Quando escolheu a senadora paranaense Gleisi Helena Hoffmann para assumir a presidência nacional do Partido dos Trabalhadores, Lula o fez para ter à disposição uma catapulta de sandices contra a imprensa e o Judiciário e um para-raios que absorvesse as pesadas e seguidas críticas da opinião pública. Bizarrices à parte, Gleisi tem cumprido o papel à risca, até porque esse tipo de missão combina com sua devastadora intelectualidade.
Contudo, a estratégia desenhada por Lula e colocada em prática por Gleisi acabou produzindo o chamado efeito “rebote”, termo usado na medicina para descrever o retorno dos sintomas após o fim do tratamento. O Judiciário não gostou das provocações desafiadoras, ao passo que a imprensa decidiu não dar trégua a Lula no calvário que se ergue a partir da lama do Petrolão.
Gleisi Helena tem dado mostras de que está com disposição de sobra para desafiar a Justiça e garantir que Lula será candidato, mesmo contra ordem judicial, como se a legislação vigente no País nada valesse. Porém, no melhor estilo “faça o que digo, não o que faço”, a senadora não demonstra a mesma coragem em relação à própria carreira política, que diga-se passagem, está à beira do precipício.
Então estrela ascendente no PT, Gleisi foi a candidata ao Senado mais votada no Paraná em 2010, derrotando figuras políticas conhecidas no estado sulista, como Roberto Requião, Gustavo Fruet e Ricardo Barros.
De lá para cá, a presidente dos petistas encolheu em termos políticos, principalmente após ser flagrada no esquema de corrupção protagonizado pelo PT e que devorou os cofres da Petrobras. Atualmente, a senadora não mais esconde que seu desejo é concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados, opção que não é considerada segura.
O recuo, ou debandada, de Gleisi Helena tem explicação. A eleição consagradora de 2010 foi custeada em boa parte pela “petropropina”. Ré por corrupção em ação penal que tramita no STF e está a um passo de ser julgada, Gleisi é acusada de ter embolsado R$ 1 milhão do esquema criminoso que funcionava na Petrobras, mas há quem garanta que tal quantia é apenas a ponta de um grande e mal cheiroso iceberg.
Nas investigações que a Polícia Federal faz sobre Gleisi e o marido, o ex-ministro Paulo Bernardo da Silva (Planejamento e Comunicações), há casos muito mais escabrosos. Entre os quais o investigado pela Operação Custo Brasil, em que o Paulo Bernardo é acusado de ter comandado esquema que subtraiu mais R$ 100 milhões de servidores federais ativos e aposentados que recorreram a empréstimos consignados a partir do sistema Consist.
Em suma, o plano de Gleisi Hoffmann de tentar uma vaga de deputada federal faz sentido no campo do “salve-se quem puder”, pois a petista não pode ficar sem mandato, já que uma eventual derrota nas urnas deixará o para-raios de Lula sem o malfadado “foro privilegiado”, passando a responder perante o juiz Sérgio Moro, responsável pelas ações penais decorrentes da Operação Lava-Jato. A bomba-relógio foi acionada e Gleisi precisa desarmá-la antes do prazo final.
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