O deputado federal Marcos Montes (à esquerda) preside a comissão especial da Câmara que avalia mudanças no Estatuto do Desarmamento
O deputado federal Marcos Montes (PSD-MG), presidente da comissão especial na Câmara Federal que aprovou a revogação do Estatuto do Desarmamento, recebeu doações de empresas da indústria de armas para sua campanha à reeleição. Outros quatro deputados da comissão também foram eleitos com a ajuda financeira do setor.
Montes recebeu no ano passado R$ 15 mil da empresa Taurus, a maior fabricante de armas de fogo no país e uma das maiores do mundo, e mais R$ 15 mil da CBD (Companhia Brasileira de Cartuchos), fabricante brasileira de munição e armas. Os dados constam na prestação de contas feita pelo deputado ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
De acordo com o TSE, a Taurus doou R$ 870 mil nas eleições do ano passado. Cerca de 70% desse valor foi para 31 candidatos e o restante para cinco comitês e diretórios partidários.
A CBC desembolsou mais de R$ 1 milhão. Em torno de 60% do montante foi destinado para 22 candidatos e a outra parte para quatro comitês e diretórios.
A Aniam (Associação Nacional da Indústria de Armas e Munições), que representa as duas empresas, informou, por meio de nota, que “as doações feitas a parlamentares seguem todas as normas e exigências estabelecidas pelo Tribunal Superior Eleitoral e aos princípios preconizados pela Constituição Federal”.
Mudanças no estatuto
Montes foi um dos 19 deputados que votaram a favor do texto-base do relator Laudivio Carvalho (PMDB-MG), que altera o Estatuto do Desarmamento, começando pelo nome, que passaria a se chamar ‘Estatuto de Controle de Armas de Fogo’. Oito deputados foram contrários à proposta.
Entre as alterações sugeridas, estão a redução da idade mínima para a compra de armas de fogo de 25 para 21 anos; extensão do porte para deputados e senadores e a autorização de posse e porte para pessoas que respondem a inquérito policial ou processo criminal na Justiça.
Aprovada na comissão especial, a matéria precisa ser avaliada e votada no plenário da Câmara, ainda sem data definida. Caso seja aprovada na Casa, a proposta terá de passar pelo Senado.
A lei atual determina que, para ter porte de arma, é preciso “declarar a efetiva necessidade”, não ter antecedentes criminais e não responder a inquérito policial ou a processo criminal.
A legislação autoriza o porte em casos específicos, como a integrantes das Forças Armadas, policiais militares, civis, federais e rodoviários federais, guardas prisionais, guardas civis municipais, funcionários de empresas de segurança privada, além de membros de Justiça e do Ministério Público.
De acordo com especialistas, o Estatuto do Desarmamento, em vigor desde 2003, ajudou a diminuir a quantidade de homicídios cometidos com armas de fogo no país.
“É assim que nós trabalhamos”
Marcos Montes afirmou ao UOL que essas doações que recebeu foram legais, comprovadas e que correspondem a 1% do que arrecadou em sua campanha. Ele informou que gastou R$ 3,2 milhões nas eleições do ano passado.
“Eu acho que, independente de ser ajudado por eles [indústria de armas e munição] ou não, estou junto com a maioria da sociedade que quer fazer uma flexibilização do estatuto [do Desarmamento]”, falou.
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