Folha de S. Paulo
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chamou de “escandalosa” a atitude dos países da América Latina em relação à crise na Venezuela, em encontro com quatro ex-líderes ibero-americanos ontem, em São Paulo. Participaram do evento do Instituto FHC os ex-presidentes Ricardo Lagos (Chile) e Julio Sanguinetti (Uruguai), o ex-premiê espanhol Felipe González e o ex-chanceler mexicano Jorge Castañeda.
FHC criticou o governo da presidente Dilma Rousseff por não tomar partido na política externa e por isolar o país em relação ao mundo. “A partir de 2009, passamos a adotar uma política de encolhimento que nos fez perder o protagonismo. Precisaríamos de uma ação mais definitiva do Brasil”, disse.
Como exemplo, citou a rejeição de sua administração ao golpe contra Hugo Chávez, em 2002. “Não era o melhor presidente, mas era o líder do país”, disse o mexicano. Já Lagos criticou a comparação do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ao golpe militar sofrido pelo socialista Salvador Allende em seu país, em 1973. “No governo de Allende, havia um Judiciário independente e o Parlamento rejeitou as reformas colocadas por ele”, declarou.
Os cinco presentes consideraram a crise venezuelana reflexo de uma crise na democracia em toda a região, causada pelo aumento do uso da máquina administrativa, pela menor independência dos três Poderes e pelo maior controle da imprensa. “Não são considerados graves o uso da máquina eleitoral e a prisão de opositores, por exemplo. Estamos valorizando um modelo distorcido de democracia”, afirmou o ex-presidente brasileiro. “Democracia não é só votar, mas uma derrota eleitoral aceitável. Para isso, devem ser dadas chances iguais”, disse González.
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