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Repórter paraguaio não vive sem armas

Simon Romero – New York Times

“Me sinto reconfortado pelos homens armados na varanda. Mas, se eles foram abatidos, ainda terei uma arma em minha mão”

PEDRO JUAN CABALLERO, Paraguai – Com a pistola semiautomática Browning nas mãos, ele olhou por uma fresta na cortina. Estudou as imagens de transeuntes nas telas de TV de circuito fechado que mostravam a movimentação em frente à sua casa.

“Me sinto reconfortado pela presença deles”, disse Cándido Figueredo, 56, fazendo um gesto em direção a seus guarda-costas na varanda. “Eles são minha primeira linha de defesa.” Com um sorriso tênue, acrescentou: “Mas carrego uma pistola na mão, caso eles sejam abatidos”.

Autoridade no assunto do tráfico de drogas no Paraguai, Figueredo optou por um método pouco convencional -pelo menos entre jornalistas- para sobreviver às ameaças de morte: armou-se fortemente. Seu arsenal inclui submetralhadoras chilenas de nove milímetros, pistolas automáticas israelenses e a pistola Browning, fabricada na Bélgica, que geralmente fica sobre sua mesa de trabalho ou seu criado-mudo.

Figueredo é há 17 anos correspondente do “ABC Color”, o maior jornal paraguaio, em Pedro Juan Caballero, cidade que faz fronteira com o Brasil e é conhecida pelo tráfico de drogas e armas.

Há 16 anos e oito meses, ele vive como prisioneiro em sua própria casa.  Quase todos na cidade conhecem sua casa, situada numa rua tranquila, a pouca distância das mansões rocambolescas que exemplificam as mais recentes contribuições do Paraguai à arquitetura de “estilo narco”.

É impossível não ver a segurança 24 horas postada diante de sua casa, formada por quatro homens fortemente armados da polícia nacional.

Às vezes, eles impedem ataques. Outras vezes, não. A cozinha da casa traz buracos deixados por uma rajada de balas em 2003.
“Raramente saímos”, contou a mulher do jornalista, a psicóloga Luz Patricia Bellenzier, 28. “Sabemos que nossos telefones estão grampeados. A falta de sol às vezes me incomoda, como se vivêssemos num ‘bunker’.”

Pedro Juan Caballero é vizinha à cidade brasileira gêmea Ponta Porã. O tráfico de drogas é a atividade que dá vida à cidade. O Paraguai possui uma das maiores safras de maconha da América Latina, abastecendo o Brasil e a Argentina. Fazendas ao longo da fronteira oriental vêm funcionando como importante ponto de passagem na rota da cocaína andina.

Apesar disso, a violência do narcotráfico no Paraguai mal chega a ser registrada em outros países, a despeito do aumento constante de mortes. Em fevereiro, o editor de jornal Paulo Rodrigues, 51, foi morto a tiros em Ponta Porã. Em 2007, dois agressores mataram o repórter de rádio Tito Alberto Palma na cidade de Mayor Otaño.

Cándido Figueredo sabe que sua hora pode chegar a qualquer momento. Contou que, ao longo dos anos, já recebeu dezenas de ameaças, pelo telefone, e-mail, mensagens de texto e recados transmitidos pessoalmente.

Ele se tornou repórter porque achou que seria uma maneira de lançar luz sobre determinados males. Brinca, dizendo que não escolheu o jornalismo pelo dinheiro. Mesmo sendo um dos repórteres mais famosos do país, seu salário é de US$ 1.500.

Há, é claro, o fato de ele adorar dar um furo. Figueredo foi o primeiro a publicar sobre o envolvimento de nigerianos no tráfico de cocaína no Paraguai e o estabelecimento de traficantes brasileiros no país.

Figueredo disse sentir-se confortado pelo fato de sua filha e netos viverem longe, na Noruega. De quando em quando, ele e sua mulher viajam de avião até Assunção, onde vão a restaurantes e passeiam na rua. “Isso me permite respirar”, contou.

Contou que espera aposentar-se algum dia na gelada Noruega, perto de seus netos.

“Não existem santos em Pedro Juan Caballero. Eu me incluo nessa observação”, falou. “Se um assassino surgir na minha porta, não vou me render sem lutar. Se eu deixasse isso acontecer, não passaria de mais um cadáver na pilha.”