Ricardo Noblat
Ah, se a oposição tivesse força para paralisar o Congresso. Caso tivesse, o impeachment da presidente Dilma Rousseff estaria ao alcance de sua mão.
Mas o que paralisa o Congresso, e, por tabela, o governo, é a falta de força do próprio governo, sua desarticulação e o medo que ele sente de ir para o pau e, eventualmente, perder.
Uma presidente da República capaz de bater boca com um presidente da Câmara enlameado da cabeça aos pés é uma amadora, que age movida pelo fígado.
É também uma governanta ingovernável. O condutor de pessoas deve saber ouvir as que o rodeiam e se deixar conduzir pela opinião mais sábia que nem sempre é a sua.
Dilma procede de outra maneira. Ela acha que sabe tudo. Ela acha que erra pouco ou quase nada. Ela não confia nas pessoas próximas. E nem gosta delas. Aprecia – mas só aprecia – as que lhe dizem sim.
Há menos de um mês, Dilma reformou seu governo entregando ao PMDB mais ministérios, mais dinheiro, mais poder do que ele jamais sonhara obter. Fez o que Lula mandou.
Por tê-lo feito, demitiu um ministro da Educação escolhido por ela há seis meses porque precisava do cargo para Aloisio Mercadante, defenestrado da Casa Civil a pedido de Lula e do PT.
Seu ministro da Saúde, agora, é um deputado desconhecido do Piauí cujo único atributo para o cargo é o fato de ter sido psiquiatra, embora esteja impedido de clinicar.
Seu ministro da Ciência e Tecnologia é um deputado sem brilho do Rio de Janeiro que foi bem-sucedido como dono de restaurante. Dilma sente vergonha dele.
Ela distribuiu cargos e sinecuras a rodo, e ainda não terminou de distribuir tão insaciável é o apetite dos políticos que se aproveitam da fraqueza do governo. E, no entanto…
No entanto, a reforma não deu até aqui o resultado que ela esperava – a de conferir ao governo maioria confortável para aprovar no Congresso as matérias do seu interesse. A reforma fracassou.
Eduardo Cunha tem razão quando diz: “Nada tenho a ver com a ausência de votações na Câmara. O governo é que não se sente seguro para votar nada”.
A maior prova de que ele tem razão é o fantasma do impeachment que aterroriza Dilma. Para exorcizá-lo, o governo não precisaria ter apelado para o Supremo Tribunal Federal (STF) como o fez.
O STF suspendeu o rito fixado por Eduardo para tramitação do impeachment na Câmara. Se Eduardo o recusasse, a oposição poderia recorrer ao plenário da decisão.
E então metade mais um dos votos presentes decidiria se o impeachment iria adiante ou se seria arquivado. O governo seria incapaz de ter maioria com um quórum tão simples?
Dito de outra forma. São 513 os deputados. Se todos comparecessem para votar, bastaria ao governo contar com 257 votos para enterrar o impeachment.
Pelo jeito, nem isso o governo tem. O que mais ele falta fazer para poder governar? Se o Congresso não o sustenta, se as ruas o detestam, como ele pensa em atravessar os próximos três anos?
O STF não cassou o direito do presidente da Câmara de aceitar ou não a abertura de um processo de impeachment. É isso o que assombra Dilma.
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