Rodrigo Polito e Rafael Bitencourt
Valor Econömico
Diante da preocupação da indústria com relação ao suprimento energético do país, integrantes da equipe energética da presidente Dilma Rousseff agiram ontem para tentar espantar o temor com relação à possibilidade de racionamento. Apesar de o governo não trabalhar oficialmente com o risco de escassez de oferta de energia, a “crença” da cúpula energética de Dilma é baseada exclusivamente na previsão de ocorrência de chuvas, para aliviar a situação dos reservatórios das hidrelétricas, que até agora, meados do período úmido, ainda não ocorreram.
“A gente está num momento em que as chuvas estão por vir. Elas estão atrasadas, mas estão por vir. Então seria completamente precipitado [falar em racionamento]. Vai entrar uma quantidade de água nos reservatórios. Não tem cabimento falar disso agora”, afirmou o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, a jornalistas, na sede da estatal, no Rio de Janeiro.
Em Brasília, outro integrante da equipe energética de Dilma, o secretário-executivo do ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, também afastou o risco de racionamento, contando que o Brasil tem uma “oferta estrutural de energia”. “Isso significa que nós temos geração e transmissão [necessárias]. Portanto não tem nenhuma hipótese de racionamento no horizonte que nós trabalhamos”, concluiu.
O presidente da EPE afirmou que o risco de racionamento não será discutido na reunião de hoje do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), em Brasília. Segundo Tolmasquim, o encontro é periódico e já estava previsto desde o fim do ano passado. Na reunião, porém, será analisada a situação crítica dos reservatórios, que estão no pior nível para janeiro desde o período pré-racionamento, em 2001.
O fato é que o governo aposta todas as fichas nas chuvas e não possui um plano “B”, caso elas não se concretizem, ou ocorram em menor quantidade. Ontem, o presidente da EPE disse que o governo ainda conta com mil MW de termelétricas emergenciais que podem ser acionadas para aliviar a tensão dos reservatórios. Mas a principal delas, AES Uruguaiana, de 639 MW de potência instalada, na fronteira com a Argentina, vai gerar no máximo 494 MW, devido às condições de oferta, temperatura e pressão do gás importado do país vizinho.
Tolmasquim ressaltou que está previsto um acréscimo de 9 mil MW de capacidade instalada de energia no país em 2013. O montante é superior ao dobro da capacidade adicional anual média de energia nos últimos anos, de 4 mil MW. Ele, no entanto, disse que os 9 mil MW entrarão em operação “escalonados” ao longo do ano. Desse total, 40% serão de hidrelétricas, 30% de termelétricas e 30% de fontes alternativas, como eólicas.
O presidente da EPE explicou que a situação do sistema elétrico hoje é “estruturalmente diferente” daquela observada em 2001. Segundo ele, o país conta hoje com uma capacidade instalada de termelétricas e de linhas de transmissão que garante o atendimento do sistema, mesmo em cenário de reservatórios hidrelétricos baixos.
“O período úmido atrasou. Os reservatórios estão realmente abaixo do normal. Mas é um fato que sabemos que pode ocorrer. Sabemos que a hidroelétrica é uma fonte que depende da hidrologia. E a hidrologia é algo que varia. Para sanar isso, introduzimos mais térmicas no sistema. Isso nos permite ter uma certa tranquilidade”, disse.
Tolmasquim também afirmou que está garantida a meta do governo de redução das tarifas de 20%, em média, a partir de fevereiro. Ele, porém, admitiu que “efeitos conjunturais”, como a operação emergencial de termelétricas, poderão ter impacto no valor final da redução tarifária. “Os 20% [de redução] vão ocorrer. Mas existem questões que são efeitos conjunturais. Tem anos em que essa redução vai ser maior, e anos em que ela vai ser menor”, disse.
Deixe um comentário