Quando assumiu a segunda gestão do governo do Paraná, em janeiro 2003, Roberto Requião (PMDB) bateu de frente com a política da privatização. Ele impediu a venda da Copel, companhia energética do estado. Empossado, o governador produziu vasta lista de decretos lei promovendo desapropriações, anulando concessões, privatizações e retomando o controle de empresas que estavam com gestão privada.
Na maioria dos casos, as iniciativas de Requião, obstinado estatista, foram questionadas na Justiça – muitas delas ainda se arrastam.
No entanto, o governador paranaense vem conseguindo tornar o poder público cada vez mais forte na sua intervenção na economia. Rotineiramente, Requião é acusado de "quebrar contratos". O governador retomou, por exemplo, o controle da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), anulando o acordo de acionistas que entregou o comando da empresa a holding Dominó Holdings S.A.
Como a retomada foi questionada na Justiça, e começaram a aparecer sentenças desfavoráveis, recentemente ele mudou de estratégia e já comprou uma parte das ações pertencentes aos acionistas privados para retomar o controle da estatal sem mais questionamentos. Para isso, usou a capitalizada Copel, a estatal de energia, com a qual também tentou intervir também nas concessões de pedágio feitas pelo governo federal no Paraná. A Copel participou do leilão e perdeu porque seu preço para a tarifa de pedágio foi superior ao lance vencedor, a espanhola OHL.
Roberto Requião também comemorou o fato de o governo federal ter desistido de privatizar oito portos brasileiros, convencido de que modelos de gestão, como os adotados na administração dos portos paranaenses e de Rio Grande, não devem sair das mãos do Estado.
"Podemos comemorar a vitória do interesse público", disse Requião. "No Paraná, não existe direito adquirido contra o interesse público. Aqui colocamos as coisas no devido lugar, como na Sanepar, empresa de saneamento".
Requião permanece em briga contínua com as concessionárias de rodovias por causa das tarifas do pedágio que, no Paraná, estão entre as maiores do País – embora a Justiça venha decidindo quase sempre contra o governo. Nesta briga, quem perdeu foi o consumidor. As tarifas não abaixaram e obras importantes nas rodovias paranaenses deixaram de ser feitas. "É necessário fortalecer o Estado para que se faça os investimentos necessários em infra-estrutura", afirma o governador.
Requião acabou também com a hegemonia dos bancos privados (Itaú) na gestão das contas de governo, passando toda a movimentação financeira do estado para o Banco do Brasil. Em 2007, retomou o controle da ferrovia que construiu na sua primeira gestão a Ferroeste — que liga Guarapuava a Cascavel e que havia sido privatizada. A Justiça reconheceu o não cumprimento do contrato da empresa que assumiu o controle do empreendimento.
Considerado um gestor à esquerda, Requião agrada boa parte do PT, com o qual ele mantém excelente relacionamento. Rompeu contratos, promoveu o enfrentamento da imprensa, criou obstáculos aos produtos transgênicos, enfrentando o agronegócio. Ainda tem bom relacionamento com o presidente venezuelano Hugo Chaves, a quem já trouxe para visitar o Paraná. Na semana passada, por sinal, Requião estava em Cuba participando da "Conferência sobre o Equilíbrio do Mundo", convidado pelo governo local.
(Norberto Staviski – Gazeta Mercantil)
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