Resultados das urnas revelam acirrada divisão política do País
Não foi propriamente uma surpresa. Pesquisas registravam um empate entre as possibilidades de se ter ou não segundo turno. O que incomoda no resultado deste primeiro turno é ver que o País está dividido praticamente ao meio.
Nelson Breve – Carta Maior
BRASÍLIA – Faltavam dois minutos para a meia-noite deste domingo (01), quando o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Aurélio Mello, chegou aos auditório do Centro de Divulgação de Resultados das Eleições de 2006 para anunciar que não havia mais dúvidas sobre a realização de um segundo turno para a disputa presidencial. Ainda havia quase um milhão e cem mil votos para serem computados, mas não seria possível ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva alcançar a maioria absoluta dos votos válidos que lhe asseguraria a reeleição no primeiro turno.
Ele estava com 48,65% dos votos válidos. Mais precisamente, 46.291.573. Seus adversários somavam juntos 48.858.784. O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, havia assegurado a passagem para o segundo turno com pouco mais de 39,5 milhões de votos. Cerca de 41% dos válidos. Estava encerrado o período de angústia, que começara pouco depois das 19 horas, quando os primeiro resultados oficiais da eleição presidencial começaram a ser divulgados pelo TSE.
A linguagem empolada de Marco Aurélio, recheada de tecnicismos jurídicos, não conseguia esconder a satisfação do ministro ao proclamar o resultado. “Que haja uma disputa que legitime a conclusão que teremos no dia 29 de outubro”, disse o presidente do TSE depois de apresentar o resultado parcial que assegurava o segundo turno. “Que os candidatos revelem os respectivos perfis e o façam co a maior transparência possível”, emendou, concluindo: “Para isso, teremos os debates. Que seja o vencedor aquele que venha a lograr no final dessa caminhada o endosso do eleitorado”.
A confirmação do segundo turno não foi propriamente uma surpresa. As pesquisas da última semana vinham apontando para essa possibilidade. A de boca de urna registrou um empate entre as possibilidades de ter ou não segundo turno. O que incomoda no resultado deste primeiro turno é ver que o País está dividido praticamente ao meio. Lula venceu a disputa em 16 estados que abrigam cerca de 55% do eleitorado. Todos os estados da Região Nordeste, onde teve 67% dos votos válidos. Metade da Região Norte, onde venceu com 56% do total. E em três dos quatros estados da região Sudeste, perdendo apenas
Esse cenário de divisão, se repete tanto na futura formação das bancadas na Câmara dos Deputados (ainda sem números e listas definitivas), quanto na do Senado. Os partidos que apoiaram formal ou informalmente o presidente, elegeram 14 dos 27 senadores. Enquanto os de oposição elegeram 13. Desta forma, o governo teria um estreita maioria institucional no Senado, de 42 contra 39. Além disso, o aliado PMDB perdeu a condição de maior bancada para o PFL, que elegeu seis, devendo chegar a 18. O PMDB elegeu quatro, mas sua bancada cairá de 20 para 15. Até o início da próxima Legislatura, o partido poderá cooptar parlamentares para reforçar a bancada, assegurando o direito de indicar o presidente do Congresso. Mas já haverá um pretexto para que a disputa por esse cargo seja sanguinária.
O que deve frustrar mais os aliados do presidente que torciam e esperavam uma vitória no primeiro turno é ter a convicção de que esse prolongamento da disputa se deve mais pelos erros e trapalhadas da campanha petista do que por méritos dos adversários, que não apresentaram ao eleitorado um projeto alternativo que fosse reconhecido como melhor para o país. Limitaram-se a fazer um contraponto a partir da bandeira da moralidade, que foi suficiente para chegar ao segundo turno, mas não basta para vencer as eleições.
Em relação aos governo estaduais, o cenário não deve ficar tão ruim, pois o presidente mantém boas relações inclusive com os governadores da oposição eleitos ou reeleitos no primeiro turno. O PT conseguiu manter dois dos três estados que governava (Acre e Piauí) e tomou outros dois do PFL (Sergipe e Bahia). No caso da Bahia, a vitória do ex-ministro Jaques Wagner foi a maior surpresa desta eleição. Até anteontem, as pesquisas indicavam a reeleição de Paulo Souto no primeiro turno. A virada foi o ponto alto do PT, que derrotou o carlismo, tirando do governo o grupo político do senador Antonio Carlos Magalhães, que mandava no estado há 16 anos.
O PT também conseguiu colocar no segundo turno seus candidatos que disputam os governos do Rio Grande do Sul e do Pará. Nos dois casos, os adversários são do PSDB. As vitórias do PMDB no Espírito Santo, no Amazonas e no Tocantins, também podem ser consideradas de aliados do PT. Assim como a dos PSB no Ceará. Para o segundo turno, estará ao lado do PMDB na Paraíba, em Goiás, no Paraná e no Rio de Janeiro, e do PSB em Pernambuco e no Rio Grande do Norte.
Na contabilidade das eleições estaduais, os aliados de Lula venceram em oito das 17 disputas encerradas no primeiro turno. Sem falar em casos heterodoxos como o do Mato Grosso (PPS), do Amapá (PDT) e de Alagoas (PSDB), onde o presidente colaborou com os adversários do PT, mantendo neutralidade na disputa. Mas é evidente que o PSDB também sai com força do primeiro turno, principalmente por manter o comando dos dois estados com maior peso político do país, São Paulo e Minas Gerais. Os tucanos elegeram quatro governadores e podem chegar a seis. Não é muito para quem elegeu nove na eleição passada.
O PMDB também sai com quatro governadores vitoriosos no primeiro turno (Espírito Santo, Amazonas, Tocantins e Mato Grosso do Sul. Os três primeiro foram reeleitos. Pode chegar a dez no segundo turno (Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, Goiás, Rio Grande do Norte e Paraíba). O PFL só conseguiu eleger o do Distrito Federal e disputa o segundo turno no Maranhão e
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