Ser de esquerda, na Caros Amigos
A revista Caros Amigos fez a pergunta: o que é ser de esquerda. Personalidades de vários setores e segmentos responderam a questão. Veja algumas das enquetes que a revista disponibilizou na internet – enquetes feitas por Ana Luiza Moulatlet, Camila Gonçalves, Carolina Ruy, Juliana Sassi, Marina Amaral, Maria Dolores, Marcelo Salles, Spensy Pimentel, Marcos Zibordi, João de Barros e Thiago Domenici.
Igreja – Dom Pedro Casaldáliga, bispo católico: Ser de esquerda deveria ser optar pelos pobres, optar pela justiça, condenar o capitalismo e o liberalismo, possibilitar participação real do povo. Sempre tem tido gente mais radical ou menos, mas hoje se está querendo justificar umas certas esquerdas que acabam sendo, quando muito, o centro. E eu digo que o centro não existe, ou é direita ou é esquerda. (…)
Política – Chico Alencar, historiador e deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro: Ser de esquerda tem algumas permanências. Em primeiro lugar, não perder a dimensão da utopia, da possibilidade pela qual se luta por uma sociedade igualitária, solidária e radicalmente democrática. Inclusive, com a socialização dos meios de produzir e de governar. Ser de esquerda é recusar que as idéias hegemônicas no mundo são as neoliberais, que se traduzem pelo caminho único na economia e pela despolitização da política. É não fazer efetivamente o jogo da direita aderindo com sutilezas cada vez menores ao programa neoliberal hegemônico. (…).
Universidade: José Arthur Giannotti, doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo e professor emérito do Departamento de Filosofia da USP: Esquerda é a não-aceitação do status quo. Ter esperança de que possamos ter um mundo melhor, e a certeza de que podemos aglutinar as pessoas para mudar. Mas, no campo universitário, aqueles que se chamam esquerda são basicamente os burocratas da cultura. E aqueles que fazem as pesquisas e que contribuem realmente para o avanço das ciências e das artes são apolíticos. Embora, a meu ver, sejam a ponta renovadora da universidade. (…).
Propaganda – Celso Loducca, publicitário, presidente e diretor de criação da agência Loducca 22: Depois de tudo que já vivi, ser de esquerda é lutar por justiça social, por igualdade de oportunidades, pelo direito das minorias, por uma relação mais harmônica com o planeta, com os habitantes do planeta, lutar por um crescimento sustentável que ajude tanto a justiça social quanto o meio ambiente, é lutar por uma coisa assim meio louca que é a ética. Hoje, muita gente já está consciente dessas pautas todas e não necessariamente encara isso como de esquerda. Estão se tornando pautas da humanidade, não de esquerda e direita. Mas estão se tornando, ainda não são. Por isso, ser de esquerda é lutar por essas pautas de interesse da humanidade, não por pautas pessoais, ou de interesses específicos de grupos, que são pautas de direita. (…).
Imprensa – Paulo Henrique Amorim, jornalista, colunista do UOL. Tem o blog Conversa Afiada no portal IG: Esquerda pra mim hoje, no Brasil, são as pessoas que diante da pergunta básica que se impõe à sociedade brasileira – o que é mais importante, reduzir os impostos ou distribuira renda?, e não vale responder os dois – acham que a prioridade é distribuir a.renda. (…).
Tereza Cruvinel, colunista política do jornal O Globo e comentarista da Globonews: A propósito da lenda de que os rótulos ideológicos perderam o sentido e o significado no mundo de hoje, gosto de uma velha tirada da Simone de Beauvoir, que dizia, já naquele tempo: “Se lhe apresentarem um homem que se apressa a dizer que não vê diferença entre esquerda e direita, tenha certeza de estar falando com um homem de direita”. (…).
Empresariado: Paulo Skaf, presidente da Fiesp e empresário do ramo têxtil: Houve um tempo em que as pessoas politizadas se dividiam entre a direita, o centro e a esquerda. Havia, inclusive, uma chamada “esquerda festiva”, como também uma “direita radical”. Era a época da Guerra Fria, do Muro de Berlim, do “comunismo vs. capitalismo”. Hoje, mesmo com a evolução do mundo, sobreviveram alguns conceitos daquele período que já fazem parte do passado. Infelizmente, em qualquer ideologia, ainda há radicais, defensores da violência, não democratas e inimigos do diálogo, da liberdade e da paz. Mas também ficaram alguns valores importantes, como a solidariedade, a fraternidade, a igualdade, que, muitas vezes até romanticamente defendidos pelos esquerdistas nos anos 60, 70 e 80, ainda ajudam a promover justiça social nos dias de hoje.
Sindicatos – Artur Henrique da Silva Santos, presidente da CUT: Eu me considero de esquerda e, como socialista, não penso no modelo existente em outros momentos históricos, mas continuo sendo uma pessoa que pretende atuar na transformação do modelo econômico vigente no mundo. Não são só o crescimento e o desenvolvimento econômico que interessam, mas que tipo de crescimento econômico queremos para o Brasil e para o mundo. (…)
Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical e deputado federal pelo PDT: Depois do PT, não sei se há esquerda ou direita. Eu me considero uma pessoa que vive defendendo o direito do trabalhador, defendendo um crescimento amplo. Se uma pessoa é qualificada (de esquerda) por aí, eu acho que sou, devo ser. Mas acho que esse negócio de esquerda está muito fora de moda atualmente. (…).
Judiciário – Luiz Fernandes de Souza, Procurador Regional da República: Esquerda hoje é o Chávez, o Evo, Fidel. Também alguns padres que atuam nas Farc, lá na Colômbia. Claro que, afora esses, o próprio governo do Brasil também está nesse campo, tal como os governos do Chile, do Uruguai e da Argentina. Ser de esquerda é o que o Alceu Amoroso Lima dizia: é caminhar para um socialismo com liberdade, com democracia, com distribuição ampla de bens. (…).
Movimentos sociais: André Fischer, criador do Mix Brasil, portal de informações GLBT, atua como dj e host do programa Rádio Mix Brasil no portal Mix Brasil: (…) Teoricamente, ser de esquerda significa priorizar as questões sociais sobre as questões econômico-financeiras. Dentro do movimento gay há uma corrente que ainda acredita que é impossível militar pela causa sem ser de esquerda. Até o começo desta década, a quase totalidade do movimento era composta por filiados de um espectro de partidos que ia do PSTU ao PT. Hoje, no entanto, essa linha tem espaço cada vez mais reduzido entre as lideranças. (…).
Gustavo Petta, presidente da UNE e aluno de jornalismo da PUC-Campinas: Ser de esquerda é você, diante da realidade que vivemos, diante das desigualdades, das injustiças, é você se inconformar e de alguma forma lutar contra isso. É lógico que eu acredito que só vamos superar essas realidades com transformações mais profundas e radicais, com a sociedade socialista. Agora, não necessariamente, para ser de esquerda, você precisa acreditar nessa transformação mais profunda. (…)
Sueli Carneiro, formada em Filosofia e fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra: É acreditar que outro mundo é possível, no qual se pode viver livre, democraticamente, com justiça e igualdade social, respeito aos direitos humanos, econômicos, sociais e culturais; portanto, é o desafio de construir um mundo isento de qualquer forma de opressão e discriminação, sobretudo de gênero, raça e etnia. Isso é tudo o que o modelo hegemônico globalizado não pode assegurar. (…).
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