Ogier Buchi
Li recentemente um depoimento, no jornal Folha de S. Paulo, que me deixou mais indignado ainda do que já sou. Na matéria, a repórter observa que há duas camas de criança em um dos aposentos de uma casa modesta, e pergunta a Alida La Cruz, uma senhora de 78 anos de idade, se são de seus netos. Alida, uma professora aposentada, responde: “Não. São dois filhos de uma amiga que morre de desnutrição. Ela não comia para poder alimentá-los. E eu fiquei com eles porque não queria que eles fossem para um orfanato o governo iria separá-los”.
Os momentos mais difíceis de uma vida também são os momentos que melhor definem o caráter e a personalidade de uma pessoa. Alida, esta ex-professora septuagenária, teve uma de suas pernas amputadas por causa da diabetes e da falta de recursos na saúde da Venezuela. E, mesmo assim, não hesitou em abrigar duas crianças para a sua casa, porque sabia que o mesmo governo irresponsável, que deixou a Venezuela em situação de pleno caos, não hesitaria em separar dois irmãos pequenos que recém-perderam sua mãe.
Venezuela, nosso país vizinho, cuja inflação baterá, segundo o FMI, a marca de 13.000% ao ano. Segundo a Anistia Internacional, metade dos hospitais venezuelanos deixou de funcionar, a carência de medicamentos já está na ordem dos 80% a 90% e, outro dado que me feriu a alma, a mortalidade infantil aumentou em mais de 30% entre 2015 e 2016. Porém, mais do que estatísticas, cujas porcentagens frias não revelam a história por trás de cada número, me dói saber que a história de Alida La Cruz, 78 anos de idade, e as crianças órfãs que acolheu humanitariamente em sua casa, é apenas uma dentre tantas tragédias que estão minando as forças e as esperanças de toda uma nação.
Quando vejo estas notícias, somadas com as imagens de milhares de venezuelanos que, abandonados covardemente pelo regime de Nicolas Maduro, reeleito mais uma vez de forma fraudulenta, eu realmente não consigo conceber como é que ainda existem pessoas capazes de defender este governo que está matando seus compatriotas de fome e falta de remédios. E vocês sabem como toda esta tragédia humanitária começou? Por causa de uma ilusão vendida por um governo esquerdista, que nacionalizou setores como aço e cimento, expropriou centenas de empresas, subsidiou importações e simplesmente exterminou a indústria local. E assim, graças à irresponsabilidade de populistas baratos como Hugo Chávez e Nicolás Maduro, os gastos públicos dispararam, o PIB despencou 45% desde 2013, a Venezuela tornou-se extremamente dependente de importações por causa do esfalecimento dos empresários e empreendedores locais, e milhares de pessoas desamparadas estão se refugiando na Colômbia e no Brasil em busca de condições mínimas de vida. Tudo por causa de uma ilusão bolivariana.
Eu fico extremamente abalado com esta tragédia humanitária acontecendo em nosso continente. As epidemias de malária e difteria, que estão assolando a Venezuela desde o final de 2016, já estão causando vítimas no território brasileiro. Remédios simples como antibióticos, anti-inflamatórios e insulina, são artigos raros na terra de Nicolás Maduro. A quantidade de venezuelanos vivendo na pobreza, que era de 48,4% em 2014, saltou para assombrosos 87% em 2017.
O que mais me estarrece, contudo, é ver que o governo autocrático e populista que assumiu o poder desde a primeira posse de Hugo Chávez, em 1999, nega a existência de qualquer crise. Em vez de assumir os repetidos erros, diz que os problemas são culpa da mídia, da oposição e dos maus empresários. Todo esse lero-lero não faz a gente se lembrar de certa gestão que, no Brasil, fez com que mergulhássemos na atual crise econômica? Como é possível conceber que, diante de tantas mazelas que impactam principalmente a camada mais pobre da população venezuelana, ainda há militantes abilolados capazes de defender figuras tão incompetentes e despreparadas como Nicolás Maduro?
Não, não podemos deixar que o nosso país corra novamente o risco de cair em falácias populistas. E muito menos permitir que os mais de 26 milhões de idosos brasileiros corram o risco de viverem a mesma situação de Alida La Cruz. Nós, cidadãos brasileiros, precisamos aprender com os erros do nosso vizinho de fronteiras, e evitar, de vez, o risco de nos tornarmos a próxima Venezuela.
Ogier Buchi, advogado e jornalista, pré-candidato a deputado estadual pelo PSL
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