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Rejeição ao voto obrigatório sobe para 61% do eleitorado brasileiro

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da Folha de S.Paulo

Nunca tantos brasileiros foram contra o voto obrigatório. A pesquisa Datafolha concluída na quinta mostra que 61% dos eleitores rejeitam essa imposição, regra prevista no artigo 14 da Constituição.

Hoje o voto é facultativo só para analfabetos, pessoas com mais de 70 anos e os que têm 16 ou 17 anos.

O levantamento mostrou mais. Se tivessem opção, 57% dos eleitores não votariam no próximo dia 5 de outubro, outro recorde.

A pergunta sobre comparecimento é feita desde 1989. Nas investigações anteriores, o total dos que não votariam se não houvesse obrigatoriedade nunca superou 50%.

Para o cientista político Humberto Dantas, professor do Insper, em São Paulo, esses resultados podem ser expressão de um aumento de descrédito nas instituições.

“Há uma tendência de descrença que não ocorre só no Brasil”, diz ele. “Na Europa isso é muito forte, especialmente após a crise de 2009”.

Outra hipótese, segundo Dantas, seria uma associação “indevida” entre interesse pelo voto e satisfação com os governos. Funcionaria assim: se a administração do momento é bem avaliada, o interesse pelo voto sobe; se é mal avaliada, o interesse cai,

“Acho preocupante. Teria que verificar se as pessoas não estão sabendo separar as duas coisas”, afirma.

SEGMENTOS

Ao contrário do que alguns possam imaginar à primeira vista, os maiores índices de oposição à obrigatoriedade do voto não estão entre os eleitores mais os jovens.

No grupo dos que têm entre 16 e 24 anos, a rejeição é de 58%, um índice alto em relação aos padrões anteriores. No eleitorado mais maduro, porém, de 45 a 59 anos, a opinião desfavorável à obrigatoriedade passa para 68%.

Em relação à renda e à escolaridade, a oposição cresce de forma escalonada. Quanto mais rico e escolarizado, maior a rejeição.

Entre os que têm renda familiar mensal acima de dez salários mínimos, 68% são contra. Entre os que têm ensino superior, 71% rejeitam.

“Suspeito que isso tenha relação com uma possível sensação impotência desse público”, diz o cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC do Rio de Janeiro.

“É que a partir de 2006, após o mensalão e a reeleição de Lula, essas pessoas perceberam que não decidem mais eleição. Então estariam dando menos importância”, diz.

O cruzamento com a pesquisa de intenção de voto mostra que a obrigatoriedade desfavorece a presidente Dilma Rousseff, líder com 37% no cenário mais provável.

Entre os eleitores de Dilma, 43% dizem que não compareceriam às urnas se a eleição não fosse obrigatória. Mas entre os adeptos dos rivais da petista, a proporção dos que não votariam é bem maior.

No grupo que apoia Aécio Neves (PSDB), que tem 20% das intenções de voto, 58% deixariam de votar sem a obrigatoriedade. Entre os adeptos de Eduardo Campos (PSB), que tem 10%, 62% faltariam.

O Datafolha ouviu 2.844 pessoas em 7 e 8 de maio. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.