O jogo de bastidores sobre o próximo candidato do PT já está em andamento, revelou a senadora Marta Suplicy em entrevista polêmica
André Gonçalves, Gazeta do Povo
As declarações da senadora Marta Suplicy (PT-SP) sobre o racha entre Lula e Dilma Rousseff jogaram luz sobre o que deve se transformar na maior batalha interna dos petistas desde que o partido chegou ao Palácio do Planalto – a definição do próximo candidato a presidente da República. Ao dizer que Lula está “totalmente fora” das decisões da atual administração e que o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, “mente” quando fala que não deseja concorrer em 2018, Marta também sinaliza que o jogo de bastidores em torno da sucessão já está em andamento.
As afirmações feitas em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, domingo passado, sequestraram o noticiário político de Brasília logo na segunda semana da nova gestão. A estratégia da cúpula petista foi, até agora, se esquivar do confronto para que as colocações soassem como uma mágoa de Marta por ter sido preterida nas últimas disputas eleitorais em São Paulo.
Na prática, porém, o partido demonstra que ainda não encontrou uma fórmula para se posicionar em relação à escolha do próximo candidato – ao contrário do que ocorreu na transição Lula-Dilma. Bem avaliado, o então presidente começou a pavimentar a candidatura da aliada em 2007, primeiro ano do segundo mandato.
“Lula era tão popular que sabia que podia se arriscar com um ‘poste’. A situação de Dilma é completamente diferente”, diz o cientista político Cláudio Gonçalves Couto, da Fundação Getulio Vargas.
Os petistas concordam com os riscos de tentar forjar um candidato prematuramente, sem conquistar apoio popular. “Qualquer eleição é resultado da avaliação do que foi feito pelo governo. E qualquer nome que não espelhe resultados positivos terá dificuldades”, diz a senadora Gleisi Hoffmann (PT).
Para ela, Lula é o “nome natural” para 2018. Oficialmente, o posicionamento é o mesmo do presidente nacional do PT, Rui Falcão, e do próprio Mercadante. Marta, no entanto, colocou em xeque o comportamento da dupla ao dizer que ambos atuaram contra a candidatura de Lula no lugar de Dilma em 2014.
Segundo Marta, Lula deixou claro que gostaria de ter disputado a Presidência, mas acabou preterido. Atualmente, a ala “dilmista” estaria preparando Mercadante com o argumento de que o próprio Lula pode decidir que não tem condições de enfrentar mais uma eleição. Em 2018, o ex-presidente terá 73 anos.
Outros nomes também estariam correndo por fora, como o ministro da Defesa, Jaques Wagner, e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. A prova de fogo de Haddad está marcada para 2016, quando pode enfrentar Marta, que deve deixar o PT, na tentativa de se reeleger.
Na base da sigla, porém, o apelo do “lulismo” permanece enorme. “Que me perdoe o Mercadante, por quem tenho o maior respeito e admiração, mas não dá para querer comparar ele com o Lula”, diz o presidente do PT paranaense, Ênio Verri.
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