Falar em política no estado do Paraná e não cita-lo é heresia. O deputado Luiz Claudio Romanelli (PSB) cumpre seu quinto mandato consecutivo como deputado estadual. É o atual 1º Secretário da Assembleia Legislativa, cargo equivalente ao de prefeito no legislativo estadual. Administra o parlamento, com mão de ferro, muita austeridade e reconhecida capacidade de interlocução e articulação política. Fernando Maleski da Gazeta do Paraná.
Não basta isto, é ainda advogado e pós-graduado em Gestão Urbana pela PUC. Ex-secretário do Trabalho, Emprego e Economia Solidária, ex-secretário Especial de Politica Habitacional e ex-presidente da Cohapar e por conta desta experiência toda, apontado agora como possível candidato ao governo do Paraná pelo PSB.
Capacidade política, administrativa e respeito na política nativa para pleitear o cargo lhe sobram. É sobre esta possibilidade de vir a disputar o cargo mais alto dos paranaenses que abre a conversa de Luiz Claudio Romanelli com os leitores da Gazeta do Paraná. Aqui ele abre o coração, fala das suas lutas no parlamento, sobre o pedágio nas rodovias que sangram e economia nativa e confirma o sonho de quem sabe um dia, disputar o governo do Paraná.
Trajetória
Em março de 2016, após 35 anos filiado ao PMDB, o deputado anunciou sua saída do partido por problemas com o diretório no estado, comandado pelo grupo do senador Roberto Requião e o ingresso no Partido Socialista Brasileiro (PSB). Na última eleição (2018), já pelo PSB obteve esplendorosa votação e foi reeleito pela quinta vez com 73.383 votos.
Antes de tudo é preciso lembrar que Romanelli não começou agora na política. Sua trajetória inicia em 1988, quando se elegeu vereador por Curitiba. Nascido em Londrina, mudou-se para a capital ainda quando tinha apenas 16 anos. Na sua rica trajetória, perdeu uma única vez uma eleição, em 1988, quando fazia oposição ao governador Jaime Lerner.
Romanelli não descarta brigar um dia para tornar realidade seu sonho de ser governador do Paraná. Ele reconhece que entre o sonho e a realidade há uma distância grande e que o caminho para isto é árduo e espinhoso, além de exigir poder aquisitivo, que lhe falta hoje para por em prática tamanho projeto. “Sempre disputei eleição com recursos próprios e ajuda de parentes. Não sou de ir atrás de dinheiro para campanha. Até aqui, os recursos mal dão para disputar a eleição para deputado estadual”, disse ele que já pensou em disputar eleição para deputado federal, mas desistiu quando começou a colocar na ponta do lápis os custos para a campanha. Acompanhe um bate-pronto de questionamentos ao deputado realizado pela reportagem.
Recentemente recebemos a informação de o senhor é um possível candidato ao Governo do Estado nas próximas eleições. Esta informação procede?
Qualquer um que se dedique à vida pública tem o sonho de ser governador. Mas para que isso se torne realidade, há um caminho muito longo e difícil a percorrer e que exige, também, poder aquisitivo. Não vou atrás de dinheiro para campanha política e sempre concorri com ajuda de parentes e com recursos próprios. Portanto, dá apenas para a Assembleia Legislativa. Eu estou no quinto mandato e tenho uma boa experiência em gestão pública. A cada dia me preparo para novos desafios. Acredito que a política só vale a pena se for para melhorar a vida das pessoas. E é a isso que sempre dediquei a minha vida pública. Mas com diz o poeta Antônio Machado: Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao andar.
O que lhe fez cogitar esta candidatura? Como pretende construí-la até as eleições? Qual a posição do partido diante desta candidatura?
No momento, como disse, é uma hipótese muito distante. Já a conjuntura política para 2022 será resultado das eleições municipais do ano que vem. O PSB, meu partido, vai disputar as eleições na maioria das cidades paranaenses. Já somos um partido de grande inserção política no país e no Estado, e só vamos crescer mais se disputar as eleições. O nosso foco hoje são as eleições de prefeitos e vereadores.
Tenho certeza do crescimento do nosso partido e do seu protagonismo em 2022, mas isso é muito cedo e agora, estamos trabalhando para trazer mais transparência e inovação à Assembleia Legislativa e fazer uma boa gestão na Primeira Secretaria da Casa, além de apresentar bons resultados na defesa dos municípios que represento no Legislativo.
Qual a avaliação que você faz sobre os primeiros meses do governo Ratinho Júnior?
Hoje o Governo do Estado está em boas mãos e acredito muito no trabalho do governador Ratinho Junior. Tenho certeza de que o Estado será bem melhor a partir dos próximos anos. O governador tem a visão como gestor público voltada à sua experiência como parlamentar – deputado estadual e federal – e como secretário de Estado do Desenvolvimento Urbano, com foco em ações sociais. Ratinho Junior também defende um Estado indutor da economia e desenvolvimento, voltado à agroindústria, como celeiro da produção de alimentos para o mundo. Para isso precisamos dotar o Paraná de toda a infraestrutura necessária. Esse é o nosso grande desafio, além de potencializar o crescimento, com qualidade de vida, de todas as regiões do Estado, principalmente das pequenas e médias cidades.
Seu mandato tem acompanhado de maneira especial a situação dos pedágios no Paraná. Recentemente a Econorte tomou a decisão de reabrir a praça de pedágio de Jacarezinho que explora o trecho de 51 quilômetros na BR-153, entre a divisa de Ourinhos (SP) e o entroncamento com a PR-092, em Santo Antônio da Platina. Qual a sua opinião a respeito?
É uma vergonha! Um absurdo! Um ato antipatriótico que atenta contra a economia do Norte Pioneiro. Mesmo com todas as suspeições já investigadas e levantadas pela Lava Jato sobre as fraudes nos contratos da concessão na BR-153, vem essa decisão estapafúrdia que espero que ainda seja revertida.
Mas, nós que sempre enfrentamos e questionamos essas cobranças absurdas, vamos continuar lutando para que se faça justiça que atende os interesses do Norte Pioneiro e não de empresas que exploram o povo.
Eu e o prefeito de Cambará, Neto Haggi (MDB), entramos com uma ação em que pedimos o fechamento da praça de pedágio Cambará/Andirá. Luto contra esse modelo perverso de pedágio desde a sua implantação em 1997. O paranaense paga muito caro para trafegar pelas rodovias pedagiadas, muitas delas ainda em pista simples, o que é um escárnio e um deboche.
Próximo ao fim dos contratos com as concessionárias, muitas obras previstas sinalizam que não serão executadas a tempo. Qual pode ser o tamanho do prejuízo ao povo paranaense?
É um prejuízo imensurável. O acordo de leniência com a Rodonorte, por exemplo, prevê pagamento de R$ 750 milhões até o final da concessão em 2021. Desse valor, R$ 350 milhões serão destinados ao pagamento de parcela da tarifa dos usuários, com a redução de 30% do valor do pedágio nas praças. O acordo foi firmado depois que a concessionária admitiu publicamente que pagava propina a agentes públicos para firmar aditivos espúrios.
Além disso, o acordo permite que a Rodonorte participe das licitações da nova leva de concessões. Claro que tem caroço nesse angu, porque o acordo não obriga a concessionária a fazer as obras, como a duplicação entre Ponta Grossa e Apucarana e deixa de fora também a duplicação entre Piraí e Jaguariaíva. A dívida que a Rodonorte tem com o Estado é muito maior que os valores propostos no acordo e beira a R$ 2,5 bilhões.
A concessionária Ecovia, que administra a BR-277 no trecho Curitiba-Paranaguá e ligações com as praias do estado e a Ecocataratas, que é responsável pelo trecho entre Guarapuava e Foz do Iguaçu estão finalizando com a força-tarefa da Operação Lava Jato de Curitiba negociação para uma delação premiada em que prometem contar como operacionalizavam pagamentos de vantagens indevidas para agentes públicos em troca de favores, dentre os quais os generosos reajustes tarifários e a supressão de obras. Qual a expectativa para esta delação?
Pelo que a imprensa publicou, o acordo envolve o pagamento de R$ 400 milhões até o fim das concessões. Do total, R$ 30 milhões serão pagos como multa. Os R$ 370 milhões restantes serão pagos a título de reparação de danos, dos quais R$ 220 milhões serão utilizados para reduzir em 30% a tarifa de todas as praças de pedágio operadas pelas concessionárias. Outros R$ 150 milhões serão destinados à execução de obras nas rodovias.
Mas é a mesma situação que ocorreu em relação à Econorte: os prejuízos causados pelas concessionárias são infinitamente maiores do que o que será ressarcido. A íntegra do acordo não foi divulgada, ainda não é público e precisamos conhecer todos os seus detalhes. Mas os acordos que estão sendo pactuados são contra o povo e liberam as concessionárias a participar dos novos lotes de licitação em 2021, ou seja, querem continuar explorando os paranaenses e nós, agentes políticos e sociedade organizada, não podemos permitir isso.
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