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Pouco mais de um minuto a mais no horário eleitoral gratuito. Esta é a principal razão pela qual o PT repetirá o gesto de dois anos atrás e voltará a apertar a mão do antigo rival Paulo Maluf (PP) publicamente nesta sexta-feira (30). Desta vez o cumprimento partirá do ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, pré-candidato do PT ao governo de São Paulo.
Ao contrário do que fez há dois anos com Lula e Fernando Haddad, então candidato à prefeitura, agora Maluf não fez questão que o estafe petista fosse até sua mansão nos Jardins, área nobre da capital paulista, para selar a união. O encontro que oficializará o apoio do PP de Maluf a Padilha será realizado na Assembleia Legislativa do Estado e reunirá várias lideranças dos dois partidos.
A mudança de cenário agrada o PT: quando questionados sobre a aliança com Maluf, o ex-ministro e lideranças petistas repetem que não se pode “fulanizar” a política e argumentam que o apoio do PP em São Paulo é coerente com o arco de alianças que sustentam o governo de Dilma Rousseff no plano nacional. Para evitar a personalização da parceria, o ex-presidente Lula não deve aparecer no encontro de hoje.
No que depender das recentes declarações de Padilha, não se verá no ato desta manhã o mesmo constrangimento percebido em Haddad quando apertou a mão de Maluf. Nessa quarta-feira, perguntado desta vez também haverá foto com Maluf, o ex-ministro da Saúde respondeu: “Vai ter uma foto muito bonita com o PP e quem deve estar triste são aqueles que queriam o PP junto”.
Para a campanha petista, os cerca de 1m15s que o PP agregará ao tempo de televisão de Padilha são preciosos porque a coligação deve passar a ter mais tempo de televisão do que a de Geraldo Alckmin (PSDB). Até por estão razão, os tucanos se também buscaram o apoio de Maluf, mas foram preteridos.
Outro motivo que leva o PT a priorizar o tempo de TV e colocar questões programáticas em segundo plano é o fato de Padilha, a exemplo de Haddad, ser um desconhecido entre o eleitorado paulista.
A escolha deve trazer consequências. A primeira delas é o descontentamento da militância petista e do conjunto do eleitorado.
Em 2012, pesquisa Datafolha mostrou que 64% dos eleitores condenaram a aproximação entre os antigos inimigos. Entre os eleitores petistas, o percentual era praticamente o mesmo, 62%. Na época, aliança provocou uma grande baixa na campanha de Haddad, a saída da deputada federal Luíza Erundina (PSB-SP), que era vice na chapa.
Outra consequência do apoio é a distribuição de pastas e cargos aos pepistas, no caso de uma vitória de Padilha. Após a eleição de Haddad, o partido de Maluf assumiu a Secretaria de Habitação. Com meses de gestão, movimentos de moradia, muitos deles ligados ao PT, já demonstravam profunda insatisfação com a política habitacional do município e os protestos começaram a se multiplicar.
O setor da habitação, aliás, é assumidamente a menina dos olhos do partido de Maluf. No governo federal, o Ministério das Cidades, responsável pelo “Minha Casa, Minha Vida”, é lugar cativo do PP. No governo de SP, a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), foi presidida por um escolhido de Maluf durante a última gestão de Alckmin.
A aproximação de Maluf com o PT não é nova. A primeira vez que o deputado declarou apoio um petista foi em 2002, quando o PPB (a sigla mudou de nome) manifestou pediu voto a Lula no segundo turno da disputa presidencial e a José Genoino nas eleições para o governo do Estado. Na década de 90, foram os tucanos Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas que hegemonizaram os apoios do PP.
Nos anos 2000, Maluf apoiou Marta Suplicy em duas disputas à Prefeitura de São Paulo (2004 e 2008) e também à presidente Dilma em 2010. A diferença é que a partir de 2012 a relação passou apoiador a coligado e se concretizou “às claras”, em eventos públicos.
Além das vantagens políticas, Maluf aproveita para brincar com a situação, ainda hoje inusitada para muita gente. Já virou mantra de Maluf a frase “perto do Lula sou comunista”.
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