Ogier Buchi
Se existe um jeito de livrar o Brasil “desses políticos”, esse jeito é tomar o lugar deles: entrar para a Política. Foi isso que eu fiz. Não é a única opção. Tem também a de participar dos assuntos da sua comunidade, da sua cidade, através das associações de bairros e entidades classistas, por exemplo.
Mas alguém tem de “tomar o lugar deles”, debater propostas, apresentar soluções e colocá-las em prática. Por mais indignadas que as pessoas estejam com o momento em que o País vive, ninguém vai acabar com as instituições ou os poderes que governam o Brasil: câmaras de vereadores, assembleias legislativas, Câmara dos Deputados, Senado, prefeitura, governos dos estados e governo federal, o Judiciário.
Então, o jeito é ocupar a Política. Ocupar os poderes. O que o Brasil precisa é renovar, não destruir. Resgatar a credibilidade, fortalecer a instituições e fazer com que os poderes que são exercidos em nome do povo, sejam exercidos de acordo com a vontade do povo.
Não tem como exercer esta vontade da maioria sem ouvi-la, sem estar sintonizado com a sociedade, sem ter e aplicar os muitos mecanismos de diálogo e de interação. Sobre estes mecanismos, quero abrir um parênteses para lembrar que ouvimos muito e vamos ouvir ainda mais nestas eleições, sobre os mandatos participativos, os políticos antenados nas redes sociais – é a onda. É claro que isso é importante, aliás, é fundamental. Não dá mais para fazer política de costas para a sociedade, e a população está atenta a isso.
Quem estiver disposto a entrar para a Política, ou permanecer nela, tem de dialogar permanentemente. Para isso, existe a velha fórmula do “amassar barro” e conversar com as pessoas “olho no olho”. Tem as redes sociais e todas as tecnologias modernas de comunicação.
Estas mesmas tecnologias também podem ajudar a medir quem é o político de verdade. E isso que eu considero mais importante. Para começar, é preciso ver se ele tem coragem de expor suas opiniões, se tem posições claras. Não se trata de ser inflexível, ter opiniões congeladas. Trata-se de ter clareza diante dos temas que estão postos e dos que a maioria não tem coragem de falar.
Para começar, as diversas reformas. Quem tem medo de debater a reforma trabalhista? Os resultados já estamos vendo na geração de mais empregos, apesar da retomada tímida da economia. Vemos a redução drástica das ações trabalhistas que deixavam empresários, investidores e os trabalhadores em total incerteza. A jornada flexível de trabalho e o trabalho remoto, conhecido como home office, vieram para ficar. Mas temos de avançar ainda mais, mesmo que esse tema não seja muito popular em período de eleições.
A reforma previdenciária? O governo sequer teve forças para levar adiante sua proposta que nem mesmo acabava com alguns privilégios e distorções. Do que jeito que está, a estabilidade econômica já está comprometida porque não se consegue estancar mais os déficits previdenciários. Com o envelhecimento da população e a queda das contribuições, instalou dentro do INSS uma bomba-relógio de alto poder destrutivo. Quem vai discutir isso?
Tem mais: quem tem medo de mexer no Judiciário e na remuneração dos militares. Os benefícios concedidos a juízes pelo país revelam as disparidades e distorções nas modalidades e valores de auxílios recebidos. Há casos de Estados que oferecem auxílio-moradia que supera o teto estabelecido pelo Conselho Nacional de Justiça. No caso do auxílio-alimentação, a variação pelo país chega a 426%. Que terrível, não é?
A reforma política? Quem é eleito por esse sistema, dificilmente vai mudá-lo. Então, é preciso renovar primeiro. Depois mudar. Do que precisamos? Voto distrital, voto em lista, mudar a representatividade dos estados, tipificar o crime do caixa dois, eleição geral para todos os cargos – não uma eleição a cada dois anos, acabar com essa excrecência do financiamento público de campanhas? Tudo isso precisa ser discutido.
A reforma tributária? Quem vai mexer na injustiça de taxar salários e o consumo – até de produtos básicos! – e livrar os ricos? Esta reforma que tem ser pautada pela retomada dos princípios da equidade, da progressividade e da capacidade contributiva. Mas do jeito que está não pode ficar. Enquanto estou escrevendo este artigo, os brasileiros já pagaram R$ 1,2 trilhão de impostos. Uma verdadeira sangria no nosso bolso. O brasileiro trabalhou até 1º de junho só para pagar impostos.
Para continuar o debate, qual o tamanho e o modelo de Estado que queremos? Temos as opções entre o estado “mínimo”, “regulador”, “promotor do desenvolvimento”, “do bem estar social”, “da redução das desigualdades”. Independente do ‘tipo’ de estado, queremos viver num Brasil melhor, com mais qualidade de vida, com a decantada justiça social que todos pregam em campanhas, mas que não são colocadas em prática quando exercem o poder. Eu não vi aqui para isso e como já diz o provérbio oriental: saber e não fazer, ainda não é saber.
Ogier Buchi é advogado e jornalista
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