Repressão ao contrabando aumenta homicídios em Foz
Foz do Iguaçu – O contrabando e o tráfico de drogas e armas na fronteira são apontados como os responsáveis pelo aumento de quase 10% no número de homicídios registrados pelo Instituto Médico Legal (IML) de Foz do Iguaçu. De janeiro a novembro, 290 pessoas foram assassinadas na região contra 257 no mesmo período de 2005; e 283 em todo o ano passado. A maioria das vítimas era pobre, desempregada e tinha menos de 30 anos.
De acordo com a polícia, quase a totalidade dos casos tem ligação com a falta de oportunidade e de políticas de emprego para a absorção da mão-de-obra. Sem trabalho e seduzidos pela ilusão do dinheiro fácil, muitos dos que antes engrossavam o exército de “laranjas” – os contratados para fazer o transporte de mercadorias contrabandeadas entre o Paraguai e o Brasil – hoje servem ao tráfico.
“O alto índice de homicídios está diretamente relacionado ao fechamento da ponte”, assegura o delegado operacional da 6.ª Subdivisão Policial de Foz do Iguaçu, Adriano Chohfi, ao associar a violência à repressão intensificada nos últimos dois anos pela Receita Federal (RF). “A cidade não tem outro meio de subsistência. Há anos vive do comércio de importados entre o Brasil e o Paraguai. Sem alternativas, o tráfico aparece como o mais lucrativo”, diz.
Segundo o secretário Antidrogas do município, José Elias Aiex Neto, depois que o Brasil aprovou a Lei do Abate, que coibiu o tráfico de drogas aéreo, o transporte de entorpecentes terrestre cresceu, principalmente na rota Paraguai Brasil.
Em Foz do Iguaçu, a primeira tática usada pelos traficantes para fazer a droga chegar ao Brasil, de acordo com Aiex, foi a de infiltrar-se no meio dos sacoleiros. “Há muita gente presa que relata ter sido enganada, dizendo que pensava estar levando mercadoria e carregava droga”, conta. Segundo Aiex, a situação em Foz do Iguaçu é preocupante porque fatalmente a cidade atingirá este ano a taxa de 100 homicídios para cada 100 mil habitantes, índice quase três vezes superior à média nacional, que é de 24 homicídios/ano para cada 100 mil habitantes. Hoje, a cidade tem 309 mil habitantes.
Em 15 anos, as taxas de homicídio em Foz praticamente triplicaram. Quase todos os crimes acontecem na periferia e são motivados pelo controle do tráfico de drogas e do contrabando de cigarros. Tais práticas levam aos chamados “acertos de conta” entre membros de diferentes quadrilhas ou usuários de droga em débito com traficantes. Procurados pela Justiça, recém-saídos da cadeia ou com passagem pela polícia também estão no topo da lista de assassinatos. Cerca de 80% respondiam por algum crime.
As próprias características da fronteira, aponta a polícia, acabam servindo como facilitadores para a impunidade e a conseqüente onda de violência. Outro fator que prejudica a elucidação dos casos é a lei do silêncio que impera nas favelas, ou seja, o medo que as pessoas têm de falar.
(Fabiula Wurmeister e Denise Paro)
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