Por Ruth Aquino, Época
O maior líder da oposição atualmente, que cobra mais medidas concretas da presidente Dilma Rousseff, que mais reclama do estado preocupante da economia brasileira, que ganha mais manchetes, que mais mexe com o mercado quando abre o verbo, e que mais tem condições de ganhar a eleição, todo mundo sabe, é Lula, o criador da criatura.
Lula sempre soube que não entende nada de economia. Mas entende de povo. Sabe que os brasileiros estão pessimistas e irritados com a inflação sentida no mercado e na feira. O tal “teto da meta” já foi estourado há muito tempo no dia a dia, e isso é fatal para uma líder sem carisma. As greves começarão a pipocar, para o povo recuperar o poder aquisitivo. Lula não gosta nadinha do que vê. Você pode chamá-lo do que quiser, menos de bobo.
Em sua entrevista a blogueiros, com repercussão na imprensa que ele ataca, Lula foi direto na jugular da companheira. “Poderíamos estar melhor, e a Dilma terá de dizer isso na campanha claramente: como a gente vai melhorar a economia brasileira.” Lula fala como se não fosse em nada responsável por tudo o que está aí. E a grande maioria dos eleitores acredita nele.
Se será ou não candidato, é outro papo. Lula interveio agora na Presidência de maneira mais bruta que o Comitê Olímpico Internacional interveio na Olimpíada do Rio. É o mesmo raciocínio. Quando um projeto corre o risco de desandar, entra no ringue o mais forte para evitar danos futuros. O projeto Dilma soçobra como os Jogos no Rio. Falta credibilidade a ambos.
Lula não quer ninguém atrapalhando o PT. Nem a pupila Dilma, nem o ex-vice-presidente da Câmara, André Vargas, hoje um náufrago abandonado à própria sorte. “No final”, disse Lula, “quem paga o pato (da amizade de Vargas com o doleiro preso Alberto Youssef) é o PT.”
Quem paga hoje o pato não é o PT, mas o cidadão brasileiro. Paga o pato, a galinha, os ovos, o tomate. Paga mais do que dizem os índices oficiais de inflação. Paga o pato do despreparo e do oba-oba da equipe econômica, que deitou no sofá do Planalto em tempos fáceis e agora não consegue nem maquiar a economia real. Adiam-se aumentos nas contas de luz e de gasolina, e ninguém acredita mais em meta nenhuma.
Na corrida contra o tempo e contra o descrédito, até a eleição, Dilma tropeça em si mesma, se encolhe, não pode aparecer em público porque será vaiada, torce para a Seleção ganhar a Copa e tem de engolir as broncas públicas de Lula. “Minha candidata é a Dilma”, repete Lula. Mas ele só alimenta o que chama de “boataria”, quando se diz insatisfeito com os rumos da economia no Brasil.
“O problema maior foi deixar a inflação bater no topo da meta”, diz o economista Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real e ex-presidente do BNDES e do IBGE. “Estavam brincando com fogo e estão colhendo o que semearam.” Está claro, segundo Bacha, que a taxa de inflação real é maior que os 6,15% anuais. “Essa taxa, parcialmente oculta pelo controle dos preços administrados, contamina muito a própria ordem social.” Bacha não se assusta com as greves nem crê na argentinização do Brasil. “Não é o fim do mundo. Quem está parando é gente com poder de barganha, operários envolvidos em obras estratégicas.”
No Leblon, bairro nobre do Rio de Janeiro, funcionários em greve das obras de expansão do metrô irromperam com paus e pedras na esquina de minha rua. Estavam furiosos com os colegas que furavam a paralisação e insistiam em trabalhar. Os grevistas exigem pagamento de 100% sobre as horas extras, aumento da cesta básica de R$ 230 para R$ 300, retroativo a fevereiro, e 10% de aumento nos salários.
É só conversar com qualquer um na rua, taxista, segurança, lojista, feirante, dona de casa, que você ouvirá o que as pesquisas detectam: insatisfação, medo e desconfiança. O Rio teve a inflação mais alta do país, 7,87% em 12 meses. A alta em alimentos e serviços é muito maior, tanto que a moeda na cidade passou a ser apelidada de “surreal”. Como a maioria não acredita em “legado social da Copa”, tornou-se visível uma torcida cada vez mais militante contra o desempenho da Seleção.
Os grevistas da linha 4 do metrô carioca reivindicam só 10% de aumento porque não leem jornal nem revista. Se fossem bem informados, saberiam que o governo federal aumentou as despesas totais em 15%, só no primeiro bimestre de 2014. A conta de pessoal e encargos sociais cresceu 13,5% em janeiro e fevereiro. Péssimo exemplo! Com as finanças públicas sem controle no Brasil de Lula e Dilma, quem paga o pato não é o PT, é você. Até rimou.
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