A ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha, indiciada pela Polícia Federal pelos crimes de formação de quadrilha e corrupção em 2013, ameaçou envolver autoridades do governo Dilma Rousseff, entre elas, os paranaenses Gleisi Hoffmann e Gilberto Carvalho – no escândalo para obter recursos que lhe garantissem o pagamento de advogados e até para investimentos em seus negócios privados, como a compra de uma franquia de escola de inglês, segundo denúncia publicada na edição desta semana da revista Veja. As informações são da Agência Globo.
A reportagem mostra mensagens de celular trocadas por Rose Noronha com interlocutores fazendo as ameaças de envolvimento de autoridades do governo Dilma, como o secretário geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e o chefe de gabinete de Dilma, Beto Vasconcelos, entre outros. Tudo começou em 2013, no auge das investigações contra ela, quando ainda lutava para provar sua inocência no inquérito desenvolvido pela PF sobre uma quadrilha que vendia facilidades no governo. Ela foi flagrada atuando com a quadrilha, quando foi demitida e indiciada. Temendo ser presa e abandonada pelo PT, Rose tentou envolver os antigos amigos. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sempre a protegeu, não atendia mais suas ligações. E o ex-ministro José Dirceu estava mais preocupado em salvar a própria pele no caso do mensalão no Supremo Tribunal Federal.
Segundo a revista, Rose concluiu que a única maneira de chamar a atenção dos antigos parceiros era ameaçar envolver figuras importantes do governo no escândalo do qual era alvo. Mensagens de celular trocadas por Rose com pessoas próximas mostram como foi tramada a reação da ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo. Numa das conversas em abril do ano passado, ela ameaça envolver a então ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann.
Rosemary: “Tão chamando a ministra da Casa Civil (Gleisi Hoffmann) de Judas!!! Ela bem que merece!!”. Interlocutor: “Ela vazou a porcaria toda. Vamos em frente”. Eles se referiam ao vazamento da investigação feita pela Controladoria-Geral da União. Rose acreditava que o próprio Palácio do Planalto estava por trás das revelações sobre o desfecho da sindicância contra ela. A “porcaria toda” incluía o seu enriquecimento ilícito no cargo em São Paulo.
Como estava cada vez mais encrencada, Rosemary resolveu arrastar junto figuras centrais do governo, se possível a própria presidente da República, Dilma Rousseff. A estratégia era a de constranger os antigos colegas de governo, pressionando-os a depor no processo que tramitava na Controladoria-Geral da União.
Rosemary: “Beleza. Quero colocar o Beto (Vasconcelos, chefe de gabinete da presidente) e a Erenice Guerra (ex-ministra da Casa Civil do governo Lula)”. Interlocutor: “Você quer estremecer o chão deles?”. Rosemary: “Sim”. Interlocutor: “Porque vai bombar. Gilberto Carvalho (ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência) também?”. Rosemary: “O.K.”. Interlocutor: “Vai rolar muito stress. Vão bater na porta da Dilma. Vão ficar assustados”.
O plano de Rose tinha por objetivo reestalecer as suas ligações com “Deus”, como a ex-secretária costuma se referir ao ex-presidente Lula. Em outra troca de menagens de celular, um interlocutor diz à Rose que, com a indicação das testemunhas – Gilberto Carvalho, Beto Vasconcelos e Erenice Guerra – no processo da CGU, “o momento é oportuno para aproximação com Deus”. Mas ela se mostra cética. “Vai ser difícil. Ele está com muitas viagens. Não posso depender dele”, diz Rose em outra mensagem à qual Veja teve acesso.
Mas acabou dando certo a estratégia de Rose, ao ponto de Paulo Okamoto, diretor do Instituto Lula e um dos mais próximos assessores do ex-presidente, ter cuidado pessoalmente de algumas necessidades da família de Rose durante o processo na CGU. Além de conseguir ajuda para bancar dezenas de bons advogados, a ex-secretária reformou a cobertura onde mora em São Paulo e conseguiu ingressar no mundo dos negócios. Comprou uma franquia da rede de escolas de inglês Red Balloon. Para evitar problemas com o Fisco e a PF, colocou a franquia no nome das filhas Meline e Mirelle, além do ex-marido José Cláudio Noronha. Tudo para despistar as autoridades, que, no entanto, já haviam apreendido em 2012, no início das investigações, documentos que revelavam o projeto de compra da franquia.
O negócio com a franquia foi avaliado em R$ 690 mil, dinheiro que Rose e a família não tinha. A revista pergunta como o dinheiro foi obtido à Meline Torres, a filha de Rose. Ela disse que tinha economias. “Eu trabalhei muito durante a minha vida (ela tem 29 anos). Trabalho desde os 18 anos com registro em carteira e tenho poupança. Meu pai também está me ajudando com recursos dele, aliás, do trabalho de uma vida”, explicou Meline à Veja. Rose não quis se pronunciar.
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