Elos que muita gente nem imagina estão por trás das pessoas que tem assentos nos conselhos das maiores empresas do país. Uma rede complexa, que envolve empresas públicas e privadas, além do BNDES, mostra quem manda na economia do país nos mais diversos setores: financeiro, serviços, alimentos, transportes, farmacêutico entre outros.
Esse levantamento, coordenado pelo jornalista Leonardo Sakamoto, está disponível em uma plataforma digital, a Eles Mandam, na qual o internauta pode criar suas próprias redes, descobrindo relações nos setores que mais lhe interessam.
O leitor também pode imprimir esses mapas criados ou enviá-los pelas redes sociais. O objetivo é transformar um assunto importante, mas que pode ser bem chato, em algo divertido. Textos de apoio acompanham a plataforma para ajudar a explicar o que significam tantas conexões.
Como usar a plataforma: Digite o nome de uma empresa ou o nome de algum(a) conselheiro(a). Clique no nome para abrir uma caixa de opções: Perfil (traz o perfil do conselheiro), Expandir (mostra todos os conselheiros que se sentam no conselho ou todas as empresas em que um conselheiro tem assento) e Remover (retira a empresa ou o conselheiro clicado). Quanto mais escuro for o nome do conselheiro, mais empresas contarão com ele.
O que é um Conselho – Em um prédio, o condomínio elege por votação dos presentes um síndico e um conselho, que interagem aprovando contas, avaliando obras e o desempenho dos funcionários. Nas empresas, não é diferente. Os executivos são nomeados pelo Conselho de Administração, que define metas, orienta as estratégias de curto, médio e longo prazo, além de zelar pela missão e valores de cada companhia.
O Conselho de Administração é uma obrigação legal de uma empresa de capital aberto (cujas ações estão listadas em bolsa e estão pulverizadas entre milhares de acionistas no Brasil e exterior, o que força um compromisso maior com a transparência). E é uma tendência crescente também em companhias de capital fechado, em que os acionistas não prestam contas com tanta transparência, por não terem essa obrigação. Mas que atraem maior interesse quando pequenas, médias e grandes empresas de capital fechado buscam capital de investidores para crescer. Para obter esses recursos de terceiros, um dos requisitos é melhorar a “governança” corporativa e criar conselhos em que os fundadores possam discutir as estratégias com os investidores.
Exemplos – Na análise da Repórter Brasil, constata-se que vários nomes de conselheiros se repetem. Há os casos óbvios, como o fato do presidente do Conselho da siderúrgica CSN, Benjamim Steinbruch, também participar da Vicunha Siderurgia, holding da família que detém o controle da CSN. O diretor da Previ, Robson Rocha, também participa do conselho da mineradora Vale, da qual o fundo de pensão divide o bloco de controle. A Previ nomeia representantes para os conselhos de diversas empresas, além da Vale, como BRF, CPFL Energia e Neoenergia, entre outras.
Há ainda muitas posições “cruzadas”. O presidente da Andrade Gutierrez, Otavio Marques de Azevedo, participa dos conselhos da Cemig, Telemar e da Oi, empresas que a construtora detém relevante presença. Luiz Carlos Trabucco, presidente do Bradesco, além de participar do conselho do banco, tem assento nos conselhos da Bradespar (que tem ações da Vale) e da Odontoprev, em que o banco também tem participação via Bradesco Saúde. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, além de conselheiro do banco estatal, participa dos conselhos da Vale e da Petrobras, duas estatais das quais o BNDES detém participação. O presidente da estatal mineira Cemig participa, além do conselho da empresa que dirige, dos conselhos da Light (distribuidora de energia elétrica fluminense) e da Taesa (transmissora de energia elétrica), duas empresas controladas pela própria Cemig que, por sua vez, está sob comando do governo mineiro.
Muitos economistas com renome no mercado e participação em governos anteriores têm assentos em conselhos. É uma forma das empresas nomearem pessoas de renome e influência no setor privado e público. José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário do Ministério da Fazenda no governo FHC, participa dos conselhos do Santander e da BMF&Bovespa. Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda durante o governo José Sarney, participa dos conselhos da Cosan, Grendene e da operadora de telefonia TIM. O ex-ministro da Fazenda do governo FHC, Pedro Malan, tem assento na Souza Cruz, Mills e EDP.
Clube do Bolinha – As mulheres ainda têm uma presença bastante tímida nos Conselhos de Administração. Segundo o levantamento da Repórter Brasil, com base nos 113 maiores grupos (lista que inclui empresas de capital aberto e fechado, holdings e o BNDES) do Brasil, são 971 conselheiros, sendo que apenas 72 são mulheres, ou seja, só 7,4% do total. Cabe ressaltar que, no Brasil, as mulheres com ensino superior completo que têm entre 40 e 69 anos – faixa etária da maior parte dos conselheiros – correspondem a 54% da população economicamente ativa, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação aos dez maiores fundos de pensão do Brasil, são 79 conselheiros, sendo que nove são mulheres, ou 11% do total.
A presença feminina nos altos cargos de diretoria também é reduzida. Um estudo da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, divulgado esse ano, revela que, nos últimos dez anos, a presença feminina nos altos cargos em companhias brasileiras se manteve estagnada, com média de 8%. Enquanto a participação das mulheres na diretoria executiva aumentou de 4,2% para 7,7% nesse período, nos conselhos de administração caiu de 9,8% para 7,5%. Foram analisados 73.901 cargos na alta administração de 837 companhias de capital aberto, entre 1997 e 2012.
Como foi feita a pesquisa – ”Eles Mandam” é uma investigação da Repórter Brasil, com o apoio da Fundação Friedrich Ebert, inspirado no They Rule, que mostra quem são os que ocupam os assentos nos conselhos das maiores empresas dos Estados Unidos, possibilitando identificar redes de relacionamentos entre elas. Esta versão brasileira foi produzida com a permissão dos responsáveis pela iniciativa norte-americana.
Uma extensa pesquisa nos sites, balanços e comunicados das próprias empresas levantou nomes e perfis de quem faz parte dos respectivos Conselhos de Administração. A escolha das empresas foi baseada em “Melhores e Maiores – As 1000 Maiores Empresas do Brasil”, organizado pela revista Exame, da Editora Abril, edição de 2013, tomando como referência as listas de empresas e holdings. Para a escolha dos Fundos de Pensão, levou-se em consideração os que contam com uma carteira de investimentos igual ou superior a R$ 10 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp). No total, foram levantadas 141 instituições e fundos.
O levantamento ocorreu entre setembro e outubro de 2013 e será atualizado anualmente. Vale ressaltar que a composição dos conselhos mudam. Portanto, o levantamento mostra uma fotografia de um momento específico que, em alguns casos, pode já ter sido alterado. Isso não afeta a realidade mostrada pela investigação: de que grandes empresas estão conectadas através de seus conselheiros por várias razões, como pode ser visto nas reportagens que acompanham o site. E, é claro, essa configuração concentrada tem gerado uma série de consequências que não se limitam aos organogramas corporativos. (Com informações do Blog do Sakamoto)
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