O senador Alvaro Dias (Podemos), que retornou ao mandato após uma dura derrota eleitoral, conseguiu retomar seu capital político e em 2019 foi um dos principais articuladores do Congresso Nacional. Com foco no combate à corrupção, o senador paranaense tem capitaneado movimentos pela renovação das práticas do Senado. Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo ele comenta os principais projetos do Legislativo e tece críticas ao governo de Jair Bolsonaro. As informações são de João Frey, Gazeta do Povo.
Seu mandato parece ainda estar muito ligado às questões que surgiram das manifestações de rua em 2013. Para o senhor, esses são os temas principais da representação no Senado?
Meu mandato continua sendo o combate à corrupção. Isso tem sido a prioridade já que é na agenda da sociedade a prioridade número um. Durante a campanha passada a maioria dos candidatos também elegeu essa prioridade para a busca do voto, muitos dos eleitos se esqueceram, mas certamente a população não se esquece e um dia chegará a cobrança.
Nossa atuação priorizou o apoio intransigente à operação Lava Jato e especialmente aos seus principais agentes, que são os principais responsáveis pelo seu êxito […]
Tivemos a Lei de Abuso de Autoridade que faz parte desse grupo que com essa legislação quer intimidar aqueles que estão na Polícia Federal, no Ministério Público e na Justiça.
Nessa mesma linha, o fim do foro privilegiado e a possibilidade de prisão em segunda instância seguem sendo temas fundamentais.
Depois da derrota eleitora em 2018 o senhor conseguiu, como líder do Podemos, capitanear uma nova força política dentro do Senado. Como foi esse processo?
Acho que isso pode ficar como uma marca histórica no Senado […] No Senado nós obstruímos a sessão que votava apressadamente o projeto dos partidos, depois conseguimos mudar totalmente o projeto. Então realmente esse movimento que surgiu com o crescimento do Podemos e a articulação do “Muda Senado”, da qual participam também os outros senadores do Paraná, é uma tentativa de passar uma nova imagem para a população, de que existem, sim, senadores dispostos a promover mudanças pelo país.
Com esse movimento já é possível que o Podemos dispute espaços formais dentro do Senado. O senhor tem pretensões de disputar a presidência da Casa?
[…] Temos uma pauta, uma agenda, prioridades que nos unem e evitamos falar em pretensões pessoais para evitar desagregação. Quando chegar o momento adequado vamos discutir quem deve ser o candidato adequado de renovação dos costumes do Senado, mas ainda não é a hora.
Qual a tua análise do primeiro ano do governo do presidente Jair Bolsonaro?
[…] o governo foi muito parado em questões importantes, não demonstrou capacidade criativa, inovadora para propor mudanças. Por exemplo, terminamos o ano e o governo não tem proposta de reforma tributária. Insistiu muito na criação de um imposto – antes era a CPMF e agora é um imposto digital – mas certamente isso não tem acolhida na população, que já paga imposto demais e convive com esse manicômio tributário.
Das reformas importantes, só a da Previdência aconteceu, mas ela foi deixada praticamente pronta pelo governo Michel Temer (MDB).
O governo patina e faz opção pelo espetáculo, o que certamente desagrada as pessoas mais bem formadas do país. Esse espetáculo grotesco, com palavreado chulo e agressões fortuitas, isso é o que move a alma desse governo – algo que não contribui para promover mudanças essenciais na direção do futuro que a população almeja.
Entrevista disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/parana/alvaro-dias-entrevista-balanco-2019/
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