite a imagem de uma personalidade intolerante, que tem instigado um embate completamente desnecessário com militantes de defesa das minorias.
Apesar do conflito gerado, todo esse episódio pode vir a ser promissor. Assim que Feliciano passar, seria importante que os ativistas, agora mobilizados na luta pela preservação de direitos individuais, utilizassem seu poder de pressão para combater problemas igualmente sérios – como a falta de transparência do poder público e o combate à corrupção. A falta de moralidade na política e a corrupção são problemas que também afetam a vida em sociedade e que deveriam fazer parte da agenda de movimentos setoriais, como o LGBT, o de afrodescendentes ou o de ciclistas urbanos.
Com a experiência dos manifestantes se acumulando, eles vão fazer a diferença na mobilização para defender causas mais abrangentes e que dizem respeito diretamente a interesses de todos os cidadãos.
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