Editorial Folha de S.Paulo
PIB repete em 2018 resultado fraco do ano anterior, e renda per capita está 8% abaixo do nível de 2013
O desempenho da economia nacional nos meses finais do ano passado foi mais do que decepcionante. Os números divulgados nesta quinta-feira (28) pelo IBGE reforçam as dúvidas quanto à recuperação após o ciclo recessivo de 2014-16.
Medida pelo Produto Interno Bruto, a renda do país cresceu mísero 1,1% em 2018, tanto quanto em 2017, e a expansão perdeu velocidade no segundo semestre.
Os primeiros sinais de 2019 tampouco se mostram inspiradores. Há indícios de estagnação no mercado de trabalho, baixa de confiança entre empresários do comércio e dos serviços, perda de fôlego na recuperação já modesta do crédito. Estimativas para a variação do PIB até dezembro têm caído.
A incerteza ainda constitui um freio à atividade. Em 2015 e 2016, a derrocada política de Dilma Rousseff (PT) contribuiu para intensificar os efeitos de sua administração ruinosa. Os escândalos que envolveram Michel Temer (MDB) também cobraram seu preço ao esvaziar o começo de recuperação e a perspectiva de reformas em 2017.
Já no ano passado sentiram-se os impactos da crise dos caminhoneiros, de seus estilhaços político-econômicos e da campanha eleitoral. A ruína orçamentária do setor público, com queda aguda de investimentos em infraestrutura, é outra causa da quase estagnação.
A construção civil se mantém em retração profunda, prejudicada por escassez de obras governamentais, baixa confiança de consumidores, excesso de estoques de imóveis comerciais, ociosidade nas empresas e temores diante de novos negócios. É um exemplo concentrado e extremo dos efeitos da crise que ainda ronda o país.
O investimento em novas máquinas, equipamentos e instalações produtivas cresceu pela primeira vez desde 2013. Mas o avanço de 4,1% nem de longe compensa a perda de quase 30% entre 2014 e 2017. O capital produtivo do país está reduzido ou desgastado.
Como se não bastasse, a crise argentina afetou exportações e tirou impulso da indústria, abalada desde a irresponsabilidade caminhoneira do ano passado.
O consumo das famílias cresceu, mas em ritmo lento. Ao que parece, as taxas de juros mais baixas não fazem o efeito esperado.
O PIB per capita se encontra em nível 8,1% menor que o registrado ao final de 2013. Mesmo que a economia cresça os 2,5% ao ano previstos por economistas do mercado, o indicador voltaria aos níveis de 2013 apenas em 2023. Uma década perdida, portanto.
A esperança de mudar para melhor expectativas e resultados reside nas reformas econômicas, entre as quais a da Previdência é a mais urgente, mas não a única. Sem elas, o risco de recaída na recessão entrará em cena.
A tarefa do presidente que soma apenas dois meses no cargo é grande —e quanto mais tempo Jair Bolsonaro e sua equipe perderem em irrelevâncias, mais difícil será.
link do editorial
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2019/03/sem-boas-noticias.shtml
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