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PSDB não pode se deixar levar ao sabor dos ventos, diz novo governador do RS

Estelita Hass Carazzai, Folha de S. Paulo

Governador do Rio Grande do Sul e mais jovem mandatário estadual a tomar posse neste mês, Eduardo Leite, 33, diz que o PSDB deve manter sua posição social-democrata e “não se deixar levar ao sabor dos ventos”, mas defendeu um debate interno sobre ética e temas comportamentais como aborto, armamento e casamento gay.

Para ele, o partido precisa promover um realinhamento programático, além de punir e afastar envolvidos em corrupção, se quiser se reconectar com a população.

“O partido não pode jogar esses problemas para debaixo do tapete”, afirmou, mencionando as investigações contra o senador Aécio Neves. “Que faça autocrítica, que puna, que expulse quem tiver que ser.”

O sr. afirmou, em seu discurso de posse, que a social-democracia não morreu, “ao contrário do que dizem por aí”. Quem diz? A quem foi dirigido esse recado? Tudo na imprensa tem que ser recado para alguém [risos]. Na verdade, não é um recado. Há uma leitura de que a última eleição não foi favorável para o PSDB. Reduziu-se o número de deputados federais, de governadores. De fato, não foi uma eleição boa para o partido.

Mas, ao contrário do que alguns analistas dizem, o PSDB e a social-democracia não estão fragilizados, porque o eleitorado antipetista, que antes era eleitor do partido, acabou achando uma outra representação, no próprio PSL e no presidente Bolsonaro.

Eu acho que a social-democracia —que é o programa, do ponto de vista ideológico, que me representa, que reconhece o mercado e a iniciativa privada como importantes na geração de riqueza, mas também a importância do Estado para proteger especialmente os mais vulneráveis— continua viva. E terá, no nosso governo, a sua representação.

O sr. já declarou que o PSDB precisa “se reencontrar com suas bases”. Como fazer isso, diante de um antigo eleitorado que aderiu a Bolsonaro? Eu entendo que essa inclinação [do eleitor em apoio a Bolsonaro] foi uma resposta ao período de profunda recessão na economia brasileira. E ainda tivemos um revés muito grande, que foi a grande frustração com o que se deu com relação ao senador Aécio Neves, que foi nosso candidato à Presidência.

O eleitor se deparou com, de um lado, ex-presidentes e o PT envolvidos em escândalos de corrupção e, de outro lado, o candidato que estava no segundo turno e era a alternativa [em 2014] também envolvido em denúncias muito graves. Isso abalou a confiança no próprio partido.

O PSDB precisa resolver essas questões internamente. Vai ter que discutir. O senador Tasso Jereissati, quando estava na presidência do partido, havia dado início a um processo de autocrítica, de atualização de ferramentas, inclusive com compliance.

Vamos ter que atualizar a própria governança do PSDB, dando mais participação das bases na condução dos destinos do partido. Isso é uma forma de se aproximar da população, que quer enxergar uma alternativa a tudo que viu de errado na política nacional.

O partido precisa aprimorar sua prática interna. Mas, do ponto de vista programático, o PSDB tem um programa adequado para o país, social-democrata, que reconhece a iniciativa privada, mas também a importância de um Estado que atue como fiscal.

Mas, diante de um cenário em que a maior parte da população optou por um presidente inclinado à direita, defender o ideário social-democrata basta para se reconectar com a população? Um partido tem que ser firme nas suas convicções programáticas. O que não significa ser imutável, não reconhecer a mudança dos tempos.

Mas ele não pode se deixar levar ao sabor dos ventos. Agora, se a população for mais à esquerda, nós vamos à esquerda; se não, vamos à direita? Não. Nós temos uma posição, a da social-democracia, com um posicionamento muito claro em relação à iniciativa privada e ao papel do Estado.

Eu acho que o ideário tem que se manter, e devem se aprimorar as ferramentas de relacionamento. Eu entendo que foi aí, e não na questão programática, que a população se desconectou do partido. Na verdade, foi o partido que se desconectou da população.

[O PSDB precisa] dar resposta clara em relação a desvios de comportamento de seus membros, especialmente de sua liderança. O partido não pode jogar esses problemas para debaixo do tapete, ou fingir que não é com ele. Tem que chamar essa discussão internamente, dar respostas claras em relação a isso.

É isso que a população deve enxergar: um partido vivo, orgânico, e não com comando centralizado e que se negue ao debate dos seus próprios problemas. Que faça autocrítica, puna, expulse quem tiver que ser expulso, mas que tenha processos fortes de debate sobre conduta ética.

Faltou isso em relação ao senador Aécio Neves? É muito claro que faltou. Sem dúvida nenhuma.

O sr. vê alguma possibilidade de o PSDB se inclinar mais à direita? A gente tem que ter cuidado com o que é rotulado como esquerda ou direita. Como se cultura fosse um tema da esquerda, e eficiência administrativa, um tema da direita. Cultura não é exclusividade da esquerda.

Assim como privatização não pode ser um tabu. Então, eu fujo desses rótulos. Acho que temos que ter governos que funcionem.

Agora, é claro, eu acho que o PSDB precisa de um processo de alinhamento programático. Em função de novas pautas que são colocadas no cenário nacional, em função deste movimento nacional que elegeu Bolsonaro. Para que a gente tenha um pensamento alinhado entre os membros do partido.

Não quer dizer que todo mundo tenha que pensar absolutamente igual em tudo. Mas, para que a população possa se reconhecer no partido, o partido tem que ter uma identidade clara. Por exemplo, pautas como aborto, questões ligadas à união de pessoas do mesmo sexo, armamento… Tudo isso precisa ser discutido, sem perder o foco de que o país precisa dar prioridade à pauta econômica, para superar a crise.

O sr. acha que o PSDB deveria assumir posicionamento em relação a esses temas comportamentais, como aborto ou armamento? O PSDB precisa estar, no mínimo, disposto a promover esse debate. A sociedade está discutindo esses temas. O partido não pode querer não discutir.

O sr. defende algum ponto de vista específico? Prefiro que o partido faça o seu debate para, depois, expormos um posicionamento maduro.

EDUARDO LEITE
Ex-prefeito e ex-vereador de Pelotas, terceira maior cidade do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), 33, foi eleito governador com 53% dos votos válidos em um segundo turno contra o ex-governador José Ivo Sartori (MDB). É filiado ao atual partido desde os 16 anos

link entrevista
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