do blog do Fábio Campana
A banda de Luciano Ducci já sabe que Otávio Cabral, autor da reportagem da Veja deplorada pelo prefeito, circula com desenvoltura numa boa parte do PT e tem em Gustavo Fruet (PDT/PT/PV) fonte de notícias desde os tempos da CPI dos Correios. Em janeiro de 2007, Cabral escreveu na Veja matéria alçando Fruet, então no PSDB, à candidato a presidência da Câmara dos Deputados.
Cabral teceu uma série de loas a Fruet, indicava que o ex-tucano representava “um grupo de parlamentares que se insurgiu contra o tradicional vale-tudo da política e se propôs a resgatar a imagem do Congresso Nacional. Embora entre na disputa a poucos dias da eleição, marcada para 1º de fevereiro, o deputado acredita que pode mudar o atual quadro em que o candidato petista Arlindo Chinaglia desponta como favorito”.
Leia a seguir a íntegra da reportagem
A terceira via tem rosto
Otávio Cabral
24 de janeiro de 2007
O deputado Gustavo Fruet, do PSDB do Paraná, lançou na semana passada sua candidatura à presidência da Câmara. Fruet representa um grupo de parlamentares que se insurgiu contra o tradicional vale-tudo da política e se propôs a resgatar a imagem do Congresso Nacional. Embora entre na disputa a poucos dias da eleição, marcada para 1º de fevereiro, o deputado acredita que pode mudar o atual quadro em que o candidato petista Arlindo Chinaglia desponta como favorito. A candidatura de Fruet já gerou efeitos positivos. Nos últimos trinta dias, as discussões entre Chinaglia e Aldo Rebelo, do PCdoB, o outro postulante ao cargo, se limitavam a quem conseguia costurar acordos melhores, fossem eles à base de promessa de cargos e vantagens ou de monumentais aumentos salariais para os deputados. Fruet se dispõe a debater idéias. Seu primeiro ato, aliás, foi convidar os adversários para um confronto público. Outro efeito positivo da candidatura alternativa foi a suspensão da barganha de cargos no governo em troca de votos no plenário. Para cooptar apoio, o candidato petista estava negociando nomeações e liberação de emendas ao Orçamento. Ao perceber que a eleição não está definida, o presidente Lula mandou suspender as negociações.
Há receio no Planalto da reedição do que aconteceu dois anos atrás, quando dois petistas afinados com o governo – Luiz Eduardo Greenhalgh e Virgílio Guimarães – disputavam a presidência da Câmara nos moldes do que ocorre hoje entre Aldo Rebelo e Arlindo Chinaglia. A oposição decidiu lançar uma candidatura alternativa, a do deputado Severino Cavalcanti, que acabou eleito. Foi um desastre, como se sabe, mas a possibilidade existe e assusta os governistas. A diferença agora é que o candidato alternativo nada tem a ver com Severino Cavacanti. Gustavo Fruet, 43 anos, é quase um noviço na política. Vai assumir seu terceiro mandato. Foi eleito duas vezes pelo PMDB, mas trocou de partido por não concordar com a submissão ao governo. Advogado, teve uma atuação de destaque na CPI dos Correios, em que foi sub-relator da comissão de movimentação financeira, que descobriu as contas que abasteceram o duto de dinheiro que o petismo inventou para subornar deputados. “Sem ingenuidade, não se trata do bem contra o mal, dos éticos contra os não-éticos. É fugir do debate de quem é mais leal ou não ao governo, de quem vai dar o aumento maior”, resume Fruet. Essa biografia lhe dá legitimidade para defender as propostas da terceira via e ganhar os votos dos deputados comprometidos com as mudanças no Legislativo. Por outro lado, afasta aquela multidão de parlamentares envolvidos em escândalos. “Deputado que participa de CPI não ganha eleição aqui dentro”, avalia o deputado Sandro Mabel, do PL de Goiás, com a experiência de quem foi investigado pela CPI dos Correios e só escapou da cassação graças ao corporativismo dos colegas no plenário.
A candidatura de Gustavo Fruet também provocou constrangimento dentro de seu partido. Uma semana antes, o líder do PSDB na Câmara, deputado Jutahy Junior, havia anunciado um acordo entre petistas e tucanos em favor da candidatura de Arlindo Chinaglia. A justificativa oficial era que o PSDB respeitava o princípio da proporcionalidade. Nos bastidores, porém, a decisão passou por uma intensa negociação de pactos regionais entre tucanos e petistas. Suspeita-se que as combinações tenham sido ainda maiores do que se imagina, tendo envolvido personalidades de ambos os lados. Seja lá o que for, o tenebroso pacto tucano-petista, ao menos oficialmente, foi por água abaixo. Jutahy, o mesmo que interrompeu as férias para divulgar o acordo, anunciou que o partido agora apoiará Fruet. As principais lideranças tucanas também. O governador José Serra fez até uma defesa pública do novo candidato: “Fruet é um deputado de primeiríssima qualidade. Com certeza, a bancada do PSDB deverá apoiá-lo”. Aécio Neves, em férias nos Estados Unidos, também elogiou publicamente a escolha. O fato é que a disputa ficou imprevisível, e o surgimento de uma alternativa para propor a discussão de idéias é uma notícia muito boa para um Parlamento que só vinha produzindo decepções.
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