Jornal do Estado
O comerciante Valdomiro Mendes, morador da Vila Terra Santa, no Tatuquara, tem que andar quatro quilômetros para apanhar a correspondência deixada pelos Correios. Em breve, no entanto, este problema deixará de existir: Valdomiro e outros moradores da Vila ganharam agora um endereço oficial, com nome de rua e numeração predial.
O trabalho de nominar as ruas e numerar as casas é feito pelo Departamento de Cadastro Técnico da Secretaria de Urbanismo e já beneficiou este ano 6 mil famílias. No ano passado foram atendidas 11 mil famílias.
O benefício alcança moradores de áreas como a Vila Terra Santa. São ocupações irregulares que se consolidaram com o tempo, mas não contavam com endereço oficial porque não tinham projeto de loteamento aprovado.
“Anteriormente, este benefício não seria possível porque a aprovação do loteamento era requisito básico para o endereçamento. Agora, esta norma foi flexibilizada e as áreas irregulares que estão em processo de regularização pela Cohab também têm este serviço”, explica a secretária do Urbanismo, Suely Hass.
Só este ano, a equipe que trabalha com a numeração das casas, do Serviço de Atualização de Endereços, esteve nas Vilas Olinda, Santa Lúcia, Jardim Califórnia e Yasmin, além da Terra Santa, onde foram numeradas 687 casas.
O trabalho também alcançou conjuntos da Cohab, como o Moradias Aquarela, onde foram reassentadas famílias originárias da Vila Nova Barigui, na CIC. Neste caso, a numeração predial substituiu o número provisório que havia sido dado pela Cohab para identificar os lotes.
Duas equipes do Departamento de Cadastro Técnico do SMU, com um total de seis funcionários, fazem a numeração das casas nas Vilas. Os números, criados a partir de critérios técnicos, são pintados (na cor verde) em local visível na parte da frente do imóvel. Mais tarde, o morador, se desejar, poderá instalar placa com o número predial determinado pela Prefeitura.
O trabalho de numeração acontece geralmente nos finais de semana, quando os moradores estão presentes e recebem as orientações quanto às providências que devem ser tomadas para incorporar o endereço às suas rotinas. Uma destas providências é contatar as concessionárias de serviços públicos (como Copel e Sanepar) para cadastrar o endereço oficial das casas.
Quando a equipe do Urbanismo chega às Vilas são sempre bem recebidos pelos moradores. “Agora, a gente tem existência legal”, resume o comerciante José Roque, mais conhecido como Vanjo, secretário da Associação de Moradores da Vila Terra Santa.
“Sem numeração das casas, não podíamos receber correspondência nem encomendas. Além disso, era impossível conseguir comprovante de endereço para emprego ou cadastro em loja. Quem procurava um endereço na Vila dificilmente encontrava, porque havia casos em que na mesma rua havia três ou mais casas com o mesmo número”, conta Vanjo.
Cacildo de Jesus Chaves, dono de um salão de cabeleireiro na área, conta que a solução que arranjou para receber correspondência foi pedir “emprestado” o endereço de um parente. Assim, sempre que recebe carta ou encomenda pelos Correios tem que sair de casa para ter acesso ao que foi enviado. “A numeração das casas vai ajudar bastante todo mundo”, disse.
Valdomiro Mendes tentou outro artifício para receber correspondência. A solução adotada por ele foi dar o endereço de um mercado onde costuma fazer compras, que não é tão próximo da Vila (são quatro quilômetros de distância), mas onde o dono concorda em servir como caixa postal informal da comunidade. “Já atrasei o pagamento de contas porque não recebi o boleto em tempo. Agora, isso vai acabar”, diz ele.
Numeração segue critério técnico
A equipe do Departamento de Cadastro Técnico da Secretaria Municipal do Urbanismo só sai a campo para fazer a numeração das casas em áreas irregulares quando o nome oficial das ruas já está definido.
Os nomes fazem parte de um banco de denominações mantido pela Secretaria e alimentado pela Câmara de Vereadores, que propõe e aprova nomes para as ruas.
Nesta etapa, as ruas já estão com as placas indicativas fixadas em postes nas esquinas. A equipe encarregada da pintura dos números chega com uma planta do local, determinando a sequência da numeração.
A lógica desta sequência segue um critério técnico adotado em toda a cidade. O primeiro passo é definir o que é chamado de o “nó de quadra” ou o “ponto zero” da rua, ou seja, o marco inicial e a direção da via (considerando o sentido centro-bairro).
Isso permite saber a direção que os números vão crescer, sempre posicionando os pares do lado direito da rua e os ímpares do lado esquerdo. A numeração corresponde ao ponto médio do lote e indica a distância do imóvel ao ponto zero da rua. Por exemplo: a casa 253 de Valdomiro Mendes, da Vila Terra Santa, a cerca de 250 metros do início da rua Ricardo Eugênio Graeser.
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