Com visões desencontradas sobre o rumo que o PSDB deverá tomar em relação ao governo do presidente Michel Temer, lideranças do partido se encontram nesta segunda-feira em São Paulo para uma nova tentativa de construir um consenso interno e, assim, estancar a sangria da legenda. O encontro, de iniciativa do governador Geraldo Alckmin, terá a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do presidente interino do PSDB, Tasso Jereissati, e do prefeito João Doria. Ele acontecerá no mesmo dia em que está prevista a divulgação do relatório do deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) na Comissão de Constituição de Justiça da Câmara (CCJ) sobre a denúncia contra Temer da Procuradoria-Geral da República. As informações são de Silvia Amorim n’O Globo.
Uma posição de Zveiter favorável à abertura de investigação contra o presidente no Supremo Tribunal Federal (STF), avaliam tucanos, poderá ser a gota-d’água para o PSDB deixar o governo. Preocupado com uma decisão nesse sentido, Temer procurou ontem, ao menos um dos governadores tucanos convidados por Alckmin para o encontro em São Paulo. O peemedebista pediu apoio para manter a sigla no governo. Marconi Perillo (GO) foi o único a confirmar presença no encontro até ontem à noite.
Há cerca de um mês e meio, Alckmin, FH, Doria e Tasso estiveram reunidos na capital paulista para discutir a mesma questão. Na época, eles concordaram, mesmo indo contra a ala do partido que já pregava o desembarque, que era preciso manter o apoio a Temer para garantir as reformas trabalhista e da Previdência no Congresso. De lá para cá, a crise política se agravou, e a pressão pelo fim do apoio a Temer tem beirado o insustentável no PSDB.
O líder do PSDB na Câmara, Ricardo Trípoli (SP), afirmou ontem que há uma tendência majoritária para sair do governo e votar pela aceitação da denúncia contra Temer.
— A cada dia tem mais ingredientes. Hoje, de forma majoritária, a bancada pretende sair do governo e votar a favor da denúncia. Uns até ficam chateados, mas como líder eu tenho que refletir a maioria da bancada — diz Trípoli.
Ele afirmou que a reunião de hoje é mais um passo dentro do que ficou acertado de manter um monitoramento constante sobre a evolução da situação do governo. Há a expectativa também de decisão sobre se haverá uma convenção para substituir o senador Aécio Neves (MG) na presidência da legenda.
Sinal de que a pressão pelo desembarque cresceu no PSDB foram declarações dadas na semana passada por caciques da legenda, como Tasso e o senador Cassio Cunha Lima. Pela primeira vez, eles consideraram publicamente a possibilidade de o governo Temer estar perto de seu fim.
— Podemos estar diante do início do fim com a posição do relator do PMDB porque Temer não tem nenhum apoio popular — afirmou Cunha Lima.
No dia anterior, Tasso disse que o país estava “chegando na ingovernabilidade” e sugeriu que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reuniria as condições necessárias para promover estabilidade no país.
— Rodrigo Maia tem condições de juntar os partidos ao redor de um nível mínimo de estabilidade que o país precisa. Estamos chegando na ingovernabilidade e tem que haver agora um acordo para dar estabilidade mínima para se chegar a 2018 — afirmou Tasso.
FH também mudou de opinião e, desde junho, tem pedido a renúncia de Temer. Ele também passou a defender a antecipação de eleições diretas. A proposta de uma eleição antes de outubro de 2018, entretanto, não encontrou eco no partido. Pelo contrário, em Brasília, os tucanos parecem cada vez mais convencidos de que a saída é apoiar um mandato-tampão de Rodrigo Maia.
AGUARDAR O FIM DAS REFORMAS
Na colcha de retalhos em que se traduz o PSDB hoje, Alckmin e Doria lideram uma outra vertente, a dos que flertam com a manutenção do apoio ao governo em nome da aprovação das reformas. Ontem, eles repetiram o discurso.
— Hoje é preciso aguardar o término das reformas. Depois disso vejo que não há nenhuma razão para o PSDB participar do governo — disse Alckmin.
Doria enfatizou:
— Eu não defendo que o PSDB se mantenha no governo. Eu defendo que o PSDB tenha o olhar para o Brasil, em como fazer para que as reformas continuem. Pode até ser sem ficar no governo, acho que essa é uma questão do debate.
Com planos de concorrer à Presidência da República, Alckmin não tem simpatia por um mandato-tampão de Maia. O deputado poderia se tornar um candidato natural ao Planalto e concorrente de peso em 2018. Uma eleição antecipada, por outro lado, poderia colocar Doria no caminho de Alckmin, uma vez que o prefeito aparece hoje melhor posicionado do que o governador nas pesquisas de intenção de voto. Para ser o escolhido dentro do PSDB, Alckmin aposta numa construção de apoio multipartidário que vem conduzindo silenciosamente, e isso demanda tempo.
Aécio e ministros do PSDB como Aloysio Nunes Ferreira (Relações Internacionais) também apoiam a permanência no governo.
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