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Que país será este?

Que país será este?

Ruy Fabiano

Se as eleições presidenciais fossem este ano (e a hipótese não pode ser descartada, como, aliás, nenhuma outra), quais seriam os candidatos? Certamente, Lula, pelo PT (se estiver solto); Serra, Aécio ou Alckmin, pelo PSDB; e Marina Silva, pela Rede.

Outros, seguramente, haveria. Mas fiquemos com estes para um breve exame da nova realidade que a crise vem estabelecendo.
O prestígio e popularidade desses nomes, que os incluem em todas as listas de presidenciáveis, estabeleceram-se em outro país, aquele que precedeu a Lava Jato. Esse país, porém, já não existe.

O que irá sucedê-lo não se conhece ainda. Emergirá (está emergindo) do caos, decorrente da crise – política, econômica, social e moral -, que, como um tsunami, engole toda a classe política e põe sob suspeita o conjunto das instituições do Estado.

Algo, porém, desse novo país pode ser vislumbrado nos números de recente pesquisa, do Instituto Paraná, encomendada por este Blog do Noblat, em relação aos nomes supracitados.

São impressionantes: 73,4% dos eleitores não votariam “de jeito nenhum” em Lula; 62% não votariam em Geraldo Alckmin; 61,9% em Aécio Neves; 58,2% em José Serra; e 57,5% em Marina.

“De jeito nenhum”, frisam os entrevistados. Nenhum deles, portanto, será o próximo presidente da República.

Com tal grau de rejeição – e aí se trata de questão aritmética -, é impossível eleger-se. E com um detalhe: o fator de desgaste – o processo da Lava Jato – ainda está longe do fim, em pleno curso, prometendo novas revelações e convulsões.

O protagonismo do PT é indiscutível: conferiu à corrupção padrão sistêmico, elevando-a a níveis sem precedentes, aqui e em toda parte. A ladroagem saiu da esfera do milhão para a do bilhão – bilhões -, comprometendo a economia do país e a própria governabilidade. Nunca antes.

Mas o PT não agiu só: teve parceiros, colaboradores e companheiros eventuais de viagem, alguns da própria oposição, o que fez estender o descrédito a toda a classe política, a pecadores e eventuais justos – e a pesquisa espelha esse estrago.

Não apenas as dimensões da roubalheira a distinguem das convencionais, que marcaram a história do Brasil. Havia um propósito diferenciado: sustentar um projeto de poder que se pretendia eterno e que incluía aliança com países vizinhos, na construção da Pátria Grande, de teor socialista-bolivariano.

Quando se abrir a caixa preta do BNDES, a real dimensão financeira dessa aliança, jamais posta em debate com a população, e jamais a ela revelada em cifras, será enfim conhecida. A boa notícia é que esse projeto morreu e não há chances de ressurreição.

Sabe-se, portanto, do que o país se livrou. Mas não se sabe o que o aguarda. O declínio dos cardeais políticos não ensejou ainda o surgimento de novas lideranças, o que, em regra, exige tempo.

Nesse sentido, a continuidade de Temer favorece essa transição até 2018, tempo necessário para que o país se acostume com novas fisionomias (que se espera apareçam) e absorva novas propostas que ainda não vieram à tona.

Mas nem o próprio Temer consegue prever o que lhe ocorrerá amanhã. Em um mês, menos três ministros, inclusos na Lava Jato. O país adapta-se ao dito bíblico segundo o qual cada dia tem sua própria agonia. Um dia de cada vez, portanto.

Nesse ambiente de imprevisibilidade, a economia procura se equilibrar, com avanços modestos, o que já é uma façanha, visto que lidava até há pouco com solavancos e retrocessos. Nesse segmento, o econômico, Temer acertou. Fez opções técnicas.

Se não tivesse cedido ao assédio político-partidário de seus aliados – alguns dos quais já estavam no radar de Sérgio Moro -, teria se poupado (e ao país) dos contratempos e desgastes que o incluem no rol dos enjeitados pela opinião pública.

Não, porém, no nível de rejeição dos que postulam sua sucessão. A pesquisa do Instituto Paraná revela que 53,5% dos brasileiros ainda acreditam que cumprirá todo o mandato, embora, até aqui, apenas 36,2% aprovem sua administração.

É o que temos. Ninguém imaginou que o pós-Dilma oferecesse um céu de brigadeiro. As previsões meteorológicas ainda são ruins.

Ruy Fabiano é jornalista