Do Blog do Josias de Souza
Ao discursar num evento preparatório para as eleições municipais, em Embu das Artes (SP), o presidente do PT federal, Rui Falcão, aproveitou para alvejar a imprensa. “O poder da mídia, esse poder nós temos de enfrentar”, disse ele, a alturas tantas.
Falcão informou que, depois de levar os bancos à alça de mira em sua cruzada contra os juros altos, Dilma Rousseff prepara-se para mover a infantaria do governo na direção dos veículos de comunicação.
“Este é um governo que tem compromisso com o povo e que tem coragem para peitar um dos maiores conglomerados, dos mais poderosos do País, que é o sistema financeiro e bancário”, disse Falcão, em timbre bélico.
Acrescentou que o governo “se prepara agora para um segundo grande desafio, que iremos nos deparar na campanha eleitoral, que é a apresentação para consulta pública do marco regulatório da comunicação.”
Deve-se o relato aos repórteres Guilherme Waltenberg e Daiene Cardoso. A dupla conta que Falcão acomodou bancos e meios de comunicação no mesmo caldeirão: “A mídia é um poder que está conjugado ao sistema bancário e financeiro.”
Tratou a imprensa como antagonista do petismo: “É um poder que contrasta com o nosso governo desde a subida do Lula, e não contrasta só com o projeto político e econômico. Contrasta com o atual preconceito, ao fazer uma campanha fundamentalista como foi a campanha contra a companheira Dilma.”
Evocando a campanha presidencial de 2010, Falcão disse que a mídia “saiu dos temas que interessavam ao país para recuar no obscurantismo, na campanha de reforço da direita que hoje está sendo exposta aí, inclusive agora, provavelmente nas próximas duas semanas com a nomeação dos sete nomes da Comissão da Verdade que vai passar a limpo essa chaga histórica que nós vivemos.
Para Falcão, a imprensa “produz matérias e comentários não para polarizar o país, mas para atacar o PT e nossas lideranças.” Foi nesse ponto que pronunciou a frase já reproduzida lá no alto: “O poder da mídia, esse poder nós temos de enfrentar.”
O fetiche do PT e do seu presidente é o projeto que cria o “marco regulatório das comunicações”. Elaborada na gestão Lula, sob a coordenação do então ministro Franklin Martins (Comunicação Social), a peça prevê o “controle público e social” da mídia. Dilma Rousseff cozinha a proposta em banho-maria.
Pouco depois de tomar posse, a sucessora de Lula incumbiu o ministro petê Paulo Bernardo (Comunicações) de revisar o texto, livrando-o de artigos que possam denotar o interesse em censurar ou controlar o conteúdo de reportagens. Desde então, o governo retarda o envio da encrenca ao Congresso.
Tomando-se Falcão a sério, Dilma estaria na bica de desengavetar a polêmica. E o faria em operação casada com a investida contra os bancos. Tudo isso em meio à campanha municipal de 2012. Ou seja: antes de outubro.
Ecoando um desejo que coincide com a vontade de Lula, Falcão disse que a atuação da imprensa será perscrutada também na recém-instalada CPI do Cachoeira: “Essa CPI vai desvendar quais são os caminhos de ligação com esses contraventores nos setores da mídia brasileira.”
Injetou o amigo-senador de Cachoeira no discurso: “Esse fariseu, que é o senador Demóstenes Torres, é apresentado pela imprensa como sem partido, mas vamos nos lembrar sempre que até um mês atrás ele era senador do DEM.”
Vocalizada por Falcão, a ira do PT contra a imprensa aumenta na proporção direta da aproximação do julgamento no STF do processo do mensalão. Ou, no dizer de Lula e Cia., “a farsa do mensalão”.
A irritação é compreensível. O suicídio é uma coisa íntima. Ao noticiar os descalabros descobertos depois que Roberto Jefferson levou os lábios ao trombone, em 2005, a imprensa como que avisou ao PT que a legenda adotara comportamento suicida.
Os jornalistas terminaram se metendo na vida do PT –ou na morte dele. Informaram que, ao adotar o modelo valeriano de exercício do poder, o partido de Lula revelara uma tendência para a autodesmoralização.
As palavras de Rui Falcão, indicam que a atuação da imprensa agravou a situação, potencializando os instintos autodestrutivos do petismo. O PT não é mais o PT. Virou um ex-PT. Mas não convém dizer isso em voz alta. Aí mesmo é que os companheiros atearão fogo às vestes.
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