Real valorizado eleva número de importadores e reduz exportadores
O real valorizado e o crescimento da economia favoreceram o surgimento de novos importadores e reduziram o número de exportadores durante o governo Lula. Entre 2002 e 2009, o total de empresas importadoras subiu de 25.542 para 34.033, o que significa 8.491 companhias a mais trazendo produtos de fora do País, conforme o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Os dados oficiais apontam que o total de exportadores saiu de 17.407 em 2002 para 19.823 mil em 2009. Os resultados, no entanto, não são comparáveis, porque, a partir de 2006, o governo passou a contabilizar cerca de 3 mil empresas que enviam ao exterior, por ano, volumes inferiores a 30 quilos pelos Correios. Excluindo esse montante, cerca de 580 companhias deixaram de exportar nos últimos sete anos.
“Essa situação é um reflexo do crescimento do consumo no Brasil, puxado pelos ganhos do salário mínimo, pelo Bolsa-Família e pelo crédito”, disse o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. “O câmbio valorizado deu a ajuda final para o movimento, porque tornou os produtos importados mais baratos.”
O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, também atribui o aumento do número de importadores ao crescimento do mercado doméstico e à maior abertura da economia do País. Ele diz ainda que muitas empresas, inclusive hipermercados, deixaram de usar serviços de grandes tradings e começaram a negociar por conta própria, multiplicando o número de importadores.
CRESCIMENTO DO COMÉRCIO
Os dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram períodos de forte crescimento do comércio exterior em ambas as direções, com exceção do ano passado, quando ocorreu o impacto da crise global. Entre 2002 e 2009, as exportações brasileiras cresceram 152%, atingindo US$ 152 bilhões, e as importações, 170%, para US$ 127,6 bilhões.
Nas exportações, isso não significou mais vendedores brasileiros no mercado internacional, mas o mesmo número de empresas exportando mais. O valor médio anual exportado por empresa subiu de US$ 3,47 bilhões em 2002 para US$ 7,68 bilhões no ano passado. O valor médio importado também cresceu, mas continua bem inferior. Saiu de US$ 1,85 bilhão para US$ 3,75 bilhões no período.
De acordo com o economista-chefe da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), Fernando Ribeiro, o avanço das exportações ficou concentrado nas commodities – uma atividade de grandes empresas, porque é preciso ter escala para vender soja ou minério de ferro. Além disso, o real forte e aumento dos salários reduziu a competitividade dos pequenos e médios exportadores de manufaturados.
PEQUENAS EMPRESAS
Um estudo feito pela Funcex, a pedido do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), mostrou que o número de micro e pequenas empresas exportadoras subiu de 8.854 em 1998, pouco antes do fim da paridade do real com o dólar, para 14.154 em 2004. À medida que o câmbio voltou a se valorizar, esse número caiu. Em 2008, último dado disponível, havia 10.114 micro e pequenas empresas exportadoras.
“Com o atual patamar do dólar, a pequena empresa percebe que exportar dá trabalho, mas não dá lucro. Já a importação melhora os resultados. Nada substitui o lucro como incentivo para entrar na exportação”, disse o diretor do departamento de comércio exterior da Fiesp, Roberto Giannetti da Fonseca.
A fabricante de produtos de cama, mesa e banho Teka está importando fios de poliéster, tecidos e até produtos acabados de alto valor agregado. A companhia desenvolveu fornecedores no exterior e pretende aumentar cada vez mais as compras. Já a participação das exportações no faturamento caiu. “Exportar hoje é prejuízo em cima de prejuízo. Não vamos mais investir nesse mercado”, disse o vice-presidente da Teka, Marcelo Stewers.
Em contrapartida, vários fatores estimulam as empresas a importar. A fabricante de móveis Ditália, do Rio Grande do Sul, desenvolveu fornecedores na China para reduzir os custos. A empresa abriu um escritório comercial na China e hoje importa 70% dos acessórios, como maçanetas, puxadores e dobradiças. “Estivemos na Ásia várias vezes e decidimos fechar negócio”, contou o presidente da Ditália, Noemir Capoani.
Algumas companhias recorreram ao exterior porque sua capacidade produtiva não conseguia atender à pujante demanda doméstica. É o caso da fabricante de pisos e azulejos Gyotoku, de Suzano, interior de São Paulo. “Com a explosão do consumo do porcelanato, produzimos a 100% da capacidade, mas ainda assim temos de importar”, disse o coordenador financeiro e de importações, Roger Benitus. A empresa é representante exclusiva de marcas de azulejos da Itália e da Grécia.
As empresas também aproveitam o dólar barato para comprar bens de capital no exterior, aumentando a produção ou trocando maquinário obsoleto para melhorar sua produtividade. Para fazer esse tipo de compra, muitas recorrem a fornecedores especializados em importação de máquinas. O número de importadores de máquinas e equipamentos triplicou nos últimos três anos, diz o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais (Abimei), Thomas Lee. (A informação é do jornal O Estado de S. Paulo)
Cambio sobrevalorizado leva exportações de máquinas ao pior resultado em 10 anos
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, afirmou em São Paulo que o câmbio continua a ser determinante para explicar a queda de faturamento do setor.
Aubert Neto disse que “o mês de janeiro deste ano representou a pior exportação dos últimos dez anos do nosso setor. Estamos perdendo mercado lá fora. Em função da crise econômica, tivemos uma queda natural. Mas perdemos muito além disso: perdemos para os chineses. O câmbio está sendo mortal para a gente”, completou.
Os números do setor divulgados na quarta-feira (24) indicam que a indústria brasileira de máquinas e equipamentos teve queda de 26,1% no faturamento nominal em janeiro deste ano em relação a dezembro do ano passado e que as exportações também caíram 31,3% na comparação com o mesmo período de 2009.
Segundo o presidente da Abimaq, as importações de máquinas, principalmente provenientes da China, estão crescendo muito e prejudicando a indústria nacional.
“O setor de máquinas está sendo rifado. E esta é uma estrutura estratégica para qualquer país desenvolvido do mundo. Não existe um país desenvolvido que não tenha um setor de bens de capital desenvolvido”.
O balanço de janeiro divulgado pela Abimaq também mostrou aumento do déficit de 8,6% na balança comercial do setor de bens de capital, em comparação a janeiro de 2009, passando de US$ 1,05 bilhão para US$ 1,14 bilhão.
Contudo, a Abimaq vê com otimismo 2010, prevendo que os investimentos cresçam cerca de 20% em relação a 2009. A expectativa do setor é de que grande parte desses investimentos será para a modernização tecnológica e reposição de máquinas depreciadas. Segundo o presidente Luiz Aubert Neto, iniciativas como o programa Minha Casa Minha Vida, a Copa do Mundo em 2014, as Olimpíadas de 2016 e a exploração do pré-sal podem explicar o otimismo. Mas para que o setor cresça, ressaltou que é preciso a política de câmbio seja revista. (Jornal Hora do Povo)
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