Sempre tive muitas dúvidas sobre o “vox populi, vox Dei”, paixão dos demagogos. Elas agora aumentaram. Por um lado, a tal “vox populi” aparece tão dividida que é difícil saber quem ela é. O critério majoritário para escolhê-la pode ser sangrento se não controlado por dispositivos constitucionais, os quais toda a sociedade contratou para sustentar a liberdade individual e a igualdade de tratamento dos seus membros com relação à lei.
Por outro, tenho a impressão de que a “vox Dei” emudeceu para nós. Depois de tantos desatinos, aventuras e concertos criminosos entre os sucessivos Poderes incumbentes (não o Estado!) e o setor empresarial privado, parece que Deus cansou do Brasil. Desistiu de nós. Mas Ele, caridoso, pode escrever o certo por linhas tortas…
Um doloroso processo de impeachment pôs fim a um voluntarismo desastroso que nos levou à recessão e deixou como herança 14 milhões de desempregados. Eles são subproduto das contradições genéticas do sistema fiscal inscrito na Constituição de 1988. Seus genes estavam adormecidos, esperando uma recessão para serem ativados!
Só alguém portador de um sectarismo cego pode acreditar que o processo foi um “golpe”! Dilma fez uma boa administração em 2011, mas pagou um alto preço por ter ignorado o gigantesco tsunami fiscal que se acumulava.
Ao insistir na sua reeleição e mudar em 180º sua diretriz econômica, ela produziu uma confusão na cabeça de seus eleitores, que a abandonaram, quase imediatamente. O impeachment foi feito dentro da lei, sob supervisão do STF, e foi muito mais uma resposta à “obra geral de Dilma” do que punição por óbvios desvios de conduta. Com o ministro Nelson Barbosa, ela tentou uma reversão. Propôs as reformas necessárias, mas já era tarde. Havia perdido todo o seu protagonismo.
Chegou a apresentar um esboço das reformas, que foram aceitas por seus seguidores, os mesmos que agora ferozmente as combatem, numa demonstração da pobreza e do oportunismo que pragueja o arremedo daquilo que hoje se pensa como “esquerda”!
É inegável que com Temer a situação começou a melhorar e tudo dava a impressão de que poderíamos levar a bom termo as reformas mínimas necessárias para restabelecer o crescimento robusto e inclusivo de que tanto necessitamos. Infelizmente, um “capo” de quadrilha, numa operação bem monitorada para ouvir o presidente, fez uma delação realmente “premiada”!
O quadro é hoje triste, opaco e embaraçoso. Só o STF poderá salvar o Brasil de desgraça ainda maior. Mas, para isso, terá de usar uma ética consequencialista, avaliando cuidadosamente o tempo e o custo social de cada uma das saídas.
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