Editorial, Folha de S. Paulo
O ano de 2015 marcou a chegada da crise econômica ao mercado de trabalho, até então resistente ao declínio da atividade industrial, dos investimentos produtivos e do consumo das famílias.
Já não resta dúvida de que a trajetória favorável de geração de renda e emprego observada, quase sem interrupções, de 2004 a 2014 se inverteu –e que a mudança deve ser duradoura e profunda.
Os dados da pesquisa mensal de emprego do IBGE (relativos às regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife) mostram que o desemprego atingiu 6,9% em dezembro, crescimento de 2,6 pontos percentuais em relação ao mesmo mês de 2014.
A perda de vagas é particularmente acelerada entre os trabalhadores com carteira assinada, como demonstrou o fechamento nacional de 1,5 milhão de postos apurado pelo cadastro do Ministério do Trabalho no ano passado. Enquanto isso, cresce a busca por ocupações informais ou por conta própria, mais precárias.
O aumento da desocupação mostra-se ainda mais cruel quando se analisa sua distribuição por faixas etárias. Entre homens e mulheres de 18 e 24 anos, a taxa saltou de 10,5%, em dezembro de 2014, para 16,5% ao final do ano passado.
Tais números refletem as dificuldades de jovens obrigados a procurar vagas no mercado, devido à fragilização do restante da família.
Em consequência da rara combinação de queda da atividade econômica e alta da inflação, a renda dos trabalhadores teve queda real de 3,7%, a maior da série estatística iniciada em 2002 –e a interrupção de uma escalada que impulsionou a maior parte da ascensão social da década passada.
No levantamento de emprego mais novo e abrangente do IBGE, que compreende cerca de 3.500 municípios em todo o país, a taxa de desemprego chegou aos 9% no trimestre de agosto a outubro. No mesmo período de 2014, os desocupados eram de 6,6% dos trabalhadores em busca de vagas.
Nessa pesquisa mais ampla, que se tornará a estatística oficial do país, o desemprego deverá ultrapassar os dois dígitos nos próximos meses, segundo se projeta.
Na dinâmica econômica, o mercado de trabalho demora muito mais que os demais (de moedas, juros, bens, serviços) a se ajustar a mudanças de tendência. As empresas têm custos para contratar e demitir e ajustam em primeiro lugar as horas trabalhadas e turnos antes de dispensar funcionários.
Entretanto, uma vez iniciado o processo, custa revertê-lo.
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