Lula e o PT não deixam de ter certa razão quando reclamam da rapidez com que o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) decidiu julgar o recurso do ex-presidente contra a sentença que o condenou a 9 anos e 6 meses, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no caso do triplex do Guarujá.
Porque o julgamento do recurso foi direcionado pelo PT e por Lula para se transformar num grande ato político, numa peça de propaganda voltada para o mundo. A cobertura online será feita por cerca de 300 jornalistas de todos os cantos do planeta. Discursos, faixas, cartazes e manifestações que anunciarão Lula como vítima de um complô do Ministério Público, Judiciário, Polícia Federal e meios de comunicação, e dirão que “eleição sem Lula é fraude, é golpe” vão reverberar por onde houver acesso à internet, ao rádio e à TV. Algo próxima de uma final de Copa da Fifa de Futebol.
Pena que tal acontecimento político global vai acontecer a quase nove meses da eleição. Se o TRF-4 tivesse marcado o julgamento do recurso para, digamos, julho, agosto ou setembro, aí a festa seria completa e a campanha seria feita por inércia.
Por isso mesmo é que, para não deixar a chama de evento de tal porte morrer, é que a Executiva do PT aclamará Lula candidato já no dia 25, um dia depois do julgamento, não interessa se a condenação for confirmada ou revogada. Porque, para a candidatura, eventual condenação e registro no cadastro da Lei da Ficha Limpa não terão a mínima importância. Outros recursos com pedido de efeito suspensivo vão ocorrer. O próprio TRF-4 prevê que será assim e o Ministério Público até desistiu do pedido de prisão cautelar. Cada coisa no seu tempo. E olha que o MP tem um gosto especial pelos pedidos de prisão e aumento de pena.
Ao contrário do que muita gente acha, nem o PT nem Lula têm medo desse julgamento. Serve a ambos, e bem servido. O único senão é a data do julgamento, um pouco longe da eleição.
Quanto a Lula, se ele for eleito e obtiver da Justiça autorização para tomar posse, dificilmente fará um governo diferente dos que fez no passado, apesar dos arroubos e ameaças do próprio ex-presidente aos meios de comunicação e à legislação que busca o equilíbrio das contas públicas aprovada no governo de Michel Temer, especialmente o teto de gastos e a reforma trabalhista. Tanto é que Lula já prepara mais uma Carta ao Povo Brasileiro, desta vez não ao mercado, como foi a de junho de 2002, redigida pelo ex-ministro Antonio Palocci, hoje preso e expulso do PT, mas agora com apelos à classe média para que confie no ex-presidente e elaborada pelo ex-prefeito Fernando Haddad. Tal carta, ao que se sabe, tentará convencer o eleitor de que Lula não teve nada a ver com a quebra do País causada pelo governo de sua afilhada Dilma Rousseff.
Na Presidência, Lula terá, novamente, de fazer um pacto com o MDB de Michel Temer, ao qual perdoou por ter articulado por derrubar Dilma, o PR de Valdemar Costa Neto, o PP de Paulo Maluf e, quem diria, até o PTB de Roberto Jefferson.
A diferença, agora, é que todos sabem que Lula, se eleito presidente, dependerá como nunca deles. Cobrarão muito mais caro. Porque a situação econômica do País não passa nem perto da de 2003, quando as contas dos Estados e da União se encontravam recém-azeitadas pelo governo que saía, o governo de Fernando Henrique Cardoso. Hoje os Estados estão quebrados, a União tem déficit superior a R$ 130 bilhões, a segurança pública entrou em colapso e o desemprego é alto.
Se eleito, Lula, como Temer, será dependente do Congresso. Com as contas públicas do País em ruína, terá de pensar numa reforma da Previdência urgente, caso o atual governo não consiga fazer uma e tirar da frente do petista, pelo menos, esse problema.
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