Secretário de Requião aponta erros na cobertura da Globo no Paraná
Benedito Pires Trindade, secretário de Imprensa, lista erros factuais cometidos na cobertura da Globo sobre o Porto de Paranaguá. Segundo ele, posição contrária ao caráter público do porto não pode justificar distorções. Ali Kamel, editor-executivo de jornalismo da emissora, disse à Carta Maior que está analisando o caso.
Marco Aurélio Weissheimer – Carta Maior
O secretário de Imprensa do Governo do Paraná, Benedito Pires Trindade, enviou quarta-feira (8) uma carta aos jornalistas Ali Kamel, Carlos Eduardo Schroder, Willian Bonner, Elaine Camilo, Roberto Machado, Wilson Serra e Caio Barsotti, todos da Rede Globo, apontando uma série de erros na cobertura da emissora sobre o funcionamento do porto público de Paranaguá. “Pela segunda vez, em menos de três meses, a Rede Globo erra sobre o Porto de Paranaguá. No dia 5 de agosto a tal caravana de Pedro Bial esteve no Porto e viu uma fila diante do terminal da Cargill, privado, e atribuiu-a à ineficiência do porto público. Chegou a afirmar que nos terminais arrendados à iniciativa privada a coisa ainda anda. Pior ainda, sem nenhuma sustentação em fatos, apenas no ouviu dizer, disse que os caminhões podem amargar até 24 horas na fila”, escreve o secretário, que relaciona outros episódios da cobertura da Globo que seria marcada pela desinformação.
“No dia 7 de novembro, de novo no Jornal Nacional”, acrescenta, “mais um amontoado de desinformações”. “Usando imagens de arquivo, a Globo volta a ver filas no Porto de Paranaguá. Chega a afirmar que as tais filas estendem-se por 90 quilômetros, atingindo Curitiba”. A Secretaria de Imprensa do governo do PR entrou em contato com a afiliada da Globo no Estado e foi informada que a matéria não havia sido produzida no Paraná e que o jornalismo local da emissora não tinha participado da produção da mesma. “Donde se deduz que tudo foi feito com imagens de arquivo e dados também há tanto tempo arquivados, em desuso, superados pelos fatos”, assinala Benedito Pires. Na carta, ele observa que, após um processo de reorganização feito pelo governo do Estado, o Porto de Paranaguá não tem mais filas. “A nova logística exige que os caminhões que cheguem ao Porto estejam com as suas cargas negociadas e prontas para serem descarregadas nos terminais e embarcadas nos navios”, explica aos jornalistas.
Filas públicas ou privadas?
“Ao contrário de antigamente”, prossegue a carta, “quando havia aquelas filas das imagens de arquivo da Globo, tempo em que os exportadores, de forma abusada, transformavam os caminhões em silos sobre rodas, enquanto negociavam a venda do grão e aguardavam a chegada do navio. Hoje, reafirme-se, só desce a Paranaguá o caminhão com carga já vendida e o embarque programado”. O secretário Benedito Pires destaca o erro cometido na matéria de Pedro Bial: “Se alguns terminais privados (caso os senhores não saibam há terminais privados no Porto) não adotam a mesma logística e às vezes se enroscam em filas, a ineficiência acaba sendo atribuída ao terminal público, como fez Pedro Bial)”. E aponta um outro erro, que seria o maior de todos e que teria sido cometido por Miriam Leitão e Renato Machado: “No Bom Dia Brasil, do dia 27 de abril de 2004, eles fizeram duras críticas ao governador Roberto Requião, por causa, mais uma vez do Porto de Paranaguá”.
“Miriam Leitão chegou a afirmar que regras inventadas pelo governador Roberto Requião, como a de verificar toda soja embarcada para separar a transgênica, estavam contribuindo para a formação de filas no Porto de Paranaguá. De novo, as benditas filas. Ao comentário da jornalista, adicionou sabiamente Renato Machado: A separação da soja certamente deve demorar muito tempo”. O secretário de Imprensa rebate essas afirmações, assinalando que “para verificar se a soja é transgênica ou não, não se demora mais do que dois minutos, como qualquer pessoa bem informada sobre esse procedimento sabe”. E protesta: “Mas os jornalistas não se limitaram a isso, foram além. Criticando a tal da ineficiência e as filas recorrentes, informaram que de janeiro a março de 2004, por causa de tantos gargalos, o Porto de Paranaguá havia exportado apenas 293 milhões de toneladas de soja, contra 669 milhões de toneladas exportadas no mesmo período do ano anterior”.
Uma safra de outro mundo
Aqui, o erro foi ainda mais grosseiro, aponta o secretário. “Senhores, o mundo não produz 293 milhões de toneladas de soja, muito menos 669 milhões. A atual safra mundial, segundo números otimistas, deve chegar a 224 milhões de toneladas. Mais ainda, Miriam Leitão afirmava que, naquele dia, 50 navios estavam aguardando embarque nos cais de Paranaguá. Impossível, somados os berços públicos e privados, 23 navios podem atracar de uma só vez”. “Como é possível”,pergunta Benedito Pires, “conviver com e aceitar tanta desinformação, tanta superficialidade e irresponsabilidade? A ligeireza com que assuntos tão sérios são tratados prejudica imensamente o Paraná e o seu Porto. Todo bem que a Globo tenha, editorialmente, uma posição pró-privatização dos Portos. O que não se admite é que essa posição contamine a informação”.
Na correspondência encaminhada aos jornalistas da Globo, o secretário lembra que Paranaguá é hoje o maior porto graneleiro do mundo e que deve fechar o ano com uma receita cambial superior a 10 bilhões de dólares, “mais de duas vezes a receita cambial do primeiro ano do governo de Requião”. “A comparação com Santos”, acrescenta, “seria adequada se a Globo informasse que as exportações de carros que a Grimaldi fazia pelo terminal paulista foram transferidas ao Paraná, por causa das vantagens aqui oferecidas, como preço, rapidez, segurança e confiabilidade”. Além de ser o maior exportador de grãos do país (60% dos grãos exportados do país saem de Paranaguá), sustenta ainda Benedito Pires, o porto paranaense transforma-se em um terminal multicargas, ganhando a competição com outros para exportação de madeira e congelados, por exemplo.
A separação da soja transgênica
Ele destaca ainda a avaliação do professor Surinam Nogueira de Souza Jr., da Fundação Getúlio Vargas, para quem a modernização do Porto de Paranaguá, realizada durante o governo Requião, transformou-o em um “exemplo de que a administração pública pode ser mais eficiente do que a administração privada”. Segundo ele, a nova logística de operação adotada pelo Porto o faz um dos mais eficientes do país. Outra avaliação positiva citada pelo secretário é a do Cônsul Geral dos Estados Unidos no Brasil, Christopher McMullen, que, em nome do Serviço Comercial de seu país, firmou um convênio com os portos de Paranaguá e Antonina, escolhendo-os para ser a principal porta de entrada de produtos, serviços e tecnologia americanos. Segundo o cônsul, “a escolha dos portos paranaenses ´resultado do bom desempenho obtido pelos terminais nos últimos três anos”.
Por fim, aponta o que seria mais um erro de informação, desta vez relativo à separação entre a soja transgênica e a não-transgênica. “A segregação da soja transgênica da não transgênica não é uma birra, ou como disse Miriam Leitão, uma regra inventada pelo governador Requião. É da Lei. E o Paraná obedece à lei sobre o assunto. Hoje, o Porto de Paranaguá não rejeita a exportação de grãos transgênicos. Foi designado um terminal especialmente para isso. O que o Paraná não faz é misturar a soja transgênica com a convencional. Mesmo porque a produção de soja transgênica em nosso Estado é insignificante”. E acrescenta: “Hoje, o Porto de Paranaguá é conhecido no mundo todo como um porto que a faz a segregação e que o importador jamais correrá o risco de receber o grão contaminado. Como até mesmo a Globo deve saber, as tantas restrições internacionais aos produtos transgênicos (União Européia, China, Índia) fazem com que o preço da soja convencional paranaense seja superior ao do grão geneticamente modificado”.
“Senhores, são informações, são fatos. Nada mais do que a verdade. Gostaríamos que, pelo menos uma vez, isso fosse refletido nos telejornais da Globo. Não é o fato da rede ter uma clara posição pró-privatizações que deve fazer com que ela deixe de reconhecer a eficiência do porto público paranaense”, conclui a carta do secretário.
Resposta de Ali Kamel
A Carta Maior entrou em contato, por correio eletrônico, com Ali Kamel, editor-executivo da Central Globo de Jornalismo, indagando sobre a posição da emissora a respeito do conteúdo da carta. Sua resposta foi a seguinte: “Estamos analisando o que aconteceu. Se estivermos errados, vamos admitir isso e explicar por que erramos. Ainda até sábado”.
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