Sem arrogância na fala ou nos gestos, sem bravatas ou onipotência, sem moralismo salvacionista, Sérgio Moro de perto é normal
De Zuenir Ventura
Por coincidência, a entrega do Prêmio Faz Diferença aconteceu no dia em que o Datafolha publicava o retrato do desencanto geral. A pesquisa traduzia em números a insatisfação demonstrada nas ruas no domingo anterior: nada menos que 62% dos entrevistados consideraram o governo Dilma “ruim ou péssimo”, uma das piores avaliações de um presidente desde a redemocratização (perdeu para Collor por seis pontos, mas ele já estava no fim do mandato).
O mais significativo é que a vertiginosa queda de popularidade foi constatada em todos os níveis sociais, inclusive na classe C, entre os eleitores da presidente, onde o índice de reprovação subiu de 19% para 60%.
Diante disso e do quadro de deterioração moral da política, a noite de quarta-feira ofereceu como contraponto o espetáculo de uma espécie de Brasil que deu certo, tendo como símbolo o juiz Sérgio Moro, aclamado de pé ao receber o troféu Personalidade do Ano, por sua atuação na Operação Lava-Jato.
Além dele, outras personalidades, instituições e empresas se destacaram no ano em 17 áreas, que iam da cultura ao esporte, da economia à educação, passando pela ciência, música, teatro, artes visuais.
Principal premiado da noite, o juiz Moro, em rápidas conversas informais ou no discurso de agradecimento, manifestou constrangimento com a homenagem. Primeiro, porque, alegou, é “um trabalho que está em andamento” e ele preferiria que se aguardasse o final.
E, depois, porque o trabalho “não é de um homem só. O Direito é sempre uma obra coletiva”. Como exemplo, elogiou a investigação da Polícia Federal e o “papel fundamental da imprensa”.
Curioso estar diante daquele rapaz de 42 anos, com cara de recém-saído da faculdade e que é hoje o homem público que carrega a maior carga de anseio ético do país. Pode ser que o sucesso venha a lhe subir à cabeça, não sei, mas, por enquanto, parece que não.
Sem arrogância na fala ou nos gestos, sem bravatas ou onipotência, sem moralismo salvacionista, Sérgio Moro de perto é normal. Se gosta de “aparecer”, como dizem os corruptos, seu marketing talvez seja a falta de marketing.
Conhecedor do submundo da alta corrupção em larga escala, e das dificuldades de combatê-la, o juiz da Lava-Jato é otimista: “A democracia brasileira já enfrentou desafios muito maiores no passado e nós vencemos”.
Ele se refere à ditadura militar “brutal” e à hiperinflação, além da conquista de “avanços sociais significativos”. “A corrupção é apenas um problema. Com o apoio das instituições democráticas e da sociedade, acredito que vamos superar esse problema com tranquilidade”.
Péssimo repórter, esqueci de perguntar se isso seria para meu tempo ou de meus netos Eric, de 2 anos, e Alice, de 5.
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